Entrelinhas de um sonho
Outro dia tive um daqueles sonhos que aquecem o coração ao despertar. Sonhei que a vi, sentada em uma cafetaria bem conhecida perto da Torre Eiffel, famosa por seu charme parisiense e suas mesas externas que dão vista para o monumento.
A cena parecia um enquadramento daqueles que só aparecem em filmes: ela estava com um livro nas mãos, uma xícara de chocolate quente sobre a mesa e um leve sorriso no rosto, como se o frio suave que pairava no ar não a incomodasse.
Era início de outono, e o vento fresco trazia consigo um toque gelado, suficiente para corar levemente suas bochechas.
As folhas alaranjadas caíam devagar, espalhando-se pela calçada de pedra, e o céu estava tingido por um laranja suave, enquanto o sol se punha atrás da torre. Ela estava tão imersa na leitura que não notou minha presença.
Aproximei-me com cuidado, os passos abafados pelas folhas no chão e o barulho suave da cidade ao fundo.
Quando me aproximei o suficiente, coloquei minhas mãos sobre seus olhos, em um gesto brincalhão e inesperado.
Ela se sobressaltou levemente e riu, perguntando: "Quem é?", enquanto suas mãos suaves tocavam as minhas tateando entre meus dedos, tentando adivinhar quem era. O calor de suas mãos contrastava com o friozinho do início da noite.
"Descubra você", murmurei perto de seu ouvido, mantendo o mistério no ar. Ela começou a dizer vários nomes, mas nenhum era o meu. Cada nome errado parecia trazer um sorriso mais largo ao seu rosto. E então, entendi o recado.
Como num passe de mágica, como naquelas cenas de filmes de viagem no tempo, tal qual a cena do filme: Um Retorno no Tempo, desapareci.
Sumi sem deixar vestígios. Ela, surpresa e talvez um pouco intrigada, pegou o celular do bolso e sorriu para a tela, como se algo dentro de si já soubesse. Começou a escrever, talvez para o seu blog, como sempre fazia quando a inspiração surgia repentinamente. Transformou aquele breve encontro em um pequeno conto, onde ambos, misteriosamente, desapareceram.
E mesmo após ter sumido, uma parte de mim ficou, permaneci nas palavras que ela digitava, escondida nas entrelinhas, esperando ser encontrada novamente.