Maria Catarina
Em diversos dias, eu passava nas ruas de Santa Teresa pelas nove horas da manhã e entregava as cartas que eram de meu dever entregar. Eu era carteiro, não tinha muito o que esperar de um jovem como eu que chama-se "Tobias". Na verdade eu admirava meu trabalho e era naquele mesmo horário que eu a via. Toda delicada, esbelta e elegante usando vestido de manga bufante. Ela era preta de pele clara, de cabelos enrolados e de fios castanhos escuros. Ah, como ela encantava-me! Visto isso, o nome dela eu não sabia, mas escutei sua vizinha chamando-a de "Maria Catarina".
Nesse sentido, eu fazia de tudo para ser pontual no mesmo tempo de sempre. O que eu mais aguardava no horário de trabalho era a chance de poder observá-la (a mulher que nem sequer despejava uma piscadela para mim). Até que num dia comum da semana, ela resolveu me olhar de volta e aquela pele reluzente, bronzeada e atraente deixou-me desnorteado.
De repente, encontro uma senhora varrendo a calçada da entrada da casa de Maria, a mesma olha para mim e diz:
— É o carteiro, Tobias, certo? — ela perguntou deixando-me surpreso por saber o meu nome e eu apenas assenti com a cabeça.
— Ora, por que não entra para tomar um café ou um copo d'água? Vejo você entregando essas cartas nesse sol quente de verão e fico até aflita com o risco de insolação que tens de desenvolver se continuar assim! — solto uma risada, eu realmente estava sem jeito com a senhora me oferecendo um auxílio. — Vamos, jovem, não faça essa desfeita, por favor!
— Certo, irei aceitar sua proposta! Obrigado, Dona... — digo, mas esperando ter noção do nome dela.
— Dona Rosa! — ela completou.
Então, me encontro dentro da sala de estar de Dona Rosa e bastante constrangido por sinal. Reparei que em sua sala existiam muitas esculturas e retratos de Maria e de Jesus e, por consequência, notei que Dona Rosa era uma mulher religiosa. Porém, tudo ficou mais constrangedor quando eu ouço a voz de outra mulher dizendo: "Vó, temos visita?". Era Maria Catarina descendo as escadas, eu estava novamente deslumbrado com a sua beleza e meu coração até errava as batidas. Logo entendi que a belíssima moça era a neta de Dona Rosa.
— Oh, minha netinha, este é o carteiro Tobias. Eu pedi para ele entrar e refrescar-se, visto que este sol está de matar! — responde Dona Rosa, e então, Maria abriu sorriso tão bonito que fez meu coração palpitar.
— Me chamo Maria Catarina. Prazer em conhecê-lo, Tobias! — ela estendeu a mão para mim.
— O prazer é todo meu senhorita! — toquei em sua mão com um gesto de cumprimento e concluo esta frase mais encantado que nunca com a moça que tanto observava.
Após isso, terminei de bebericar a água e percebi que ainda havia muitas cartas para entregar no restante da tarde, ou seja, precisaria me despedir de Dona Rosa e de Maria Catarina. Entristeceu-me ter que sair dali, mas o dever me chamava.
— Tens de ir mesmo? — Maria questionou com os olhos arregalados.
— Infelizmente ainda tenho cartas para entregar.
Ela pegou um bilhete e escreveu rapidamente: "Procure-me na rua de cima à noite. O endereço é Rua dos Amores, 156". Eu compreendi o recado, queria saltitar de alegria, porém, tinha de conter-me.
Sendo assim, me despedi de sua avó e da bela dama. Segui meu caminho até as casas que restavam para entregar as últimas cartas. Em um piscar de olhos já era noite. Uma noite estrelada, a qual indicava o meu encontro com a minha amada. Quando avistei sua silhueta, não consegui nem acreditar. Até que a mesma aproximou-se de mim e resolveu falar:
— Tobias, não tens ideia de que estou me arriscando, não é? — Maria suspirou, o que deixou-me confuso. — Rosa não faz ideia de que estou aqui nesta pracinha contigo...
— Por que vieras às escondidas, Catarina?
— Rosa é religiosa, acreditas que devo casar com um homem que Deus mandar e de preferência um nobre da burguesia. Ela ofereceu-te água e café, mas não significa que aceitaria o meu romance contigo.
— Se contássemos a ela talvez haveria compreensão! — complemento recebendo um olhar triste de Maria.
— Não funcionas assim, a personalidade de minha avó é complexa...
— Então, lidaremos com isso juntos. Estás de acordo? — sorrio para ela.
— Estou sim, Tobias!
A mesma sorriu de volta e, logo em seguida, nossos lábios encostaram-se como as valsas noturnas de festivais de verão Senti seu toque e seu cheiro do jeito que imaginei que seria: suave e desnorteante. Eu jamais esqueceria este momento, mas também, tínhamos ciência de que enfrentaríamos os julgamentos de Dona Rosa. Portanto, eu era apenas um mero carteiro querendo amar incondicionalmente a querida neta desta senhora.