"Renuncia"
__Na noite fria, envolta em trapos, a alma em frangalhos, ela caminhava cabisbaixa.
pessoas passavam ao seu lado sem vê-la.
Suas vozes quebravam o silêncio, ferindo ainda mais aquela alma tão angustiada.
Seguia com passos lentos enquanto as lágrimas caiam silenciosamente, levou a mão a garganta, o nó sufocava, corroía como ácido.
Olhou ao redor, o burburinho das pessoas tinha diminuído.
Chegou mais perto e pode vê que as luzes da casa continuava acesa.
Os olhos embaçados fez com que tropeçasse, deu mais dois passos e encostou_se na cerca Tremendo de frio,
esperou.
Muitos anos havia se passado desde que foi embora.
Por um instante teve medo,
Estava velha, maltrapilha.
Criou coragem e bateu na porta, uma, duas, três vezes, quando ia se virar, ouviu passos, a luz se acendeu e alguém abriu a porta.
Era o ano de 1765, naquele ano muita coisa estava acontecendo, sem ter muito o que comer, as pessoas passavam fome, o desespero tomava conta de quem precisava alimentar uma família
Com Violet não era diferente, tinha acabado de ficar viúva, uma filha adolescente, e sem um lugar decente pra viver.
A desesperança levou seu marido a beber cada vez mais, e adoecendo não resistiu.
Agora, a situação se complicava, não tinha como sobreviver, nem sustentar uma filha.
Ainda estava escuro quando se dispôs a levantar, acordou a menina, agasalhou-a e ganhou a estrada
Sentia uma tristeza imensa, mais tinha a esperança de encontrar alguma coisa que pudesse fazer, e assim manter as duas.
Como pode ele deixa-la assim?
Ficava se perguntando o tempo todo
Sempre fora sua companheira, era honesta e trabalhadora, mesmo nos piores dias sempre buscava ajudar.
Pensativa, agarrando a filha pela mão, continuou a caminhar.
......
Violet morava em um velho casebre, longe de tudo, mais agora, precisava desocupar a casa ou arranjar um trabalho que desse para pagar sua moradia, seu marido em outros tempos saía sempre para pescar, e assim conseguiam viver, mais com sua morte, tudo piorou.
Ela decidiu andar pelo vilarejo , precisava encontrar um trabalho.
Violet andou por horas, o sol já ia alto, Hanna agarrada a sua mão resmungava de cansaço.
Atravessou uma ruazinha cheia de árvores, o ir e vir das charretes demostrava que era um lugar de gente abastada.
Parou em frente uma casa grande, feita de pedras, cercada por um belo jardim, e criando coragem o atravessou.
Deu a volta pelos fundos, avistou alguém e se dirigiu a ele.
Cumprimentou timidamente, e
Perguntou pela senhora
O jardineiro pediu que esperasse e se dirigiu a casa.
Depois do que pareceu uma eternidade, ele retornou pedindo que o acompanhasse.
Deixando Hanna do lado de fora, entrou na casa.
Ficou admirada com a beleza, nunca tinha pensado que alguém pudesse viver numa casa tão grande e bonita, presa no seu mundo, cercada por tanta dificuldade não tinha tempo para sonhar.
uma senhora de aparência miúda e cabelos brancos, levantou o olhos quando entrou na sala
O jardineiro apenas apontou para ela e saiu
Com o olhar de quem estava acostumada a avaliar, ela olhou minuciosamente para
Violet que se sentiu constrangida, não estava bem vestida, mais também não estava suja.
Ela era uma mulher bonita, tinha consciência disso, mesmo os anos de dificuldades não tiraram sua beleza.
........
Depois de tudo tratado e combinado,
correu os olhos pela sala, tudo devidamente arrumado, as cortinas pesadas iam até o chão, a lareira acesa transmitia calor
O próprio chão feito de pedras brilhava.
Pensou na filha, o que faria com ela?
Mais era por ela que estava alí.
