Mudança Dos Ventos
—Desta vez não vai ter perdão, ele nunca vai mudar. Não vou ficar mais com alguém que não me respeita. O que ainda estou fazendo com Marcelo? Mas desta vez é o fim. É o melhor que eu tenho a fazer. Eu não paro de pensar em Pedro, pra que vou ficar namorando com quem não me dá a mínima.
—Falando sozinha, Cláudia?
—Marcelo mais uma vez desapareceu num sábado à noite. Pra mim pode desaparecer para sempre. Ele não me respeita, não tem consideração. Já me perdeu há muito tempo.
—Eu acho que ele está passando dos limites, mana. Tenha uma conversa séria com ele.
Cláudia namorava Marcelo há dois anos. Mas sempre foi um namoro um tanto morno e sem paixão ardente. Eram amigos desde a adolescência, ele esteve ausente da cidade por alguns anos e quando voltou começaram a namorar e as famílias deram a maior força. Sempre foram amigas. Ele, sempre muito desligado, por várias vezes faltava a compromissos e sempre vinha com desculpas. Ela já estava cansada desta situação. Já no quarto, ligou para Pedro.
—Olá, Pedro!
—Que surpresa receber sua ligação, você tem fugido de mim nas últimas semanas.
—Estou apenas evitando te encontrar. Desde aquele dia achei melhor me afastar.
—Entendo. Mas você me liga num sábado à noite. Não devia estar com Marcelo?
—Mais uma vez ele desapareceu em pleno sábado. Tremenda falta de respeito.
—Não sei o que dizer. Só você pode tomar um atitude, mas não tem coragem.
—Já tomei minha decisão. Vou terminar com ele. Você tem razão, ele não me merece.
—Eu sinto muito que isto esteja acontecendo. Você não merece.
—Bateu uma vontade de ouvir sua voz, me fortalece.
—Penso em você todos os momentos. Sinto muita falta de te ver, de falar com você.
—Eu também, mas achei melhor me afastar.
—Você pode se afastar de mim, mas não pode se afastar de seus sentimentos. E você está me impondo um castigo muito cruel por um simples beijo.
—Você sabe que não é pelo beijo, é pela situação.
—Este nem é o momento para falarmos nisso. Você tem uma decisão a tomar e eu não acho legal interferir. Não vou tirar proveito da situação.
—Eu sei. Eu só queria ouvir sua voz, falar um pouco com você.
—Ligue quando precisar, a qualquer hora que precisar.
—Obrigada! Sei que amanhã eu vou ter que ser muito firme, vou precisar de força.
—Eu daqui estou pensando em você, desejando que tenha força e que tome a melhor decisão pra sua vida. Acalme-se e durma. Amanhã, você vai fazer o melhor pra você.
Ela tinha conhecido Pedro há quase um ano. Ele veio trabalhar na mesma repartição de Marcelo e se tornaram amigos. Cláudia e ele se encontravam nos eventos sociais ou no clube onde Marcelo sempre jogava futebol com os amigos. Desde o principio houve uma simpatia recíproca entre eles. Gostavam muito de conversar e tinham muito em comum. Foi surgindo um amor entre eles. Mas ela resistia pois tinha um compromisso com Marcelo e suas famílias queriam muito que se casassem. Agora decidira que não iria mais se sacrificar por alguém que não merece e nem pelas famílias que pensavam que podiam decidir por ela. Nos últimos dias ela e Marcelo até tentaram se entender, mas ele nunca se ligava. No dia seguinte ele falou com ela:
—Oi, Cláudia! Estou em falta com você, né? O futebol demorou, a gente foi comemorar e acabei me atrasando.
—Você não tem que me dar nenhuma explicação.
—Vou passar aí pra gente conversar.
—Você se lembra o que te disse da última vez que aprontou?
—O que você me disse?
—Você me considera tão pouco que não se lembra? Eu vou refrescar sua memória. Eu disse que seria a última chance. Portanto, você não precisa vir aqui conversar. Está tudo terminado entre nós. Eu já tomei a minha decisão. Não vou voltar atrás.
–Você está nervosa. Vamos conversar.
