Um romance qualquer (parte 2)

Mais ou menos quatorze horas depois Fabíola estava de volta ao seu país, o motorista da família foi buscá-la no aeroporto. Fabíola o viu e acenou para ele. Sandoval estava com a família desde que ela tinha nascido e a moça o tratava como um membro da família.

- Não precisa nem dizer por que meu pai não veio.

- Está muito ocupado com o trabalho.

- Como sempre, sempre muito ocupado.

- Seu irmão mandou uma carta para você.

- Ótimo, preciso saber como ele está lá em Tóquio.

Fabíola leu a carta do irmão, nela dizia que ele estava bem no Japão, que depois de tanto trabalhar resolveu se arriscar e abriu uma loja de videogames e informática. Falava também que até tinha arranjado uma namorada na cidade, o que foi um espanto para Fabíola, seu irmão, workaholic, se juntando à outra pessoa, não se tratando de negócios, realmente uma surpresa. No fim da carta Cristiano, esse era seu nome, avisava para a irmã ter muito cuidado com o pai.

- Isso não é novidade pra mim, estou sempre preparada para ele, mas meu irmão namorando, esse foi um milagre, preciso conhecer esta moça que o encantou – pensou Fabíola.

Ela desfez a sua mala e arrumou tudo certinho no seu quarto, depois foi tomar banho, estava exausta da longa viagem. Saiu do banheiro e encontrou uma pessoa não muito desejada naquele momento, seu pai.

- Olha só quem resolveu aparecer – disse Fabíola.

- Você não muda mesmo não é? Sempre fazendo questão de me agredir – respondeu o pai.

- Você já não agrediu essa família suficiente? Achou que não receberia nada em troca?

- Já vi que de nada adianta tentar conversar com você, vou embora daqui – disse o pai, claramente irritado.

- Ponto pra mim – Fabíola ficava contente quando irritava o próprio pai.

Depois de mais um conflito familiar a moça foi deitar e descansar. Três horas depois o mordomo trouxe um pequeno lanche para a senhorita que chegara de Paris.

- Carlo, quanta saudade de você. Senti muito a sua falta lá na França.

- Aposto que no Ritz havia excelentes serviçais.

- Nenhum como você, e também, nenhum deles me conhece desde que eu era pequenininha.

- Um rapaz chamado Mário ligou enquanto você dormia, queria saber se tinha chegado bem da viagem. Sugeri que voltasse a ligar no final da tarde.

- Tudo bem, eu ligo para ele. Diga-me, o que rolou nessa casa no tempo que eu estive fora?

- Nada sei senhorita.

- Ora Carlo, eu sei que tem excelentes ouvidos, com certeza está a par de todos os barracos desta mansão.

- O senhor seu pai e seu irmão tiveram uma briga das feias.

- O Cris esteve aqui?

- Esteve, veio buscar alguns pertences que faltaram, mas teve tempo para quebrar o pau com o seu pai. Da cozinha eu ouvi gritos e acusações por parte do Senhor Cristiano, dizendo que o Senhor Felipe havia destruído e desunido a família inteira, que odiava o dinheiro dele e que era para nunca mais vê-lo.

- Finalmente ele soltou o que estava preso na garganta há anos – disse a irmã.

- Ele foi disposto a não voltar mais, isto eu te garanto senhorita.

- Já soube da última?

- Não estou sabendo senhorita, mas estou curiosíssimo.

- Ele está namorando, parece que encontrou alguém em Tóquio. Não é ótimo?

- Surpreendente, vindo de alguém como o seu irmão.

- Quase dei um grito de alegria com esta notícia.

Fabíola retornou a ligação de Mário, que estava de folga, não tinha aula à noite:

- Ei meu amor. Como foi a viagem? Chegou bem? Estou morrendo aqui sem você.

- Estou ótima, já descansei e estou pronta pra outra.

- Só você mesmo.

- Vamos conversar melhor amanhã querido, também estou com saudade. Tenho uma notícia quente pra contar, mas fica para amanhã. Beijos meu amor, te amo muito.

- Idem, idem, idem, idem.

Após desligar o telefone, Fabíola ficou até as três horas da manhã assistindo filmes até pegar no sono. Na manhã seguinte Carlo a acordou com o café da manhã em sua cama.

