A Aldeia (XI)
 
Naquela noite todas as guerreiras demoraram a dormir, até de madrugada ficaram em grupinhos comentando os acontecimentos,  elogiando a atuação uma das outras, a liderança de Auan que mesmo sem uma lança na mão e somente com o seu bordão foi para a frente da leoa e deu as ordens para que todas soubessem o que fazer. Não se cansavam de elogiar Auan por ter feito o treinamento simulado do ataque e assim mostrado na prática o que poderia acontecer. 
Foram dormir e as três guerreiras ficaram despertas, tomando conta para o caso de um segundo ataque.  Mesmo sonolentas passaram a noite acordadas e só se preocuparam quando uma cabra começou a berrar, mas não era nada de mais, era porque o cabritinho havia se afastado dela. 
De manhã Auan convocou todas  guerreiras para a ginástica matinal e aproveitou para analisar os fatos e acontecimentos do dia anterior:
- Depois que eu convoquei as guerreiras, notei que algumas delas demoraram a retornar com as suas armas, todas estavam com as lanças mas nem todas estavam com seus arcos e flechas. Porque? Ele mesmo respondeu:
- Porque talvez tivessem guardadas suas armas em locais inadequados, de difícil acesso. 
As armas têm de ficar sempre no mesmo lugar, de fácil acesso para vocês e de difícil acesso para as crianças. As crianças, principalmente os meninos, adoram brincar com as armas mas não podem, é perigoso e causam acidentes.
Então cada guerreira vai colocar a sua arma, como disse, sempre no mesmo lugar, de fácil acesso para ela, mas nunca para as crianças. 
Vamos providenciar para colocar os dois sinos que existiam na outra aldeia em locais fáceis para serem tocados em caso de ataques. Ao toque dos sinos todas têm que ir para os seus postos, com as armas empunhadas, compreenderam?
- Sim, todas responderam.
 
De tarde, Kally perguntou para Auan:
- Porque não fui convocada para fazer a ronda noturna e você colocou a Aulah no meu lugar? Você não confia em mim ou quer me preservar porque sou sua mulher?
- Kally, não tenho de lhe dar explicações, se assim fiz é porque tenho motivos para fazê-lo, mas não lhe devo explicações.
- Então é isso, não confia em mim, tem medo que tenha outra crise nervosa, não é?
- Já lhe disse, Kally, não lhe devo explicações.
Virou as costas e foi saindo, enquanto Kally furiosa ficou a resmungar.
 
Aquele questionamento de Kally provocou em Auan um novo vendaval de dúvidas. Ele não deveria ter se envolvido com nenhuma das suas guerreiras, com qualquer uma com que se envolvesse acarretaria esse tipo de questionamento, as relações passariam da esfera da liderança para a pessoal. Será que não seria melhor para o bom andamento da equipe, cortar de vez com o relacionamento?  Ela, por sua vez era por demais possessiva, deixava isso bem claro, não deixava margens para dúvidas. Isso o estava incomodando, mas até para dar um fim nessa estória seria difícil. O que fazer? Como fazer?