—Não temos nada pra conversar. Cansei de ser preterida, de ser desrespeitada. Eu não mereço passar por isso.
—Por favor, me dê mais uma chance. Nas últimas semanas eu tenho tentando mudar.
—Na verdade entre nós não existe amor. O melhor que temos a fazer é terminar tudo enquanto ainda podemos continuar amigos.
—Não é assim, você sabe o quanto eu gosto de você.
—Sei que gosta de mim, mas não me ama, eu gosto de você, mas não te amo, se amei, você conseguiu acabar com o amor. Você pediu pra me perder e acaba de ser atendido.
—Não é assim. Eu preciso de você.
—Não precisa de mim. Tem seu futebol e seus amigos. Faça bom proveito deles. Está tudo terminado entre nós. Hoje não quero conversar, mais pra frente pode até ser. Mas quero que você saiba que não temos mais nenhum compromisso.
—Deixa eu ir aí conversar com você. Posso explicar.
—Hoje não. Estou muito magoada e não quero me machucar mais. É melhor aceitar a realidade. Está tudo terminado entre nós. Só quero conversar pessoalmente porque acho de muito mau gosto terminar um namoro por telefone, embora você não mereça o meu respeito. Mas em nome da amizade que sempre tivemos mesmo antes do namoro, vamos conversar. Eu te ligo quando tiver condições. Mas considere-se liberado de qualquer compromisso comigo.— desliga o telefone, estava tensa, triste e magoada, chora.
Não entendia muito bem porque estava se sentindo tão mal. Sabia que era o melhor para os dois, mas estava se sentido desprezada e humilhada por ele. Desconfiava até que ele estava querendo mesmo era o final do namoro, por alguma razão. Dois dias depois, Carolina, sua amiga chega em sua casa um pouco sem graça. Cláudia sente que ela veio trazer alguma notícia e não parecia boa. Carolina diz:
—Estou aqui pra te falar de algo desagradável. Eu vou te contar o que sei, pois acho que merece saber. Até pra saber que Marcelo não te merece. Sérgio só me contou agora.
—Fale, Carolina?
—Cláudia, estas noitadas deles lá no sítio, além do futebol e das comemorações… Bem, eles ficam lá por tanto tempo, comemorando porque eles levam várias garotas. Eles já vão sabendo que vão ficar por lá.
—Garotas de programa?
—Não. Amigas, colegas de trabalho. Garotas que estão interessadas neles.
—Não posso acreditar. É muita canalhice dele. Estava me traindo há muito tempo?
—Não sei se há muito tempo, mas isto estava acontecendo. Sérgio vai com eles algumas vezes. Mas não envolva meu irmão, por favor. Ele só falou agora porque soube que você terminou. Sabe como eles se protegem, não é?
—Foi bom eu saber. Vai me fortalecer. É a certeza que tinha mesmo que terminar tudo. Eu te agradeço, Carolina. Você é uma grande amiga.
Cláudia chora. Sente-se traída, enganada. humilhada. Liga para Pedro e conversam. Ele sempre muito sensato e centrado consegue acalmá-la. Dois dias depois ela liga para Marcelo e pede para conversarem. À noite ele vai até a casa dela.
—Sente-se. Aqui podemos conversar a sós.
—Eu quero pedir que me perdoe, eu prometo que jamais vai acontecer novamente.
—O que não vai acontecer novamente? O descaso de me deixar esperando ou o desrespeito da traição? — ele fica lívido
—Do que você está falando?
—Eu já sei de tudo, Marcelo. Sei que quando foi pro sítio você já sabia que que não iria vir me encontrar. Sei das amigas que vocês levaram pra lá. Sei que não foi a primeira vez, muitas vezes aconteceu quando você foi pra lá na quarta também. Isto é imperdoável. Não tem nada mais que eu possa fazer senão terminar nosso namoro. Eu estou ferida, ultrajada, machucada, magoada. E acho muito bom que tenha acontecido antes da gente pensar em se casar.
—Quem fez esta intriga, quem está tentando nos separar?
—Intriga? É a mais pura verdade. Espero que você tenha a hombridade de não tentar negar. Vai ser mais honroso pra você.
