O ENCANTO DO INEXPLICÁVEL

Era uma tarde comum, ou ao menos parecia ser. O sol se punha lentamente, tingindo a cidade com tons de laranja e dourado. Mas naquele café, escondido entre as ruas estreitas, algo no ar era diferente.

Ela o observava de longe, disfarçando o olhar, tentando manter a normalidade. Seu café fumegava na mesa, mas sua mente estava longe, perdida no contorno do rosto dele, na forma como ele se movia, como o mundo parecia desacelerar quando ele entrava no ambiente.

Ele também sentia. Era algo invisível, mas presente. Cada vez que seus olhares se cruzavam, havia uma tensão crescente, como se algo em ambos pedisse para ser explorado, mas nenhum dos dois se atrevia a dar o primeiro passo. Eles se conheciam bem, mas não se conheciam de fato. Ela era uma colega de trabalho, ele um amigo dos mais próximos. Mas o desejo, esse, era algo que nem mesmo o tempo e a convivência pareciam ser capazes de dissipar.

Naquela tarde, algo mudou. Ele se aproximou da mesa, sem aviso, com aquele sorriso discreto que ela tanto adorava. "Posso?" ele perguntou, apontando para a cadeira vazia.

Ela assentiu, o coração disparando de maneira irreversível.

O silêncio entre eles foi confortável, mas carregado. Cada palavra parecia pesar mais do que o normal, como se fosse um aviso disfarçado de conversa banal. Mas eles sabiam o que estava em jogo.

"Já percebeu como o mundo parece diferente quando olhamos de perto?", ele disse, os olhos fixos nos dela, como se testasse os limites do que era permitido dizer, do que era permitido sentir.

Ela riu, mas o som foi frágil, como se estivesse tentando quebrar uma barreira invisível entre ambos. "Sim, e parece que há sempre algo mais a ser descoberto."

O desejo se materializou naquelas palavras não ditas, naquele olhar que não se desviava. Era uma dança silenciosa, mas intensa. O ambiente ao redor parecia desaparecer, o tempo se alongando, tornando o espaço entre os dois ainda mais carregado.

As horas passaram sem que eles se dessem conta, até que ele se levantou para ir embora. Quando passou por ela, seu braço tocou o dela de forma quase imperceptível, mas o impacto foi imediato. O calor que ela sentiu naquele simples gesto a fez questionar se aquilo era real ou apenas uma ilusão criada pela proximidade, pela tensão.

"Até logo", ele disse, sua voz quase inaudível, e com isso, se foi deixando-a ali, com o coração acelerado, sabendo que aquele momento não ficaria guardado apenas na memória. O desejo que ela ocultava há tanto tempo havia se tornado uma chama que queimava agora, impossível de apagar.

Ela saiu do café mais tarde, olhando para o horizonte, sentindo a promessa de algo mais no ar. Algo que ainda não havia sido dito, mas que, de alguma forma, já estava prestes a acontecer.

Edna Maria
Enviado por Edna Maria em 19/03/2025
Código do texto: T8288796
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