Um romance qualquer (parte 6)

Horas e horas depois Fabíola está de volta ao Brasil, para a sua surpresa seu pai veio buscá-la no aeroporto. No carro, de volta para casa, o Senhor Lassale não resiste e pergunta:

- Que anel é este?

- Minha aliança de noivado.

- Noivado? Com aquele pé rapado?

- Com ele mesmo.

O pai não falou mais nada depois da resposta que recebeu. Chegando em casa, Carlo levou as malas até o quarto da Senhorita Lassale. No caminho não deixou de notar o anel.

- É uma aliança,senhorita?

- Sim, Mário e eu vamos nos casar.

- Meus Parabéns.

- Cris vai se casar também

- Minha nossa. Parabéns a ambos, confesso que estou cada vez mais surpreso com o seu irmão.

- Digo o mesmo.

De volta à Tóquio, Cristiano foi cuidar de sua loja, quando lá chegou, quase desmaiou. Tudo perfeito, a loja cheirava a tecnologia, equipamentos de ponta a perder de vista, o sócio foi recebê-lo:

- Gostou?

- Não sei o que dizer, mesmo.

Foi apresentado ao resto da loja, com mais funcionários, uma sala exclusiva para o sócio majoritário e qualquer outra coisa que Cristiano quisesse.

- E não acaba aí. Fiz uma oferta ao dono do imóvel ao lado, vamos expandir a loja, logo ela desbancará as maiores – disse o sócio.

Cristiano sentia-se nas nuvens, parecia tudo um sonho, mas era melhor, era real.

- Estou pensando nas promoções – disse Cristiano – podemos sortear um prêmio por mês. O que acha?

- A loja é sua, Cristiano, faça o que quiser.

- Mas o dinheiro é seu, não devia me dar tanta liberdade assim.

- Eu já te disse, sou um homem muito rico, não preciso do dinheiro que estou investindo. Você é um jovem promissor, quero torná-lo rico.

- Muito obrigado. Espero não te decepcionar.

- Tenho certeza de que não vai.

Em um mês a loja superou três grandes estabelecimentos do ramo nas vendas, o sócio estava certo, a loja seria um sucesso. Cristiano mandou um e-mail para a irmã contando tudo, ela respondeu que estava orgulhosa dele e que o sucesso era merecido.

Fabíola não podia estar mais feliz, estava noiva do homem que amava e em pouco tempo começaria uma nova vida, casaria, sairia da mansão e viveria o mais longe possível de seu pai. Começaria uma faculdade e arrumaria um emprego, algo totalmente diferente do que vivera até hoje, longe do alto luxo, mas uma vida feliz, afinal, estaria com Mário.

Carlo foi avisá-lo de que havia uma visita esperando na sala. Fabíola estranhou, pois não esperava visitas naquele dia.

- Quem pode ser? Pensou a moça, descendo as escadas

- Sou eu, senhorita.

- Heitor Monteiro? O que faz aqui?

- Seu pai sugeriu que eu viesse.

- Para?

- Discutir os detalhes do casamento.

- Não sabia que você também preparava casamentos.

- Eu serei o noivo.

- E cadê a noiva?

- Será você.

Fabíola não se segurou e gargalhou até cair no chão.

- Também não sabia que contava piadas.

- Não é uma piada.

- Tudo bem querido. Está vendo esta aliança no meu dedo? Quando eu não a estiver mais usando, pode pensar em casar comigo.

- Como assim? Seu pai me deu plena segurança de que você casaria comigo.

- Ou ele quis te pregar uma peça ou não quer acreditar que sou quem escolhe meu marido. Agora, saia daqui.

Heitor saiu da mansão, bufando de raiva. Fabíola ainda ria e se recusava a acreditar que o pai queria mesmo fazer isso com ela.

- Que grande imbecil – pensou a moça sobre o Senhor Lassale.

Depois do acontecido, Fabíola foi esfriar a cabeça no shopping.

Ao chegar em casa viu o pai esperando na sala de visitas, mas fingiu não enxergá-lo.

Estava subindo as escadas quando foi segurada pelo braço.

- Solte-me! Não quero falar com você! Reclamou a moça.

- Pois agora vai me ouvir! Aquele foi jeito de tratar o rapaz? No jantar e hoje mesmo, ele me contou.

- Enquanto você quiser nos casar, o tratamento será este.