......
Violet saiu dali confiante, e ao mesmo tempo temerosa, havia conseguido um trabalho, mais quem olharia sua menina?
Pegando-a pela mão começou seu caminho de volta
A noite se aproximava quando chegou em casa
Enquanto Hanna comia um pedaço de pão com uma caneca de chá, ela matutava sobre o que fazer
Pensou em leva_la para a casa da sua mãe, era longe, ela não ficaria satisfeita, mais não tinha outra opção.
Depois era por pouco tempo, logo tudo ia melhorar
.......
Assim que o dia amanheceu, iniciou a caminhada.
Teria que convence-la.
Depois de um tempo, avistou a casa, a mãe como sempre estava no quintal, sentiu um vento frio passar por ela e estremeceu.
Desde que ficara viúva não a via, não tinham uma boa relação desde seu casamento.
Mais era uma necessidade e esperava contar com sua ajuda.
Com passos firmes se aproximou
Cumprimentou-a e ela olhando de esguelha simplesmente perguntou o que a trazia alí
sem coragem de encarar ela respondeu que era a necessidade, precisava trabalhar e não tinha com quem deixar a menina
E continuou dizendo que
não gostaria de estar alí, não queria ser um peso
Sentiu o tamanho da humilhação, levantou os olhos e encarou o olhar da sua mãe
Ela respondeu como se mastigasse as palavras, dizendo que seu
pai ficaria feliz em ter a neta por perto
Violet sentiu alívio, seu pai era um homem bom, sua filha estaria segura. Não quis entrar, e alí mesmo se despediu
Elas nunca tinham ficado longe uma da outra e depois de um abraço apertado,
se esforçando para não chorar deu as costas e voltou pra casa.
O dia havia sido longo, cansativo e triste.
Violet se resentia de suas decisões, e se esforçou para descansar um pouco antes que o novo dia surgisse.
O dia veio encontra-la bem desperta, juntou algumas roupas e fechando a casa pós-se a caminho.
Caminhando a passos largos logo chegou ao vilarejo.
Era uma vila de pescadores, que ficava situada ao sudoeste, num lugar de encostas íngremes e de ondas que arrebentavam nas pedras causando medo.
levava esse nome devido ao grande comércio local.
Muitos de seus habitantes viviam da pesca, e quando essa lhes faltava sempre havia algum naufrágio onde se podia aproveitar alguma coisa
Violet não se aprofundava nesses assuntos, mais sempre soubera que o contrabando existia na vila, assim como a pirataria.
Pois volta e meia alguém era preso e enforcado.
A casa parecia silenciosa quando timidamente bateu na porta dos fundos,
Alguém a abriu quase que instantâneamente.
Uma senhora robusta e sorridente a encaminhou até a área destinada aos empregados, alí ela depositou
suas coisas e a seguiu até a casa.
Os dias foram passando e Violet procurava se acostumar a ausência da filha.
Durante o dia era difícil pensar, já que o serviço consumia todo seu tempo,
Mais ao deitar para dormir, a saudade doía.
O inverno chegou, e com ele algumas dificuldades,
Como acordar cedo, manter a casa aquecida, o fogo precisava estar sempre acesso na cozinha.
As tempestades iam e viam, não dando tempo para que algumas coisas secassem.
Numa dessas noites em que o mar estava agitado e o vento soprava forte, Violet custou a dormir.
Levantou-se e foi conferir as janelas, ouviu vozes, pareciam alteradas, e com medo, escondeu e esperou.
Viu homens rudes, estranhos, passar pelo pátio em direção ao alojamento, em meio a eles o patrão esbravejava e gesticulava muito, forçando a vista para enxergar melhor, pensou ter visto uma luz ao longe, e imaginando que algo tinha acontecido e que pela manhã saberia, voltou ao seu quarto.
O dia amanheceu cinzento, o silêncio era quebrado pelo barulho das ondas e pelo cascos de alguns animais.
