O ÁUDIO VERSUS MINHAS ILUSÕES
A primeira mensagem que vi, era dele. E isso me deu uma pontinha de felicidade. Pontinha, não, foi bem mais que isso.
Estava lá, um áudio, em pleno 19 de fevereiro. O que poderia querer comigo essa criatura?
Tudo o que eu queria era ouvir, de imediato, o que tinha a me dizer, mas me contive. Decidi então me ocupar de outra coisa, como uma forma de sustentar meu orgulho e não passar a vergonha de “correr” pra ele a cada áudio.
A última troca de mensagens teria sido há dois, três meses? O tempo nem sei, mas sei bem o nível daquela conversa odiosa, quando ele insistiu, pela milésima vez ao quadrado, que entre nós “só amizade”.
Sabe como ele diz, pra me poupar do limite do ridículo? “Amizade especial”. Não raras vezes já disparei “vai pro inferno!”, em resposta a esse discurso fofo. Sempre da boca pra fora, é verdade, coisas que a gente fala sem pensar (mas que, enfim, têm um fundo de razão – ou de emoção – desmedida).
Dez longos minutos se passaram e eu me fazendo de forte, resistente, com o sentimento de triunfo, por não ter ouvido a mensagem nos primeiros segundos após a notificação.
E cheguei a pensar em vingança, viu? “Apagar sem ler!”. Lembrei, entretanto, que esse prato a gente come frio e resolvi deixar quieto. Seguimos inabaláveis, minha dignidade e eu, embora me visse no velho embate entre “ceder ou não ceder, eis a questão!”.
“Meu Deus do céu”, eu pensava, “o que essa criatura quer, me enviando mensagem assim, do nada?”.
Os devaneios seguiram-se, claro: “E se ele tivesse mudado de ideia?”; “Teria entendido, finalmente, o que estava perdendo?”; “Quer me ver, conversar, assumir um compromisso?”.
Gente, sem exagero! Eu mesma dou risada de tudo isso, mas é exatamente assim que acontece: gosto de fantasiar, às vezes isso me mantém a salvo.
Por fim, vencendo a razão, a emoção se fez mais forte, e o desejo insano de ouvir aquela voz resultou no clique final.
“Bom dia... feliz aniversário [...]”
E em menos de meio minuto ele me disse, dentre outras coisas, que gosta muito de mim, que eu moro em seu coração e que mereço tudo de bom, finalizando com um “tenha um grande dia”.
Problema número um: não aguento mais esse discurso meiguinho de que sou especial.
Problema número dois: meu aniversário é dia 13 de fevereiro.