- Por que não dar uma chance a ele?

- Seria porque eu vou casar com o homem que eu amo? É uma explicação bem racional.

- Casar com o pobrezinho? O que você quer para a sua vida casando com ele?

- Quero fugir de você, começar uma nova vida, longe do seu dinheiro nojento.

- Se é nojento, por que continua gastando?

- Porque não há nada melhor a fazer com ele. Veja se coloca uma coisa na tua cabeça, eu não vou casar com ninguém que você queira. Eu sei que para você este casamento é nada mais do que um investimento e que a grana é o retorno que você espera dele.

- Você não vai conseguir viver longe do luxo.

- Do luxo vai ser complicado, mas eu supero. Viver longe de você, será muito fácil.

- Eu ainda te faço engolir estas palavras.

- Faça um favor pra mim, vá para o inferno! Gritou Fabíola, que encerrou a conversa, subiu as escadas e se trancou no quarto.

Cristiano ria à toa, seu negócio muito bem e o dinheiro cada vez aumentando. Já havia expandido a loja comprando o imóvel ao lado e agora estava abrindo uma filial no bairro Akihabara.

Mário estava na universidade, estudando, quando uma moça chega e senta ao seu lado na mesa.

- Saia daqui – esbravejou Mário.

- Calma meu gato. Pra que tanta raiva?

- Julie, eu já disse. Sai fora daqui. Não percebe que é loucura?

- Loucura é desperdiçar este corpo gostoso.

Mário ficou impaciente, levantou da mesa e empurrou Julie, que caiu com um leve sorriso no rosto. A jovem francesa voltou para a mesa onde estava e agradeceu a uma pessoa.

O rapaz estava saindo da universidade quando toca o celular, ele o atende, quase deixando cair o aparelho.

- Alô! Quem é? Perguntou Mário, nervoso.

- Sou eu, meu amor.

- Ah, é você. Quanta saudade.

- Você está bem? Parece nervoso.

- Estou atrasado para um compromisso, to saindo da Sorbonne só agora. É melhor me ligar amanhã querida.

- Está bem, não vou te atrapalhar – disse Fabíola e desligou.

- Que droga – esbravejou Mário, não estava nada tranqüilo com o que ocorrera há poucos minutos.

Passaram quatro meses, o aniversário de Fabíola seria daqui a dois dias, ela estava no shopping olhando algumas vitrines para decidir o que daria a si mesma como presente. Não achou nada interessante e resolveu tomar um café num estabelecimento dentro do próprio shopping. Tomando seu café, ficou a pensar em tudo o que tinha para acontecer: casamento, nova vida, faculdade, vida de esposa, novo lar. Estava perdida em seus pensamentos e se assustou quando viu alguém na sua frente lhe chamando:

- Senhorita Lassale.

Era Camila.

- Nossa, nem vi que você estava aí.

- Percebi, você estava perdida por aí.

- Eu tava viajando na minha cabeça. Nem acredito, falta tão pouco: casamento, vida nova, tudo não diferente do que eu vivenciei até hoje.

- Quando será o casamento? Perguntou a amiga.

- Agosto.

- Já está tudo preparado?

- Quase nada, não vai ser uma cerimônia sofisticada, será algo mais simples.

- Não importa se é humilde ou luxuoso, qualquer evento com a sua presença é um arraso.

- Eu faço o que posso.

- Vai ser casamento na igreja e tal?

- Que nada, não quero igreja, acho muito chato. Será numa chácara. Bom, é meu irmão que irá pagar a festa.

- Sério? Eu invejo a relação que vocês têm. O meu irmão não me paga nem um sorvete.

- Ta precisando trocar os parentes – brincou Fabíola.

As duas levantaram da mesa e foram juntas até o estacionamento, depois cada uma seguiu o seu caminho.

Fabíola chegou em casa e viu no notebook dois e-mails novos, um de Mário e um do irmão. Mário dizia que estava muito nervoso, que em poucos dias iria defender seu projeto perante a banca e que contava com o todo o apoio da noiva, mesmo de longe. O irmão estava cada vez mais feliz, apaixonado e rico, já tinha duas lojas novas, sendo uma deles em outra cidade.

Estava tudo perfeito, se melhorasse, estragaria.

Farah
Enviado por Farah em 10/03/2008
Código do texto: T894577
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