A ALDEIA (I)
 
 
      Era uma tribo que estava em franca decadência. Outrora poderosa, vivia à beira de um lago onde havia caça abundante; os antílopes vinham beber água e os guerreiros escolhiam a presa. Os mais jovens e menores, que ainda não tinham apurado o seu instinto de defesa e, como qualquer jovem, desviavam com facilidade a sua atenção do rebanho, ficavam à mercê dos caçadores.
      Mas aquele lugar era cobiçado, havia muita caça, peixe em abundância  e, um pouco além, um bosque onde floresciam muitas frutas.
      Foi numa dessas incursões que os guerreiros de outras tribos, em muito maior número, e com grande quantidade de armas, expulsaram-nos e eles acabaram acampando numa savana, longe do lago e de qualquer rio, onde a água era escassa, suja e com gosto de terra; porém era ali que eles e os animais da região — leões, zebras, antílopes — saciavam-se.
      Os leões não incomodavam a tribo, havia caça em abundância e eles somente rondavam a aldeia, mas não ousavam atacar ninguém, nem mesmo as cabras que ficavam num cercado, feito na praça, entre as moradias. Eles sabiam que nas casas existiam caçadores exímios e os respeitavam.
      Ao todo eram cerca de  oitenta pessoas, sendo mais ou menos  vinte guerreiros, suas mulheres, umas trinta crianças de idades variadas e ainda idosos, em torno de dez.
      Foi nessa época que havia o ritual de iniciação dos jovens e, como sempre, em cada ano se repetia: os rapazes enfeitados com suas vestes e pinturas corporais iam se candidatar às vagas de novos guerreiros.
      Desse ritual participavam não só os guerreiros e neófitos, mas também os outros adolescentes, futuros candidatos e ainda as meninas que cobiçavam casar-se com os aprovados.
      Como sempre era feito, iam procurar um lugar onde houvesse desafios que estivessem à altura de testar a bravura dos jovens.
      Na aldeia, as mulheres preparavam a festa da iniciação, com muita batata, mandioca, chás de ervas e infusões.
      Mas elas ficaram esperando em vão pela volta dos guerreiros e dos jovens, que nunca mais voltaram.
 
                                                          (CONTINUA)