Um romance qualquer (parte 7)
Dois dias depois, era aniversário de Fabíola, dia em que completava vinte e três anos de vida. Acordou perto das onze da manhã, fez a higiene matinal, arrumou-se e desceu para a sala de visitas, dois presentes estavam ali. Do irmão ganhou um notebook novo em folha, com tecnologia de ponta, os melhores e mais recentes equipamentos já que o seu computador já estava um pouco batido. Da mãe, ganhou uma viagem para Munique com direito a acompanhante, seria a viagem de lua-de-mel, estava marcada para cinco dias depois da data do casamento. Num tímido pacote estava o presente de Mário, um grande guia visual de todas as principais cidades do continente europeu. Era um presente mais simples, Fabíola sabia da dificuldade financeira do noivo, aliás, o melhor presente que podia receber dele foi dado há quatro meses. A aniversariante ouviu uma buzina, eram seus amigos, vieram buscá-la para passarem a data juntos. Os amigos levaram-na almoçar, tomar sorvete, ao shopping para comprar presentes e por fim, um bar próximo a casa dela, onde a bebedeira foi grande. À noite estavam todos reunidos na mansão, pediram muitas pizzas, esvaziaram o estoque de cerveja da geladeira e pegaram muitos dvd’s para assistirem no quarto dela. Assim ficaram até as três horas da manhã, quando seus amigos foram embora. Depois de acompanhá-los até a porta, voltando para o quarto, a moça viu um pequeno pacote endereçado a ela, levou-o pro quarto e abriu. Dentro dele havia uma caixinha e um bilhete, abriu a caixa para verificar o que tinha dentro. Ao ver o conteúdo, surpreendeu-se: era uma aliança de noivado com um valioso diamante, leu o bilhete onde estavam escritas palavras de congratulações à aniversariante e previa um futuro brilhante para a destinatária daquele anel. Fabíola pensou quem poderia ser o remetente, Mário nunca teria condições de comprar um anel parecido. O único que poderia ter enviado tal presente era alguém já conhecido pela senhorita Lassale.
- Não acredito – pensou Fabíola e depois gargalhou um pouco.
Ela não aceitaria o presente de jeito algum, mandou-o de volta, pendido sinceras desculpas pelo gesto e que não poderia ser presenteada com o valioso anel. Heitor era insistente, a aliança voltou para Fabíola com outro bilhete dizendo que, de qualquer forma, era um presente e era pra ser guardado. Eles só iriam se casar quando ela quisesse.
- Sujeito insistente mesmo esse médico. Ele não entende que eu já tenho um noivo? Que vou casar com o homem que amo.
Alguns dias depois Mário ligou de Paris:
- Eu tava morrendo de saudades – disse o moço.
- Eu também. Como foi a apresentação do projeto?
- Foi ótima, só não tirei dez por causa da implicância de um dos professores, mas de resto, foi perfeito.
- Eu sabia que você ia conseguir, ralou muito neste projeto, inclusive até recusou umas noites de amor comigo.
- Você sabe que era estritamente necessário.
- Claro, claro, eu sei. Não importa agora, você conseguiu o diploma, vai voltar para o seu país e vamos casar. Vou me livrar do meu pai e vamos construir nossa vida juntos.
- Você vai conseguir viver longe da vida que tinha?
- Com você, eu agüento um tsunami destruindo a nossa casa. Viver separada do meu pai vai ser a melhor coisa de todas, vai ser fácil.
- O que aconteceu naquele dia em que te liguei? Você parecia bem irritado.
- Irritado comigo mesmo, eu tava atrapalhado, estava atrasado para um compromisso com o meu professor. Aquele dia era pra esquecer mesmo.
- Que dia você volta?
- Daqui a cinco dias, vou pegar meu diploma, arrumar tudo, entregar a chave para o dono da residência e pegar meu vôo.
- Estarei esperando no aeroporto.
