ESPINHOS NO CORAÇÃO DE UM PAI

Maicon olhava pela janela, observando o pôr do sol que tingia o céu de laranja e roxo. Naquela tarde, o peso das palavras que ele estava prestes a dizer parecia mais intenso do que o calor do sol que se punha. Ele precisava falar com seus filhos, precisava que entendessem a complexidade do amor e do desamor, a fragilidade das relações humanas.

Sentados à mesa, Pedro e Ruana o encaravam com expectativa. Ele respirou fundo e, com a voz firme, começou: "Dizei a vossos irmãos, Pedro; e a vossas irmãs, Ruana." As palavras saíram como um reflexo de suas próprias inseguranças. "Contendei com vossa mãe, contendei, porque ela não é minha mulher, e eu não sou seu marido." O silêncio na sala era palpável, como se o ar tivesse se tornado denso.

Ele continuou, revelando a dor que o consumia. "Desvie ela as suas prostituições da sua vista e os seus adultérios de entre os seus seios." A expressão de Pedro e Ruana se transformou à medida que a verdade se desenrolava. Maicon sentia-se como um navegante perdido em um mar de emoções, lidando com a traição que havia se instalado em sua casa como uma sombra.

"Eu não me compadeço de seus filhos," ele disse, a voz tremendo. "Porque são filhos de prostituições." A culpa e a raiva se entrelaçavam em seu coração, como se ele estivesse combatendo uma tempestade interna. "Sua mãe se prostituiu; aquela que os concebeu houve-se torpemente," ele expressou, lembrando-se das promessas quebradas, dos sonhos desfeitos.

A imagem de sua esposa, buscando o amor em outros braços, assombrava-o. "Cercarei o teu caminho com espinhos," ele previu, "para que ela não ache os seus caminhos." Era uma metáfora crua, mas ele sabia que precisava proteger os filhos dessa dor. Eles mereciam mais.

Maicon falava, liberando o que há muito estava preso em seu peito. "Ela irá atrás de seus amantes, mas não os alcançará; e buscá-los-á, mas não os achará." Ele desejava que seus filhos entendessem a futilidade da busca por um amor que não era verdadeiro, que não preenchia o vazio que deixava.

Mas, em meio à sua dor, havia uma faísca de esperança. "E farei cessar todo o seu gozo," ele proclamou, "mas também a atrairei e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração." A ideia de um recomeço, de uma nova chance, era algo que ele não poderia ignorar. "E naquele dia, tu me chamarás: Meu marido; e não mais me chamarás: Meu senhor."

O olhar de Ruana estava fixo em seu pai, enquanto Pedro parecia perdido em pensamentos. Maicon sabia que o caminho seria difícil, mas ele acreditava na possibilidade de reconciliação. Ele ansiava por um futuro onde o amor pudesse ser reconstruído, onde as feridas pudessem cicatrizar.

"E desposar-te-ei comigo para sempre," ele concluiu, "em justiça, e em juízo, e em benignidade, e em misericórdias." As palavras reverberaram na sala, um compromisso não apenas para com sua esposa, mas também para com seus filhos. "E naquele dia farei por eles aliança com as feras do campo, e com as aves do céu."

Enquanto o sol finalmente se punha, Maicon sentiu um alívio. Ele havia compartilhado sua verdade, e agora, mesmo com a dor, havia um caminho à frente. O amor, ele sabia, poderia ser complicado, mas também poderia ser redentor.