Violet notou ao se dirigir a casa, que alguns daqueles homens eram estranhos, nunca os tinha visto, os olhares que lhe lançaram , eram cheios de cobiça
Deixando-a desconfortável.
Acendeu a lareira, pós a mesa, e quando ia saindo percebeu marcas de lama no chão da sala.
A porta abriu de repente, Albert estava parado, olhando pra ela como se nunca a tivesse visto.
Ele estava impecável, parecia que tinha dormido a noite toda, e seu rosto não demostrava nenhuma emoção.
Ela pensou em falar algo, mais ele a interrompeu pedindo que saísse da sala.
A manhã transcorreu calma, apenas a patroa demostrava um certo nervosismo e não desceu para almoçar.
Violet percebeu que algo não estava certo,
Os homens haviam sumidos, uma bandeja fora preparada e levada até o sótão, mais ela não fazia ideia de quem estava lá.
A noite chegou, alguns homens retornaram e se reuniam no pátio.
A tempestade havia voltado, o vento castigava e Violet se preparou para dormir.
Era de madrugada, quando foi acordada pelo barulho dos animais.
Silenciosamente, levantou e olhando pela janela, viu vários homens carregando os animais que impacientes batiam os cascos no chão fazendo barulho.
Tentando imaginar o que poderia está acontecendo, adormeceu.
Havia um ar pesado quando amanheceu, descobriu que a senhora ia partir, não procurou saber os motivos, mais suspeitava que tinha algo a ver com a movimentação passada.
Procurou por marcas no chão, mais dessa vez não havia nada, tudo estava como na véspera.
Albert desceu para tomar café junto com sua mãe, vez ou outra ele a olhava, mais ela se limitava a abaixar a cabeça e fingir não vê.
Ordens foram distribuídas, a senhora deixou a casa e tudo pareceu bem normal.
Seguia a rotina de levar sempre a bandeja, até que um dia no jantar ela a viu.
Sentada a mesa encontrava uma mulher bonita, pele clara, cabelos negros e olhos tristes
Ela parecia desconfortável, mais ao mesmo tempo percebia seus modos, a altivez por trás de cada gesto.
Albert não disse nada, o jantar foi servido e tudo correu bem.
Tornou-se comum encontrá-la vez ou outra, ora no almoço, ora no jantar, e assim o tempo foi passando.
Durante todo o inverno violet não conseguiu visitar Hanna, as estradas estavam perigosas e ela planejava ir na primavera.
Através dos burburinhos, ela descobriu que a mulher misteriosa era espanhola e viajava com seu marido quando o navio bateu nas rochas.
Ela foi a única sobrevivente sendo resgatada por Albert e seu homens.
Passou-se o tempo e a primavera chegou, aproveitando seu dia de folga, Violet foi visitar a filha.
De longe avistou Hanna, que correu na sua direção.
Como o tempo havia passado, como ela estava crescida, abraçaram-se, não precisava palavras.
Sua mãe de longe observando a cena, cumprimentou Violet e se afastou.
Passaram um dia divertido, Hanna contou o que fazia e Violet falou sobre o trabalho.
Antes do anoitecer despediram, prometendo que breve voltariam a se ver.
A rotina seguiu normalmente e Violet conseguiu manter sua promessa, voltando algumas vezes para visitar Hanna.
Assim se aproximou as festividades de natal, e justamente numa dessas manhãs,a hóspede estava de partida,
Havia murmúrios que ela e Albert mantinha um romance, mas certo mesmo ninguém nunca soube, e assim derrepente ela partiu.
A casa pareceu
vazia, e esperava que a senhora retornasse para as festividades Albert mal ficava em casa, as vezes passava dias sem vê-lo.
Mais uma vez, todos foram pegos de surpresa com a notícia que a senhora tinha pego uma febre e por conta disso tinha falecido.
Apesar de ser considerada mão de ferro, costumava ser justa, e muitos empregados gostavam dela.