Depois dos dias contados e passados Mário estava de volta ao Brasil, desceu do avião só pensando em rever sua noiva, apenas pensando em seu casamento. Lá estava ela, Fabíola, seu amor, razão de ser. Mal colocou as malas no chão e a abraçou e beijou apaixonadamente, esperava por esse momento há tempo demais, estar de volta ao seu país com o amor de sua vida. O casal foi almoçar num restaurante mineiro perto do aeroporto, pois Mário sentia imensa vontade de comer uma comida brasileira de volta, como era quarta-feira o prato seria logicamente, feijoada. O noivo de Fabíola se deliciava com o arroz, feijão e as partes do porco, quanta saudade daquilo. Lá em Paris havia um restaurante típico brasileiro, mas nada se comparava a saborear a gastronomia na pátria amada.
- Temos logo que acertar os detalhes da nossa festa – disse Mário.
- Ainda bem que não vai ser nada muito complexo.
- E os nossos recursos?
- Vem do Japão, meu irmão vai pagar a festa. Lembra?
- Como posso esquecer? É muita gentileza da parte dele fazer isso por nós.
- Ele quer a nossa felicidade. Além do mais, deixemos o Cristiano pagar agora que está cada vez mais rico lá nas terras nipônicas.
Terminado o almoço, os dois foram para a mansão. Chegando lá Mário cumprimentou Carlo, o mordomo simpatizava com o rapaz. No quarto de Fabíola, o noivo viu os presentes que ela ganhou de aniversário, também notou a caixa pequena.
- O que é isto?
- Um anel que o idiota do Heitor me deu de aniversário, ele insiste em casar comigo.
- Você aceitou?
- De nada adiantou recusar, eu o mandei de volta, mas o pacote retornou.
Mário olhou atentamente o presente:
- É uma jóia bem valiosa.
- É mesmo, mas nada significa pra mim. A aliança que você me deu, essa sim, vale as nossas vidas.
Fabíola e Mário fizeram amor naquela tarde quente de verão.
O casal saiu para ver flores para o casamento no dia seguinte. Decidido este detalhe, foram almoçar no restaurante preferido de Fabíola. A moça pediu talharim ao fungi e o rapaz, lasanha ao sugo. Apesar do verão, a temperatura baixou e naquele dia estava frio.
- Amanhã vamos ver de novo o local da cerimônia – disse Fabíola.
- Não podemos fazer isso mais pra frente?
- De jeito nenhum, temos que organizar tudinho agora para não termos surpresas perto do grande dia.
- Que bonitinho te ver preocupada com isso, achei que nem ia querer uma festa de casamento.
- Por mais diferentes que algumas tentem parecer, toda mulher quer uma grande festa em seu casamento. Aprenda isso.
- Não se preocupe meu amor, você terá a festa que merece.
Depois do almoço foram ver os detalhes para as mesas do salão e a banda que iria tocar no evento.
Como o combinado, o casal foi à chácara verificar como andava o andamento das coisas, Fabíola mostrou o que havia preparado no papel e deu as instruções de como tudo deveria funcionar. Mário estava surpreso, a noiva estava mesmo compenetrada no planejamento da cerimônia.
No Japão o negócio de Cristiano crescia assustadoramente, já havia superado as maiores lojas da cidade em pouco tempo, enquanto isso ele passava as férias no Brasil, mas não na mansão, estava hospedado num hotel.
Fabíola e Mário voltaram à mansão e encontraram um carro diferente estacionado, estranharam, pois o pai não havia mudado de carro e estava viajando, mesmo porque, o carro parecia muito simples para ser do Senhor Lassale. Entraram em casa, para a surpresa deles encontraram Cristiano e Yoko conversando com Carlo na sala de visitas.
- Mano, que surpresa boa. Não esperávamos te ver aqui.
- Viemos sem avisar mesmo. Na verdade, eu vou pagar uma parte do preço da festa adiantado, quem sabe eles apressem um pouco mais as coisas.
- Acabamos de voltar da chácara – comentou Mário – sua irmã está mandando em tudo lá.
- Ela sempre foi assim, não podia colocar uma coisa na cabeça que se organizava e assumia o comando. Uma vez tentamos fugir de casa juntos, no dia anterior ela já havia arquitetado tudo, só havia esquecido do alarme, não passamos dos muros.
- Eu não sou perfeita sempre – gabou-se Fabíola.