—Não é porque tinha garotas lá que significa que eu fiquei com alguma delas.
—Então me diga: quem é Patrícia? Sua amiga íntima, não é? Desde quando ela frequenta sua cama? Não tente negar. É inútil. Eu já sei de tudo. — totalmente surpreso ele diz
—Quem te envenenou contra mim?
—Você mesmo. Eu não sou suficiente pra você? Pois bem, agora o caminho está livre pra ela. Faça bom proveito, vocês se merecem. Peço que não tente mentir mais pois espero que um dia eu possa te perdoar e possamos ter uma convivência amigável. Peço também que se retire, pois estou com tanto nojo que não consigo mais olhar na sua cara sem correr o risco de vomitar.
—Não queria que as coisas acontecessem assim. Errei, fui indigno, mas peço perdão.
—Você não me merece, talvez nunca tenha merecido. Por favor, saia daqui.
—Eu vou, mas você vai saber que está sendo injusta comigo.
—Vá embora. Não suporto mais ouvir sua voz. Estou completamente chocada, enojada. Mas vai passar, vou tocar minha vida pra frente. Fingir que estes dois anos nunca existiram. Fingir que nunca namoramos. — ele sai
Cláudia chora. Fica desolada com a traição. jamais esperava de Marcelo um ato tão indigno. Confiava nele e até se sentia culpada por estar se sentindo apaixonada por Pedro, mas agora percebe que ele nunca mereceu nenhuma consideração dela. Vive seu período de tristeza por tudo que passou. Um tempo depois procura Pedro. Marcam um jantar na casa dele. Cláudia chega e é recebida com um abraço.
—Seu apartamento é muito aconchegante.
—E está mais lindo e perfumado agora, com sua presença. Como você está?
—Estou bem, mais agora por estar aqui com você.
—Posso fazer o que quero há muito tempo?
—Certas coisas não se pede. — abraça e beija-a com paixão — Nem acredito que esta noite é real.
—Acho que a gente não tem mais porque se esconder. Nem esconder que nos amamos.
Conversam, jantam. dançam, namoram, vivem uma noite de sonhos. Mais tarde, abraçados na cama.
—Como esperei por este momento, como sonhei com este momento. E superou todas as minha expectativas. Estou em êxtase. Estou no céu. Como eu amo você, Cláudia. Não me deixe nunca mais.
—Também sonhei muito com este momento. Foi inebriante. Que sintonia rola entre nós e que prazer. Que este amor dure. — ele a envolve em seus braços.
Cláudia e Pedro assumem o romance. Marcelo fica sabendo e vai conversar com Pedro.
—Bom dia, Pedro! Fiquei sabendo que você está com a Cláudia?
—Bom dia, Marcelo! O que é “estar” pra você?
—Ora, estar, ficar, namorar.
—Nós estamos nos conhecendo.
—Vocês se conhecem há muito tempo.
—A gente se conhecia como amigos.
—Só como amigos?
—Peço que respeite a mim e a Cláudia. Eu seria incapaz de ficar com uma mulher comprometida. Não divido a mulher que amo com ninguém. Ela seria incapaz de enganá-lo.
—Tudo bem, eu não tenho nada com isto. Ela agora é livre.
—Sim, ela é livre e eu também.
—Você acha que fui um canalha com Cláudia, né?
–—Não acho nada. Só penso que faltou amor entre vocês. Se a amasse não teria traído.
—Não considero traição o que aconteceu, foi só um caso fortuito. Não havia nada entre aquela garota e eu. Apenas sexo casual. Ela se ofereceu e fui tolo de não recusar.
—Um caso fortuito, um sexo casual também é traição.
—O fato é que realmente, todo mundo tinha razão. Não havia amor entre nós. Sempre fomos amigos e não tínhamos nada de nos meter a namorar. Ainda bem que acabou antes do casamento. Desejo que vocês sejam felizes.
—Também desejo que você seja feliz. E que encontre alguém que ame e respeite.
Pedro e Cláudia seguem vivendo uma ardente paixão, um amor de romance, uma vida de sonhos. Mudança dos ventos…