Na estrada para Witney

Haviam saído de Oxford no crepúsculo, a estrada para Witney praticamente vazia naquela sexta-feira. A motorista, uma morena baixinha de óculos, cabo Tracy Pearson, dirigia devagar - tanto porque recebera ordens para isso, quanto pelo fato de que estava dirigindo de faróis apagados por conta do blecaute. Sentada no banco de trás do Hillman Minx oficial ao lado de Peggy Simmons, a suboficial Deanna Lund, uma loura alta e magra, dava as ordens. Nas mãos, uma ficha de cartolina datilografada cujo conteúdo já devia ter gravado, pois estava escuro demais para que conseguisse ler.

Lund havia lhe dito que estavam indo para Minster Lovell, e Witney era caminho. Confidenciara até que iriam pernoitar em Witney - mais especificamente no Hotel Marlborough - concluindo o percurso no dia seguinte. Quando entraram em campo aberto, a suboficial entrou no assunto que a trouxera até Oxfordshire.

- Eu li a transcrição da sua entrevista de admissão na ATA. Tem quase 60 horas de voo, mas nunca tirou brevê. Por qual motivo?

- Voar para mim sempre foi uma diversão, mas nunca pensei em trabalhar com isso - respondeu Peggy Simmons. - Até porque, vagas para mulheres piloto não aparecem com frequência...

- Antes da guerra, não. Mas agora, temos a ATA - ponderou Lund.

- Eu ia me apresentar, mas a minha supervisora... Melissa, você a conheceu... me fez ver que o meu trabalho como programadora na estatística era tão ou mais importante do que ser piloto de táxi aéreo para a RAF. Eu decidi dar um tempo com a ideia de ir para a ATA.

- Melissa tem razão - concordou Lund. - Mas o trabalho que tenho a lhe oferecer exige os dois talentos que você tem: programação e pilotagem. Você sabe usar uma régua de cálculo.

- Meu pai é engenheiro - respondeu Peggy Simmons. - Aliás, porque não chamaram um engenheiro para essa tarefa, supondo que seja disso que precisam?

- Não temos muito engenheiros que saibam pilotar - respondeu Lund francamente. - E os que sabem estão ocupados com outras coisas. Mas não se trata realmente de algo que envolva engenharia, mas exige um conhecimento mínimo de cálculo, e esse requisito você preenche com folga.

- Agradecida - sorriu Peggy Simmons.

- Você aprendeu a pilotar num Puss Moth?

- Aos 16 anos, sim.

- Isso facilita as coisas. O avião com o qual pretendemos operar também é um "de Havilland".

- Um Leopard Moth?

- Não. Um "Mossie".

- Mas é um avião de combate! - Espantou-se Peggy Simmons.

- O serviço que temos para lhe oferecer é na ATA, - disse calmamente Deanna Lund - mas não é de táxi aéreo.

[26-06-2013]

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