A Aldeia (XVII)

Era hora de novamente saírem para caça. Agora Auan queria ampliar o número de guerreiras na caçada, imaginava ir até a um lago onde ele pudesse ensinar às guerreiras as habilidades da pescaria com flecha. Resolveu levar Roan por ser forte e hábil no arco e flecha e também na lança. Ele parecia ser um guerreiro preparado nessas artes.
Enquanto os demais levantavam as paredes da casa,  que todos já chamavam  de palácio, Kally  seguia com o grupo composto por Auan, Roan, as duas irmãs, Caalebe e Caaleje, Marmah, Ewa, Aulah, Maab e Noen para fazer a pescaria, na qual as guerreiras seriam também treinadas.
 Na aldeia ficaram as demais guerreiras e os rapazes, sob a supervisão de Nwona. Até chegar ao lago era uma caminhada de duas a três horas, passando por dentro de floresta de mata alta  e de  savana.

Durante a ida encontraram um grupo de gnus, as irmãs se abaixaram e miraram as suas flechas num determinado animal mas Auan não permitiu que elas o alvejassem, porque iria abortar a missão, os gnus são muito pesados para serem transportados, vivem em grupos e são perigosos. Quando ameaçados voltam-se contra o inimigo com furor, defendem-se em bloco, a manada inteira se joga contra o agressor e o melhor que se faz é ignorá-los.
- Nós temos que nos ater em cumprir o programado, se fosse uma lebre ou um animal pequeno que nós pudéssemos matá-lo e comê-lo no decurso da nossa expedição, tudo bem, mas um animal desse porte, além de não podermos consumi-lo agora, nós nos exporíamos a um risco muito grande, nós temos que saber escolher nossas presas.
- Múcua, gritou Maab, indicando que num enorme baobá, existiam frutos pendurados. A árvore estava quase sem folhas, e no tronco de grande largura, saíam os galhos nus e nestes, pendiam as múcuas, frutos muito apreciados por homens, macacos e elefantes.
Resolveram fazer uma parada ali enquanto comiam as frutas. Bem perto dali existiam pés de lombulas com suas frutas parecidas com as nêsperas. As guerreiras encheram sacos dessa fruta e foram comendo pelo caminho.
Roan conversava com Auan, sempre escudado por Kally, que não o deixava só nem  por um instante. Auan, muito solícito, quando se dirigia a ela, a chamava de minha rainha, não se sabe, se na referência , havia uma ponta de deboche...
- Na minha tribo nunca caçamos ou pescamos, embora eu saiba pescar e caçar, quando queríamos carne, matávamos cabritos, mesmo sabendo caçar e pescar, para mim é uma experiência inusitada, disse Roan.
- Você nunca comeu carne de veado ou de lebre? Nem de galinhas?
- De galinhas e de lebres já comi, de veado, não.
Quando chegaram às margens do grande lago, o sal estava indicando que já passava das oito horas da manhã, Auan que imaginara que chegariam mais cedo, com a água ainda fria, que é da preferência dos peixes, disse:
- Os peixes já devem procurar o fundo, que as águas estão mais frescas!
Roan entrou com o arco e flecha na água, ficou imóvel com a arma preparada, e assim esteve por bastante tempo, até que um peixe chegou bem perto e a flecha saiu e fisgou-o. Tinha uns três palmos de comprimento, e logo que foi fisgado, adernou e não mais nadou. Ele mergulhou e voltou com ele nas mãos.
As guerreiras que observavam bateram palmas, e Auan chamou a atenção, pediu silêncio para não espantar os peixes, e pediu a Roan que ele explicasse a técnica para suas guerreiras.
Depois foi a vez de Maab ficar imóvel e fisgar o peixe, mas ai veio a decepção, porque ele não morreu de imediato e ficou se debatendo e ela se amedrontou ao retirá-lo da água.
Depois das explicações de Roan, as outras guerreiras também pescaram com sucesso e Auan ficou entusiasmado. Kally conseguiu fisgar um pintado enorme, de quatro palmos e ficou exultante. Voltaram para casa com os balaios cheios de peixes...