Sexta-feira 13

O dia era uma sexta-feira 13, começou chovendo e eu não estava nada esperançosa, aliás, estava aquém de que dia da semana era. Já marcava quase meio dia quando o meu celular tocou.

- Ruth, vamos sair para almoçar?

Não consegui identificar a voz, estava um pouco abafada. Tentei puxar pela memória, mas aquele sotaque forte e marcante, só me lembrava de uma pessoa... Não podia ser...

- Daniel???

- Sim, tudo bem? Como você está? Topa ir almoçar comigo?

Eu não o via desde o ensino médio, foi um misto de emoções, despertaram sentimentos que não sentia desde muito tempo. A princípio, fiquei em dúvida se aceitaria o convite ou não...mas pensei bem e acabei cedendo. Tinha que escolher uma roupa adequada para a ocasião.

-Affff, não encontro uma roupa neste guarda-roupa!!! Não posso ir de qualquer jeito.

Finalmente consegui encontrar uma que desse certo. O celular tocou mais uma vez, era Daniel dizendo que chegava em 10 minutos. Foi um desespero para terminar a make.

Quando ele chegou, corri para o carro já pensando em qual prato iria pedir ao chegarmos no restaurante, o que iríamos conversar, quando seria um próximo encontro. Mas, quando cheguei até o carro, tive uma grande surpresa.

Daniel estava muito diferente, mais magro, uma aparência velha e acompanhado. Era uma garota jovem e bonita. Fiquei sem entender. Então, ele me explicou que era a sua filha, mas não se preocupasse porque ela não iria participar do almoço.

Joana ficou na casa de umas amigas e nós fomos para o almoço. Daniel me contou que sentiu muito ter ído embora, ele queria ter nos dado uma chance, mas a vida quis nos afastar, brincou. Ele também relatou que estava doente, e que, por mais que o tempo passasse, ainda pensava em mim e como eu tinha passado nesses últimos 20 anos.

Tivemos uma conversa agradável. Soube que ele tinha casado, teve uma filha e agora estava divorciado há 2 anos. Eu também contei que tive um relacionamento, sofri 2 abortos e ainda estava me recuperando da dor da perda do meu companheiro, que já fazia 5 anos. Foram anos de muita dor e escuridão.

- Sinto muito, Ruth, por tudo! Você não merecia passar por tudo isso. Sinto que, de alguma forma, eu poderia ter feito algo e não fiz, me perdoa por tudo.

- Daniel, você foi embora, sofri muito com a sua partida, mas não tinha o que você fazer, seguimos caminhos diferentes.

- A vida é feita de escolhas, Ruth! Naquele momento, eu era muito imaturo, mas agora eu sei que deveria ter te escolhido. Você não sabe o quanto pensei em você. Mas não tinha o que fazer, outras pessoas dependiam de mim.

- Você não me deu a chance de dizer que também te amava e que eu iria com você para qualquer lugar.

- Que destino traiçoeiro! O pior que não posso nem me dar ao luxo de recomeçarmos...

Ele estava pensativo e hesitante.

- A gente pode tentar...

- Não dá...

- Então porque me procuraste?

- Porque queria te ver pela última vez...

- Você vai embora mais uma vez? Está com alguém?

- Não é isso. Eu...

- Diga logo que estou ansiosa...

- Eu estou morrendo, Ruth! Estou com os meus dias contados. Não sei quanto ainda tenho de vida, mas os médicos já me desenganaram.

- Isso não é possível! Você precisa procurar outros especialistas! Por favor, não se deixe abater...

- Eu já fui a vários especialistas. Só tenho que aceitar, sinto muito.

Nesse momento, Ruth não sabia o que fazer, se chorava, se o abraçava, se o consolava...

Mas quando pegou a sua mão, sentiu que foi a última vez, sentiu uma dor terrível no estômago e então lembrou que as sextas-feiras 13 realmente é um dia de azar.

Berlandia Paiva
Enviado por Berlandia Paiva em 03/03/2025
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