A armadilha do amor
Já era tarde da noite quando recebi uma mensagem em meu celular. Havia uma notificação no Instagram com a seguinte mensagem "oi, tudo bem? Obrigado por me aceitar e desculpa se te incomodei, aí já deve ser tarde".
Achei estranho, não conhecia, era uma conta privada. Fiquei curiosa e resolvi aceitar. A conversa foi agradável e nos despedimos. No dia seguinte, bem cedo, outra mensagem. Era da mesma pessoa. Ele tinha um olhar atraente e um perfil misterioso e curioso. Rafael revelara que estava morando na França a trabalho. Tinha nascido no Brasil, mas quando ainda era bebê foi embora com a família. Muitas mensagens foram trocadas. Perdia a noção das horas com tantos assuntos diferentes, curiosidades, mensagens não reveladas, outrora sendo expostas.
Isso me levou a uma dependência, não tinha horário certo para trocar alguma ideia. Nunca tinha o visto antes, mas parecia que já o conhecia há anos. Certa vez, ele havia me falado que iria me visitar, mas não acreditei, afinal, apesar de todas as trocas, ainda era recente. No dia que ele não enviava mensagens, eu ficava triste e sentia um vazio. Pronto, eu me vi apaixonada por uma pessoa que sequer tinha visto na vida.
Sua forma gentil e educada fez com que eu me sentisse valorizada e amada, era diferente da troca que eu tinha com meu namorado. Foram tantas mensagens que não recordo quando passei a querer mais e mais. Havia uma promessa, o nosso encontro. Eu estava tão a fim, que não tinha como ainda manter uma relação com o Paulo. Logo rompi. Queria estar "livre" para o nosso momento ser mais especial. Fiz vários planos, iríamos jantar no melhor restaurante da cidade, passearíamos pelas belas praias e veríamos o pôr do sol juntinhos.
Algumas semanas se passaram, o Rafael comentava que viria e que também me levaria para conhecer a Europa, saborear os melhores pratos e fazer a melhor massagem. Eu estava muito ansiosa para tudo aquilo. Porém, os dias foram passando e as mensagens iriam diminuindo. Eu estava ansiosa para vê-lo, mas a cada dia, ele falava uma data diferente. No fim, o Rafael me revelou que não podia viajar no momento por conta do trabalho, mas que queria muito me ver. Tirei o meu passaporte com a ajuda dele. Ele havia me transferido um dinheiro para todos cobrir todos os gastos.
Chegou o grande dia. Eu estava tão eufórica, iria ver, pela primeira vez, a pessoa por quem eu estava apaixonada. Ele havia me enviado umas fotos suas e eu estava muito encantada. No aeroporto, o meu voo atrasou. O dia estava chuvoso e, devido às tempestades, tive que esperar. Eu estava impaciente com o atraso. Recebi mais uma notificação. Era uma mensagem sua, dizendo que estava muito ansioso com a minha chegada e que me amava muito, porém não poderia ir me buscar no aeroporto porque estava preso no trabalho. Mas já havia providenciado tudo. Mostrou a foto de um "amigo" que iria me pegar e o cartaz que ele segurava, achei bem fofo: "Seja bem-vinda, Clara! Meu amor é todo seu e estarei te esperando". Na sua mensagem, ele acrescentou "O Robert é nosso amigo, ele te trará para meus braços, não olhe muito para ele que fico com ciúmes. Você é minha jóia rara e meu diamante. Te amo para sempre."
Fiquei rindo como uma boba no aeroporto. Como fazia um tempinho que eu estava esperando, acabei fazendo amizade com o policial que se encontrava lá, ele me viu rindo, então contei um pouco de minha vida, a aventura que eu estava fazendo e a foto. O policial mudou sua expressão, pediu para ver o retrato mais uma vez e então saiu. Fiquei sem entender. Com um bom tempo, ele retorna dizendo que esses homens são procurados pela polícia internacional por tráfico humano. Ele seduz as vítimas, atraem e depois vendem para retirada dos órgãos.
Eu parei de escutar o que ele estava falando... Não podia ser. Não era possível. Não tinha como ser o Rodolfo... Isso não combinava com ele. Eu fiquei fora de mim por uns muitos minutos. Estava me tremendo e chorando muito.
O policial tentava me acalmar e dizia que precisava de minha ajuda para pegar esses "cangalhas". Depois de um longo tempo, quando já estava na última chamada para o meu voo decolar, decidi colaborar. Não era justo eles fazerem aquilo comigo e com quem mais tivesse sido vítima. Entrei no avião e não prestei atenção em nada. Ainda estava processando tudo. Aquela viagem que tanto planejei não fazia mais sentido algum. Como fui tola em cair num golpe desses. Eram tantos pensamentos que não me dei conta que já havia chegado. Desembarquei... Assim que peguei as minhas malas, me deparei com um homem alto, cabelos pretos, olhos marcantes e um físico forte, ele estava segurando um cartaz, mas, de repente, ele percebeu os policiais e sumiu. Despistou todos e ninguém mais conseguiu encontá-lo.
Peguei meu celular para encaminhar uma mensagem para Rodolfo, mas já havia sido bloqueada. Eu não conseguia assimilar nada. Uma nuvem escura e tempestuosa estava sobre mim. Depois desse episódio, passei muitos anos fazendo terapias para me recuperar do trauma. Não queria relacionamento com ninguém, foram dias difíceis que passei. Não podia mais acreditar em nada nem em ninguém. Fechei as portas para o amor. Por outro lado, me senti aliviada e agradecida por esse livramento e por não ter sido uma vida fatal. Mas era tudo inacreditável.
De repente, depois de dois anos sem usar as redes sociais, abro o Instagram e me deparo com uma mensagem. "Oi, tudo bem? Eu adoraria te conhecer melhor. Adorei o seu perfil, espero que me aceite para batermos um papo. Você é linda e estou 'deveras' encantado."