A Aldeia (XIV)
 
As guerreiras estavam retornando para a aldeia Van felizes da vida, cada uma com o seu homem do lado, conversando sorridentes, algumas abraçadas neles, outras ao lado, conduzindo as doze cabras e quatro bodes. A única que se mostrava recatada ao lado do seu par, era Kally.
Quando pararam em baixo de um baobá para descansarem, ela alegando estar com dor de cabeça ficou à parte, pensativa, mas depois se juntou ao seu grupo e começou a conversar com o seu par, um negro brilhoso de grandes olhos, que se admirava com o que ela dizia. As outras, sem ouvir, ficaram curiosas para saber , mas viam nele o olhar admirado e respeitoso para com ela.
Lá pelas tantas, Ewa chegou perto de Marmah e de Aulah e perguntou:
- Não é melhor a gente dividir cada homem por quatro mulheres?
Assim mesmo ainda vai faltar homem para duas, mas se considerarmos que a Kally escolheu ficar com Auan, só vai faltar homem para uma... Assim a gente pode negociar para cada um deles, ficar com mais uma durante a semana, poderemos fazer um rodízio, até mesmo para a Maret que não quis ficar como guerreira. O que vocês acham?
- Por mim tudo bem, disse Aulah, eu não sou ciumenta...
- Por mim também está certo, eu também não sou ciumenta, disse Marmah, rindo...
Durante a viagem os homens trocavam palavras entre eles, e as guerreiras notavam que todos eles olhavam ou se dirigiam para Kally com uma certa reverência. E Kally levantava a cabeça e os ombros mostrando uma altivez que nunca tinha tido.
Seguiram passando por montes e vales até chegar à mata de muitos arbustos e árvores de pequeno porte, lugar preferido pelos elefantes, zebras e girafas e além passariam por uma planície rochosa, infestada por leões e varas de javalis, e passagem dos veados que iam buscar a água mais adiante.
Passar por aquele último trecho junto com as cabras berrando, sem parar, era como convidar os leões para um banquete. Mas as guerreiras estavam a postos com suas lanças, prontas a defender o grupo.
O sol avermelhava o horizonte e elas ouviram os urros dos leões ao longe, mas seguiram sem parar e finalmente chegaram à aldeia Van.
 
Quando foram entrando na aldeia, as outras mulheres rodearam o grupo, admiradas por vê-las acompanhadas pelos quatro homens , as cabras e os bodes. As crianças ao verem as mães fizeram um enorme alarido, e desperto pelo barulho, Auan se levantou e veio ver o que acontecia.
Quando ele chegou perto do grupo, Kally olhou para o seu acompanhante e lhe disse:
- É ele!
O homem abaixou a sua cabeça em frente a Auan, em sinal de reverência e lhe saudou:
- Salve, senhor rei!
Os outros também seguiram o primeiro e também disseram :
- Salve, senhor rei!
Auan, atônito, sem saber do que se passava, também flexionou a sua cabeça em cumprimento, enquanto Kally iniciava o coro, acompanhada inicialmente pelas crianças:
- Auan é o nosso rei! Auan é o nosso rei! Auan é o nosso rei!
As demais guerreiras que tinham um profundo respeito por Auan, também aderiram ao coro:
- Auan é o nosso rei! Auan é o nosso rei! Auan é o nosso rei!
Assim, por uma manobra de Kally, Auan foi aclamado o rei do povo Van, e ela, naturalmente a rainha!