JOAQUIM OU JOÃO?

Ah! Se Joaquim pudesse falar, com certeza ele diria da sua inimaginável história de vida, de como ele chegou até aqui. Ele surgiu num momento muito carente da minha vida, da recente perda do meu cachorrinho João, que se foi bem idoso, deixando um imenso vazio no meu coração. Ah! Se Joaquim falasse, contaria o que teria realmente acontecido antes de ele chegar até aqui. Numa tarde fria, ele apareceu no condomínio onde reside o meu filho e a sua família, no Interior pernambucano, a aproximadamente 600 km da cidade de Crato–CE, totalmente alheio às pessoas e fugindo desesperadamente para ninguém o pegar. Muito magrinho, desidratado e sofrido. Após dias perambulando, foi acolhido por minha nora e trazido para eu cuidar. Ao descer do carro, houve uma conexão imediata e recíproca entre mim e ele. Penso às vezes que o cãozinho Joaquim é o próprio João, que teria retornado. Daí, se ele falasse, a primeira coisa que relataria seria a busca incansável pelo nosso encontro, que havia fugido e buscado o caminho de volta para o seu seguro e querido lar. Falaria da nossa triste despedida, da angústia do abandono na clínica veterinária, do pacotinho inerte no banco do carro, do meu inconsolável lamento, da longa ausência, da saudade e da sua pressa em chegar, motivo por que  ele corria o tempo todo sem ninguém conseguir alcança-lo. Joaquim diria também que atravessou muitos obstáculos até chegar no seu destino, e para provar, pronunciaria o seu nome e também o meu. Relembraria das nossas aventuras, das nossas teimas, das nossas viagens, da nossa caminhada na beira-mar, de nós dois no crepúsculo da tarde, do nosso Natal, da sua roupinha de Papai Noel, das vezes que me viu chorar e das tantas que me viu sorrir e cantar. O papo viraria a noite, com certeza voltaríamos às margens da felicidade do nosso encontro de almas vivido, fantasiado, sentido na fértil imaginação da pureza do doce e verdadeiro amor.