A Aldeia (XVI)
- Malec, nunca imaginei na minha vida ter uma noite assim...
- Nem eu...
- Porque?
- Tive que me revezar a noite inteira para satisfazer às quatro mulheres insaciáveis...
- A mesma coisa aconteceu comigo, deitaram duas, depois elas saíram e deitaram outras duas...
- Nós vamos ter que por ordem na casa, senão nós não vamos aguentar...
As guerreiras estavam eufóricas, ficaram reunidas em grupinhos comentando os acontecimentos noturnos, elogiando o desempenho dos parceiros, fazendo as contas para a noite seguinte.
Kally também comentou com Auan os acontecimentos noturnos, porque numa mesma casa de um só cômodo, estavam ela, Auan, alguns idosos e Roan com as suas quatro mulheres, e ela ouvia os movimentos de mexe e remexe, deita e levanta e os ruídos que vinham do outro canto do quarto.
- Auan, temos que fazer logo a nova casa, é impossível dormir com os movimentos e ruídos que as mulheres estão fazendo...
- Eu vou providenciar logo para fazermos a nova casa.
Realmente Auan logo providenciou uma reunião com os quatro jovens e quis saber deles se alguém saberia construir uma casa.
Malec perguntou se ele tinha ideia da casa que ele queria e ele lhe respondeu:
- Tenho uma ideia inicial de uma casa com duas entradas, uma para um cômodo onde morariam os anciãos e o outro para mim, tendo uma cozinha comum, e que ficasse longe do cheiro dos bodes...
Todos riram, e Malec pegando um graveto, fez um desenho no chão, mostrando a sua concepção da casa, e Auan tendo aprovado, todos foram para o lado de fora para opinarem pela melhor localização do novo palácio real.
Depois de escolhida a localização da casa, Roan perguntou a Auan onde podiam encontrar pedras, barro de liga e fibras para serem colhidas e secadas previamente e Auan ficou de sair com ele para lhe mostrar os locais onde encontrar os materiais.
Quando voltavam para a aldeia, Malec retirou do bolso sua flauta e começou a tocar músicas folclóricas, de tal modo fascinado ficou Auan, que também começou a cantarolar e entraram na aldeia a cantar em alto e bom som. Logo as crianças rodearam Malec, que ficou tocando para elas por bom tempo.
- Quem quer aprender música? perguntou Malec.
Um menino e uma menina se interessaram, ele lhes mostrou os sons que conseguia fazer com o instrumento e depois foi até dentro de uma das casas, apanhou o tambor e começou a tirar sons, pedindo a cada um que marcasse o ritmo enquanto ele tocava.
Quando ele se preparava para sair, chegaram as suas mulheres e ele recomeçou a bater no tambor enquanto elas dançavam, depois pediu que Isaac assumisse o tambor e ele começou a tocar a sua flauta, enquanto as mulheres dançavam.
Auan observava de longe e comparava a mudança que houve em dois dias, na aldeia. Antes as mulheres estavam irritadas e agressivas, agora alegres, exalando felicidade.
- ( Não foi só o sexo, essa mudança veio também pelo contágio dessa alegria que esses rapazes são capazes de transmitir...)
O balde descia preso a uma corda, se enchia de água e era puxado por uma das mulheres, a água do balde era transferida para as tinas, onde eram usadas nas casas. O poço estava exatamente entre a segunda e a terceira casa, num ponto equidistante entre a primeira e a quarta. Quando se construísse a quinta casa, pela condição de estar longe do cheiro dos bodes, o poço ficaria muito distante, obrigando um esforço despendido para buscar a água, muito grande. Então Malec teve a ideia de construir um segundo poço que serviria para ser usado quando se construísse a nova casa. foi assim, que antes de se iniciar a construção da nova casa, primeiro cavoucaram para abrir um novo poço. No futuro, quem sabe, talvez fosse preciso se abrir um terceiro, junto ao cercado das cabras.
A felicidade não pode ser aprisionada, ela se expande, se mostra, aparece, transparece.
Era assim na aldeia Van, todos queriam mostrar estar felizes, e demonstravam esse bem estar nas pequenas coisas, todos trabalhando, se ajudando, construindo a casa num mutirão, onde trabalhavam homens, mulheres, crianças, anciãos, o rei e os plebeus...
Durante o dia a faina tomava conta de todos, à noite, as mulheres rodeavam os seus homens, agora cada uma dentro da sua vez, em ordem, o cantinho do quarto era o sagrado local dos amantes. Os homens haviam combinado que na primeira semana satisfariam a duas mulheres por noite, e depois se disponibilizariam a uma por noite. Elas que se organizassem e se apresentassem, não poderia haver favoritismo, pelo menos na aparência...
Auan dormia no cantinho com sua rainha Kally, não sentia inveja dos jovens. E ela, sentiria inveja das outras mulheres?