Só as mães sabem
- Eu esperava fazer o seu casamento.
Deitada no sofá da sala, com a cabeça no colo da mãe, Peggy Simmons manteve os olhos fechados ao responder:
- Eu não sei se iria me casar com Simon, mãe.
- Mas está grávida dele.
- Aconteceu. Mas uma coisa não leva necessariamente à outra.
Anne Simmons correu os dedos pelos cabelos da filha.
- Peggy, já parou para pensar que essa criança vai nascer sem pai?
- Mas vai ter mãe... e uma avó maravilhosa. Não foi a senhora mesma quem vivia dizendo que não se pode ter tudo nesse mundo?
Anne Simmons suspirou.
- Creio que nunca nesse contexto, filha.
E acrescentou:
- E agora você me diz que vai partir amanhã para Minster Lovell com as duas WAAFs e deixar o seu emprego na estatística. Pensou mesmo no seu bebê antes de decidir isso?
- Pensei, mãe. Pensei durante os 30 minutos que durou a viagem de Oxford até aqui. Estão pagando três vezes o salário que ganho na estatística - e eu vou poder pilotar! Esse dinheiro vai ser muito bem vindo.
Anne continuou entrelaçando seus dedos nos cabelos de Peggy.
- Mas não sabem que você está grávida. E quando descobrirem?
Peggy Simmons remexeu-se no sofá.
- Aí... bem, eu volto para a estatística. Mel disse que o emprego é meu enquanto eu o quiser. Com o que aprendi montando e desmontando painéis, acho que não corro o risco de ficar desempregada nos próximos anos. Mesmo que a guerra acabasse hoje.
- A guerra... e isso nos leva de volta ao seu trabalho em Minster Lovell. Pilotar é perigoso!
- Mãe... hoje em dia, até ficar em casa é perigoso. Talvez eu esteja mais segura lá em cima.
Mas não havia dito para a mãe que iria pilotar aviões militares - sem munição e sem rádio. Claro, não iria engajar-se em combate. A princípio, seu trabalho seria apenas entregar aviões recém-saídos das fábricas para aeródromos onde seriam utilizados pelos pilotos da RAF. Mas se tivesse a má sorte de encontrar um alemão "lá em cima", este não teria a menor dúvida em abrir fogo. Haviam precedentes - raros, mas trágicos.
E, segundo insinuara Deanna Lund, esta não era nem a parte mais perigosa do trabalho. Melhor não fazer muitas perguntas, concluiu - ou arriscava-se a terminar seus dias programando painéis de máquinas tabuladoras.
Abriu os olhos e encarou a mãe:
- É pelo bebê, mãe. Vou fazer isso pelo bebê.
Anne Simmons parou de correr os dedos pelos cabelos da filha e perguntou, muito séria:
- Numa escala de 0 a 9, quanto você está fazendo por você mesma, Peggy?
Peggy Simmons fechou novamente os olhos. E abriu um grande sorriso.
[28-06-2013]
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