A Aldeia (XV)
Auan sentiu-se envaidecido por ter sido aclamado rei, ele sabia que era um reinado que só iria lhe trazer problemas, mas onde ele era o rei.
Assim que assumiu, chamou Kally para se interirar da situação. E ela lhe relatou:
- Chegamos na aldeia e fomos muito bem recebidas, as senhoras que nos receberam quando foram informadas de que queríamos cabras, nos levaram para conversar com os donos das cabras, e a Aulah, conversando com um rapaz solteiro, dono das cabras, perguntou-lhe se ele queria vir para aqui cuidar de quatro mulheres, porque as mulheres daqui não tinham homens. Ele aceitou e ela impôs uma condição, que ele trouxesse como dote, três cabras e um bode. Foi assim que trouxemos conosco quatro homens, doze cabras e quatro bodes.
No caminho um deles me perguntou se nós tínhamos um rei, e então eu o imaginei como o nosso rei, e eu como rainha...
- Muito bem, alteza, o que está feito, feito está...
Então você está incumbida de distribuir os homens, cada um vai morar numa casa, cada um deles vai cuidar de quatro mulheres, certo?
- Certo!
- Então como só temos quatro casas, vamos ter de providenciar a construção de mais uma, a nossa casa, o palácio real!
- Que seja bem longe do cheiro dos bodes!
- Assim será, minha rainha!
Auan quis conversar com Ewa, Marmah e Aulah, para saber da versão delas. Como elas praticamente repetiram o relato de Kally, ele lhes informou que tinha incumbido Kally de se reunir com as guerreiras para buscar a distribuição de mulheres entre os homens de modo que satisfizesse a todos. Assim cada homem deveria morar com suas mulheres numa mesma casa, mas como só haviam quatro casas, ele queria fazer mais uma onde ele moraria com a Kally e os anciãos.
- Será o palácio real, perguntou Marmah.
- Auan riu e respondeu:
- Porque não?
Auan depois convocou os quatro homens, queria conhecer melhor cada um deles. Olhou bem para cada um deles e lhes disse:
- Digam-me seus nomes.
- Roan, majestade!
- Ormec.
- Isaac, senhor!
- Malec, às suas ordens!
Auan quis saber se além de criadores de cabras, tinham outras habilidades.
Roan, o mais falante, se adiantou e disse:
- Meu pai me ensinou artes marciais e atividades corporais.
- O que você quer dizer com atividades corporais, Roan?
- Ginástica, correção de doenças musculares, lutas e jogos.
- Você nos será muito útil. Vamos precisar muito das suas atividades corporais. E você , Ormec, não é esse o seu nome?
- Sim, senhor, eu aprendi a plantar e a colher.
- E o que você planta?
- Raízes, fruteiras, plantas medicinais... Sei entrar na floresta e colher mudas de plantas aromáticas, medicinais, alimentícias.
- Que bom, você também nos será muito útil, poderá ensinar sua técnica aos nossos meninos e meninas.
- E você, Isaac, conhece alguma outra atividade?
- Eu sou músico e poeta.
- Ora, temos aqui um artista, que bom... Você está intimado a nos mostrar seus dotes artísticos e também terá muito a nos ensinar!
- E o jovem, ai, qual é mesmo o seu nome?
- Malec.
- Malec... Isso mesmo, desculpe a memória desse velho, mas nunca mais esquecerei seu nome... Então Malec, fale dos seus dotes...
- Eu pouco sei, senhor, mas gostaria muito de aprender com o senhor, porque percebi que vossa Majestade é um sábio.
- A humildade é um dom, Malec, e os humildes mais ensinam do que aprendem... Nós teremos muito a conversar!
Auan discorreu com eles sobre o tema de relacionamentos, mostrando que saber bem se relacionar é uma arte, e que eles teriam que exercer essa arte, porque teriam quatro mulheres com quem conviver, cada uma pensando de um jeito, agindo de um forma, com personalidades próprias, mas que todas tinham qualidades, e com certeza, todas teriam muito a aprender e eles também teriam muito a aprender com elas.
Que era a hora deles mostrarem suas habilidades da paciência, da tolerância, da arte de ouvir e de se calar, sendo verdadeiros maestros de uma orquestra, sempre elogiando e exaltando qualidades em público, e se tivessem de fazer críticas, que as fizessem na intimidade.