O segredo do casamento feliz: Lições para uma vida a dois
D. Estêvão, um velho magistrado aposentado, morava numa casa modesta, cercada por um jardim bem cuidado. Sentava-se todas as tardes em sua cadeira de balanço, observando a vida com a serenidade de quem já aprendera muito. Diziam que nunca levantava a voz, que jamais se exaltava, e que vivera um casamento exemplar por mais de cinquenta anos.
Certo dia, um jovem advogado, recém-casado e já exausto das pequenas desavenças diárias, procurou-o.
— Dizem que o senhor viveu um casamento harmonioso por décadas. Eu, que sou casado há apenas um ano, já não sei mais o que fazer. Pode me ensinar o segredo?
O velho sorriu, ajeitou-se na cadeira e fez um gesto para que o rapaz se sentasse ao seu lado.
— Meu rapaz, você pergunta como se houvesse um único segredo, uma fórmula mágica que resolvesse tudo. Mas casamento não é uma fechadura com chave única, é um jardim.
O jovem franziu a testa.
— Um jardim?
— Sim. Há os que plantam flores e os que apenas arrancam ervas daninhas. Os primeiros colhem beleza, os segundos vivem na terra seca.
O advogado ficou pensativo. D. Estêvão continuou:
— Diga-me, quando você se casou, imaginava que sua esposa nunca erraria?
— Claro que não. Mas eu esperava que errasse menos.
O velho riu.
— Ah, e ela também pensou o mesmo sobre você. E eis aí um dos grandes erros dos casamentos: a expectativa de perfeição.
— Então devemos aceitar os erros?
— Não. Mas devemos entender que o casamento não é uma relação entre duas pessoas perfeitas, e sim entre dois aprendizes. Se você espera que sua esposa nunca falhe, cedo ou tarde se sentirá decepcionado. Mas se compreende que o casamento é um aprendizado constante, cada erro se tornará uma lição em vez de uma ofensa.
O jovem respirou fundo.
— Mas e quando as discussões surgem? Como evitar brigas?
D. Estêvão olhou para o céu como quem buscava uma lembrança.
— Meu rapaz, brigas são como tempestades. Você não pode impedi-las de surgir, mas pode decidir se abrirá um guarda-chuva ou se sairá correndo debaixo da chuva.
— E como se abre esse guarda-chuva?
— Com respeito. O que destrói um casamento não é a discussão em si, mas a forma como se discute. Um casal pode discordar e, ainda assim, continuar unido. Mas quando as palavras ferem, quando o tom da voz machuca, quando o orgulho impede que se peça perdão, então a tempestade se torna um furacão.
O jovem abaixou os olhos, refletindo.
— Acredito que tenho sido orgulhoso demais…
D. Estêvão assentiu.
— O orgulho é o grande inimigo do casamento. Muitos casais se separam não porque deixaram de se amar, mas porque nenhum dos dois quis dar o primeiro passo para a reconciliação. Um simples “me desculpe” teria salvado tantos casamentos…
O advogado passou a mão no queixo.
— Então o senhor acredita que um casamento feliz depende apenas de paciência e humildade?
O velho riu.
— Oh, meu rapaz, paciência e humildade são essenciais, mas há mais. Há a gratidão.
— Gratidão?
— Sim. A maioria dos casais foca no que falta no outro, no que o outro não faz, e se esquecem de agradecer pelo que têm. Quando foi a última vez que você agradeceu sua esposa pelo café da manhã? Pelo carinho em um dia difícil? Pelo simples fato de estar ao seu lado?
O jovem permaneceu em silêncio.
— Se você passa a vida esperando que o outro seja melhor, mas não valoriza o que ele já é, acabará sempre insatisfeito. O casamento feliz não é feito de grandes gestos, mas de pequenas gentilezas diárias.
O jovem levantou-se.
— Acho que preciso ir. Tenho algo importante a fazer.
D. Estêvão sorriu.
— O que vai fazer?
— Vou comprar flores para minha esposa.
O velho riu.
— E amanhã?
O jovem franziu a testa.
— O que tem amanhã?
— Você não pode regar um jardim uma vez e esperar que ele floresça para sempre. O amor é um cultivo diário.
O advogado sorriu, despediu-se e saiu pensativo.
Ao chegar em casa, encontrou a esposa irritada porque ele esquecera de comprar algo no mercado. Sua primeira reação foi rebater, justificar-se. Mas então, lembrou-se das palavras do velho magistrado. Respirou fundo, sorriu e pediu desculpas.
Naquela noite, em vez de um silêncio pesado, houve risadas. E ali, sem perceber, começava um casamento feliz.
E você? Está regando seu jardim todos os dias ou apenas esperando que ele floresça sozinho?