A Aldeia (XII)
 
- Marmah, e se nós formos, em grupo de quatro mulheres, até à nossa antiga aldeia, para vermos como as coisas estão por lá, de repente existem homens sobrando... 
- Que ingenuidade, Ewa, eles são guerreiros, vivem lutando, guerreiros morrem e as mulheres ficam sobrando...
- É... Você não deixa de ter razão, então a gente talvez pudesse ir na aldeia dos criadores de cabras, eles possivelmente não são de fazer guerras, pode ser que tenham alguns homens solteiros por lá... Vamos fazer de conta que queremos comprar umas cabras, e como é longe, nós dormimos na aldeia, e teremos condições de ver se eles têm homens disponíveis.
- Olha que é uma boa ideia, mas é bem longe daqui, você já pensou em quem poderíamos convidar para ir conosco?
- Talvez a Kally, ela é uma nega fogosa, outra que talvez queira ir é a Aulah, o que você acha?
- A Kally seria um bom convite, a Aulah não sei, é muito quietinha.
- Mas tem muito fogo entre as pernas!
- Então vamos conversar com elas...
- Mas o Auan, o que vai pensar da nossa estória?
- Ora, nem precisa saber do que se trata, nós não vamos comprar cabras?
- E vamos voltar sem as cabras?
- As cabras estavam muito caras, valiam mais do que as economias que levamos...
 
As  quatro combinaram sair no dia seguinte, de madrugada.
Auan quando soube não aprovou a ida delas na aldeia vizinha, mesmo porque era uma caminhada de um dia inteiro, no meio da mata e nenhuma delas estava preparada para uma empreitada dessas, mas como a Kally estava de humores virados, se ele desse sua verdadeira opinião, talvez ela ficasse ainda mais azeda, e ele não queria que isso acontecesse, então seria melhor não se meter, afinal eram adultas e deveriam saber o que estavam fazendo.
Assim, as quatro saíram de madrugada, como programado. Não passariam perto das águas, que era o caminho dos animais, assim pensavam, porque a aldeia dos criadores de cabras era pro lado oposto.
Fizeram uma caminhada de duas horas,  já estavam suadas, o calor estava forte e o sol inclemente, pararam para descansar debaixo de um velho baobá,  Marmah retirou da bolsa uma broa e repartiu com as outras, quando olhou para trás um grupo de macacos espreitavam-nas, querendo a sobra, talvez. Elas começaram a conversar sobre o que pretendiam encontrar e quando perceberam, a bolsa já estava no alto de uma árvore e os macacos  estavam dividindo as coisa que encontraram...
- Que bela caçadora que você é, acabou roubada por um macaco!
- Ora, não amole, Kally, é você quem diz isso , mas ficou chorando por pena do veadinho...
- Não se meta comigo, mulher, você não me conhece!
- Você é uma chorona...
- Ei, vocês duas, vamos parar com isso? Interferiu Ewa.
- É isso mesmo, continuou Kally, só vim aqui porque queria dar um passeio, eu não vim para procurar homem, porque já tenho o meu...
- Tem seu homem, beleza, então diz quem é. Voltou a provocar Marmah.
- Meu homem é o Auan! Ele é velho, mas é gostoso! É melhor do que não ter nenhum...
- Se você já tem seu homem, não precisa nos acompanhar, porque você não volta?
Ewa interferiu novamente:
- Se ela tem um homem ou deixa de ter é problema dela, nós não temos nada com isso, mas já que veio conosco até aqui, vai continuar até ao fim. Voltar sozinha é perigoso. 
E assim foram discutindo até chegarem à aldeia. 
Era uma aldeia grande, com muitas casas em forma de círculo, e no meio um cercado com mais de cem cabras e bodes. A fedentina dos bodes de longe se percebia. 
Muita gente circulava com feixes de capim nas costas, outros dentro do curral tiravam leite e apartavam os cabritos das mães, enquanto crianças brincavam correndo na praça.
Algumas mulheres vieram aos seus encontros, mas seus olhares eram para os homens que trabalhavam no capril. 
- Ewa, tem mais bode do que imaginei, disse Marmah.
- É verdade!