A Aldeia (XIII)
Na aldeia Van, durante a noite, as cabras berraram e as guerreiras que faziam a vigilância noturna tocaram o sino, todas as demais guerreiras, apavoradas, foram para os seus postos, as idosas passaram a tocar os tambores para liberar as outras jovens para assumir seus lugares, sabia-se que haviam leoas nas redondezas mas elas não atacaram , nem ninguém mais conseguiu dormir.
Auan sentiu que não era o momento propício para ter liberado suas guerreiras para aquela aventura, elas tinham ido muito longe para comprar cabras, e logo duas guerreiras que eram líderes, a Mormah e a Ewa.
Mas o que mais o incomodava realmente é que ele não tinha dito não, porque entre elas estava a Kally. Ele se sentia ameaçado com a relação que manteve com ela, a Kally se revelou uma pessoa que não tinha equilíbrio emocional, era capaz de ir às últimas consequências para defender a sua opinião, e ele se recriminava por ter se deixado levar pelas circunstâncias, tendo mantido um romance com uma pessoa assim tão difícil.
Agora, para romper essa relação, ela era capaz de deixá-lo mal perante as outras guerreiras e possivelmente ele perderia a liderança sobre elas.
Quando as quatro chegaram na aldeia, as mulheres as receberam com a maior simpatia e ao saber de suas intenções de negociar cabras, suas atenções foram maiores ainda. Elas disseram que tinham ido porque seus maridos não estavam na aldeia, e ainda demorariam a voltar, porque as negociações dessa espécie sempre eram ocupações masculinas.
Como já era tarde para ver o rebanho de cabras, elas deixaram essa providência para o dia seguinte, mas queriam conversar com os homens para saber detalhes da raça das cabras, a disponibilidade de fêmeas, cabritos e bodes, e os preços, naturalmente.
Em realidade elas não queriam nada disso, queriam jogar seus charmes sobre os negociadores e em vez de comprar cabras, queriam conquistar os donos das cabras.
Aulah era uma mulher muito diferente das outras três, tanto na fisionomia quanto no comportamento. Era quieta e compenetrada, quando conversava com alguém olhava diretamente nos olhos daquele com quem falava e transmitia sinceridade. Ao lado de tudo isso ela chamava a atenção por seu porte altivo, num corpo cheio de carne, mas sem gordura, demonstrando tanto força física como interior.
Ela ficou conversando com um dos donos das cabras e logo o interlocutor se encantou pelo seu jeito de abordar os fatos, de uma forma direta e franca, sem rodeios.
- Qual é mesmo o seu nome?
- Roan, e o seu?
- Aulah...
- Você cria cabras ha muito tempo, Roan?
- Desde criança.
- Então tem muito a me ensinar.
- Quantos filhos você tem?
- Eu não sou casado...
- E você?
- Sou viúva.
- Mas tem filhos?
- Uma menina de seis anos.
- E como ela se chama?
- Aulahana
- Quase igual ao nome da mãe...
- Na minha tribo as primeiras filhas têm o nome da mãe, acrescidos de ana no final, as segundas, acrescidas de ena, as terceiras, acrescidas de ina, as quartas, de ona e as quintas de una... Os meninos seguem os nomes dos pais, seguidos de ano, eno, ino, ono e uno.
- E a filha dela seria Aulahanana?
- Não, quando elas se casam trocam de nome e começa tudo de novo.
- Na nossa tribo é diferente, cada um recebe seu nome independente do nome da mãe.
- Quantas pessoas têm aqui na sua tribo?
- Em torno de quatrocentas pessoas, mais ou menos...
- Tem mais homens que mulheres?
- Não, mais ou menos o mesmo número...
Quando Aulah já havia conversado bastante tempo com Roan, lhe perguntou:
- Você não gostaria de ir para a minha tribo e ter três mulheres?
- Mas aqui só podemos ter uma mulher...
- Lá você poderá ter três, não quer fazer uma experiência?
Ele pensou e respondeu:
- Tudo bem, por quanto tempo é a experiência?
- Um ano, mas tem uma condição...
- Qual é?
- Você tem de dar um dote de três cabras e um bode.
- Eu quero.
Roan começou a rir e deu pulinhos de alegria.
Marmah que estava mais adiante, conversando com um outro rapaz, perguntou:
- O que foi, Aulah?
Ela lhe explicou e disse:
- Faça a proposta para ele também... Assim foi feito com as outras duas guerreiras e no dia seguinte cada uma voltou com o seu homem, e todas acompanhadas das cabras e bodes...