- Vamos senhorita, está na hora de acordar – disse o mordomo.

- Carlo, são dez horas ainda, por favor, deixe-me dormir mais.

- Acho que a visita não vai gostar de esperar por muito tempo.

- Visita? Essa hora? Quem resolveu me encher o saco agora?

- Que tal eu?

Fabíola ficou realmente surpresa. Uma pessoa que não via há meses aparecera em seu quarto.

- Mãe? Nossa, quanto tempo, achei que ficaria pra sempre em Munique.

- É, eu pretendia, mas não podia ficar mais tempo longe das minhas crias.

- Ah sim, mas meu irmão está do outro lado do mundo.

- Estava – disse Cristiano entrando no quarto da irmã.

- Chegaram quando? Perguntou Fabíola.

- Um dia antes de você. Esperamos um pouquinho pra te fazer uma surpresa – disse a mãe. Vamos crianças, vamos almoçar e passar o resto do dia juntos.

- Você me deve uma explicação, Cris – disse a irmã.

No restaurante mãe e filhos sentam-se e pedem os pratos e uma garrafa de vinho.

- O que nos conta de Paris minha filha?

- Ah mãe, nunca estive tão feliz com alguém como está sendo com o Mário.

- Seu irmão me contou algo sobre isso. O que vocês pretendem fazer?

- Bom, daqui a seis meses ele termina a pós-graduação na Sorbonne e volta para Brasil. Eu vou prestar vestibular no ano que vem e começar uma faculdade.

- Finalmente – respondeu o irmão.

- Mas não será economia como queria o nosso pai. Vou estudar História e depois quero lecionar.

- Você podia estudar matemática e dar aula lá no Japão, professores ganham muito bem lá.

- Eu sei meu querido irmão, mas não tem salário no mundo que me faça estudar matemática ou qualquer ciência exata. Por falar em Japão, acho que você tem algo a nos dizer.

- Estou louca para saber sobre isso – disse a mãe.

- Eu a conheci num evento da empresa na qual era funcionário. Já a tinha visto antes, mas achava ela um pouco arrogante e fechada, no evento eu tirei da cabeça essa impressão. Começamos a namorar num dia em que ambos fugimos de uma reunião da empresa para ir passear num parque. Lá fiz o pedido a ela. Não podíamos assumir nosso relacionamento por causa da política da firma, então eu pedi demissão e abri meu próprio negócio.

- Essa moça tem poderes mágicos, sua paixão por ela te fez pedir demissão. E por falar em negócios, como vai a loja? Perguntou curiosamente a irmã.

- É complicado. No Japão você vê lojas de videogames e informática em cada esquina. Tenho sempre que correr atrás dos lançamentos, dos equipamentos mais recentes, mas nunca estive tão feliz na minha vida, chega de estar subordinado, quero construir minha carreira de empresário.

- Meu filho, não imagina como estou contente em ouvir isso de você. Também estou orgulhosa de você minha filha, esperei tanto pelo momento em que você resolveria voltar a estudar.

Após o almoço foram ao shopping onde apenas Cristiano fez compras, numa loja feminina, para uma pessoa que não é necessário especificar.

- Quando voltará para a Alemanha, mãe? Quis saber a filha.

- Amanhã mesmo. Edmond deve estar morrendo sem mim – Edmond é o namorado dela.

- E você mano?

- Só depois de amanhã, tenho um dia inteiro para passar com você. É uma pena que não estarei com vocês no natal, mas mandarei cartões

- Mário deve estar louco – lembrou Fabíola – prometi ligar para ele hoje.

A namorada ligou para o jovem arquiteto, mas nada conseguiu, ele não atendia o celular, também não foi encontrado na residência estudantil.

- Onde será que ele anda? Ele quase não sai à noite.

- Deve ter resolvido se divertir com os colegas do curso – respondeu o irmão.

- Quem sabe – considerou a idéia, mas continuou em dúvida.

Fabíola pensou no que tinha dito a Mário sobre o seu irmão. Agora teria a chance de ter sobrinhos.

Farah
Enviado por Farah em 14/02/2008
Código do texto: T859947
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