Selvagem
Selvagem
Cardoso I
Charlotte Montgomery nunca imaginou que passaria o verão em um rancho afastado da cidade, longe de shoppings, cafés sofisticados e da vida que sempre conheceu. Filha de um empresário do petróleo, sua rotina era cercada de luxo e festas. Mas depois de um escândalo que envolveu seu nome, o pai decidiu que o melhor castigo seria enviá-la para o rancho do tio, onde, segundo ele, ela aprenderia o verdadeiro valor do trabalho.
Ao chegar, tudo parecia um pesadelo: estradas de terra, cheiro de feno e cavalos correndo soltos. Mas o pior foi conhecer Jake Sullivan, o tratador de cavalos do rancho. Alto, de jeans surrado, botas gastas e um chapéu que lhe sombreava os olhos intensos, ele olhou para Charlotte como se pudesse enxergar sua alma mimada e disse, sem rodeios:
— Isso aqui não é um resort, princesa. Se quiser ficar, vai ter que trabalhar.
Charlotte revirou os olhos, mas logo percebeu que no rancho não havia espaço para caprichos. Entre madrugadas geladas e mãos calejadas, aprendeu a alimentar os animais, a limpar estábulos e a respeitar a força dos cavalos selvagens. Jake a observava de longe, sem muitas palavras, mas com olhares que diziam mais do que ele permitia.
— Acha que vou desistir? — ela provocou, depois de uma manhã particularmente difícil.
Jake sorriu de canto, encostado na cerca.
— Não. Acho que finalmente está começando a entender o que significa estar viva.
O tempo passou, e a relutância de Charlotte se transformou em algo inesperado. Ela passou a sentir prazer nas tarefas simples, nas tardes ao sol, nas noites estreladas. E, principalmente, nas conversas roubadas com Jake. O jeito rude e sincero dele desarmava sua arrogância, e a cada toque acidental, a cada olhar prolongado, algo dentro dela se transformava.
Na última noite de verão, Charlotte encontrou Jake encilhando um cavalo.
— Vai embora amanhã, não é? — ele perguntou, sem encará-la.
Ela hesitou, sentindo o peso das palavras. Antes, não via a hora de partir. Agora, partir significava deixar para trás algo que nunca soube que precisava.
— Não sei mais o que quero — confessou, num sussurro.
Jake então se aproximou, segurou sua mão e a ajudou a subir no cavalo. Montou atrás dela, segurando as rédeas com firmeza.
— Então vamos dar uma última volta. Quem sabe você encontra a resposta no caminho.
E assim, sob a lua prateada, Charlotte percebeu que, às vezes, o amor era tão selvagem e indomável quanto os cavalos que aprendera a respeitar.