FERNANDINHO BEIRASERRA
FERNANDINHO BEIRASERRA
Russinho, pele perecida pelo vento frio vindo das montanhas...
Testinha cheia de penugens amarelinhas,
Nariz vermelho, blusa surrada pela miséria,
Sandálias havaianas amarradas com barbante no calcanhar,
Pés lascados pelos contrafeitos das estradas.
Assim Fernandinho ficava todo o sábado na cabeceira da Ponte sobre o Rio Manso,
Bem na entrada da única avenida daquela interiorana cidade; de Matozinho.
Seu Fernandinho, menino de 12 anos, pobre, trabalhador e sofredor.
Num velho cargueiro feito de taquara, sobre o lombo de Jeitoso,
Um burro velhinho e cansado, Fernandinho trazia os produtos da roça.
Bananas com os cavalinhos podres, goiabas colhidas nos pastos, laranjas, amoras,
Mandiocas, carás, pinhões, batata doces, e às vezes um ou dois franguinhos caipiras.
Esses produtos ele ia vendendo para a freguesia que por dó comprava-os.
Quando o sol ia se escondendo no outeiro da montanha,
Fernandinho saía puxando o Jeitoso em direção ao empório São José.
Lá ele comprava as coisinhas que na sua casa não havia: dois quilos de arroz,
Um quilo de açúcar, meio quilo de macarrão picado, um docinho e até logo.
Muitos ficavam olhando Fernandinho caminhar com Jeitoso em direção às montanhas.
Pensativo, aquele menino de olhos azuis, espigado e ligeiro, peregrinava para sua cabana.
Lá ele encontrava sua mãe e seus outros dois irmãozinhos gêmeos.
Esses que o papai não teve o prazer de vê-los.
Quando o jatobá caiu em cima Ferraz, pai de Fernandinho, os gêmeos ainda gozavam da segurança uterina.
Naquele casebre, no alto da montanha,
Fernandinho ajudava a mamãe na sobrevivência de todos.
Até Margarida, menina trigueira, de doze anos, bonitinha, faceira, cor de jambo,
Que morava pertinho da ponte que dá acesso a única avenida da cidade do Tijuco,
Queria um dia dividir com Fernandinho o seu amor.
Só que até a presente data ele ainda não sabia!
A única coisa que ele sabia é que precisava muito ajudar a sua mãe!
É Fernandinho!
É isso aí,
(Acácio)