O CACTO 🌵E A ROSA 🌹
Num jardim ensolarado, onde o vento brincava com as folhas secas, vivia um velho cacto, sábio e solitário. Seus espinhos eram testemunhas de incontáveis verões, e seu coração, embora ressequido pelo tempo, ainda guardava espaço para sonhos.
Num amanhecer de primavera, quando o orvalho ainda tremulava nas pétalas do mundo, ele a viu: uma rosa, desabrochando suave, tingindo o ar com seu perfume e o jardim com sua beleza. O cacto ficou extasiado. Nunca vira algo tão frágil e ao mesmo tempo tão radiante. E ali, naquela manhã dourada, seu coração espinhoso rendeu-se por completo.
Dias se passaram, e o cacto observava a rosa de longe, encantado com seu viço, seu jeito de dançar ao sabor da brisa. Até que, numa tarde, percebeu algo que o gelou: a rosa chorava. Suas pétalas, antes vibrantes, tremiam como asas molhadas.
— Por que choras, flor mais bela do jardim? — perguntou o cacto, voz áspera de preocupação.
A rosa enxugou uma lágrima com a ponta de uma folha e suspirou:
— Foi o cravo... Ele jurou que me amava, conquistou meu coração e depois partiu, levando consigo outra flor.
O cacto sentiu um aperto em seu tronco ressecado. Quis dizer que a amava, que jamais a abandonaria, que seus espinhos eram poucos diante do afeto que sentia. Mas as palavras morreram em sua boca invisível. Em vez disso, tentou consolá-la com versos toscos, rimas simples que brotavam de sua alma ingênua.
A rosa sorriu, agradecida, mas seus olhos ainda procuravam o horizonte, como se esperasse o retorno do cravo infiel. E o cacto entendeu, então, que alguns amores não nascem para ser correspondidos. Seu coração era um deserto, e o dela, um jardim já habitado por outra memória.
Assim, sob o sol poente, o velho cacto aprendeu a lição mais amarga: amar em silêncio, mesmo sabendo que algumas flores nascem para brilhar em outros braços. E enquanto a rosa sonhava com o cravo, ele continuou ali, firme e quieto, regando seu amor impossível com as únicas lágrimas que um cacto jamais derramaria.