Essências (13) O VESTIDO VERMELHO
Ele sempre dizia que adorava vê-la de branco.
Naquela noite, ela desceu as escadas devagar, deixando que ele apreciasse cada detalhe do vestido novo. Branco, delicado, curto. O sorriso dele era de puro encantamento.
— Está deslumbrante — sussurrou, segurando sua mão com carinho.
Ela sorriu. A última vez que brigaram, ele prometeu que nunca mais a faria chorar. Que nunca mais levantaria a voz. Que nunca mais.
Saíram de braços dados. No restaurante, brindaram, riram, falaram do futuro. Pela primeira vez em muito tempo, ela acreditou.
Na volta para casa, o barulho do vidro quebrando foi ensurdecedor. O impacto, uma explosão silenciosa dentro dela. O carro capotou duas vezes antes de parar de cabeça para baixo.
No asfalto molhado, entre os estilhaços, o vestido branco agora era vermelho.
Os olhos dela, ainda abertos, encaravam um céu sem estrelas. Como se ainda esperassem o futuro que nunca viria.