As janelas foram cobertas com panos pretos em sinal de luto.
Albert partiu logo na manhã seguinte deixando a casa aos cuidados da velha empregada.
Violet aproveitando os acontecimentos visitava Hanna sempre.
Tinham se tornado mais que mãe e filha, conversavam sobre tudo.
Hanna sempre curiosa, querendo saber sobre a vila, o trabalho.
Violet se mostrava satisfeita com seu interesse.
Não houve festividade na casa, e Albert também não apareceu.
Violet havia comprado fitas para Hanna e foi visitar a família.
cearam juntas e assim que anoiteceu ela retornou.
Tudo corria bem, e os meses passaram rápido, ninguém falava sobre o patrão não estar em casa.
Quase no meado do ano, ele retornou.
Parecia abatido, mais velho, mais olhando bem, continuava o mesmo.
Os olhos sempre a seguia quando estava por perto, isso causava um certo desconforto, e Violet chegou a pensar em algumas vezes que ele a desejava.
Ele raramente comia em casa, preferindo sempre estar com os homens na velha taberna.
Uns diziam que ele sentia falta da espanhola, outros que era da mãe, as janelas continuavam cobertas e não permitia abri-las.
O meio do ano era sempre esperado com muita euforia, nessa época as mulheres costumavam pegar seus cestos e observar o mar durante dias, era a época das sardinhas
Isso garantia o alimento para muitos
E nesse dia Violet se juntou as mulheres , algumas a olhavam de esguelha, outras simplesmente a ignorava.
Assim que encheu o cesto ela foi direto para casa, e logo que chegou pos-se a limpar os peixes.
Alguns seriam salgados e outros defumados para não estragarem.
O dia transcorreu tranquilo, Albert não apareceu em casa e ela foi dormir cedo.
Passaram se os dias, meses, e a casa vivia um luto constante, até que um dia pela manhã ela foi surpreendida com Albert pedindo que as cortinas fossem retiradas, ele estava calmo, seus olhos a perscrustava sem disfarçar e Violet prontamente obedeceu.
Alguns homens vieram para ajudar, e a casa voltou a ser iluminada.
Durante um tempo ele voltou a ficar em casa, as vezes até aparecia para almoçar, Violet estranhou essa mudança repentina, mais também achava que era bom ter o patrão em casa.
Mais uma vez o inverno chegou trazendo muita chuva
Os dias eram cinzentos e frios.
Violet ficava feliz quando chegava a noite e podia descansar
Numa dessas noites tempestuosa, Violet acordou ouvindo vozes, estavam alteradas e ela se perguntou quem sairia em meio a tempestade
O som dos trovões misturado com o barulho do mar batendo nas pedras era ensurdecedor.
Levantou silenciosamente e pos-se a ouvir.
Os homens saiam e entravam carregando caixas, os animais estavam no pátio, Albert gritava gesticulando e Violet teve a sensação de que alguma coisa não estava certo.
Viu Albert sair,
não conseguindo mais dormir, sentou e esperou.
Pouco tempo depois ela ouviu o barulho, pareciam nervosos e dessa vez se dirigiam a casa.
Alguns homens carregavam Albert, e Violet percebeu que havia sangue, botaram ele encima da mesa e alguém pediu panos limpos e água quente
Ela se adiantou e rasgando sua camisa expôs a ferida
Uma lasca de madeira tampava o furo logo abaixo das costelas direita.
Ela não falou nada, mais sabia que assim que tirasse a lasca ele sangraria mais, era preciso costurar.
Pediu que o segurasse firme, e mantendo a calma começou a limpar a ferida.
Albert desmaiou, ela retirou a lasca, limpou e costurou
Os homens o levaram até o quarto e ela permaneceu ao seu lado, rezando para que ele ficasse bem e sem saber o que de fato havia acontecido
Lá fora a tempestade diminuira um pouco, assim como o barulho dos homens no pátio.
Logo que o dia amanheceu Violet preparou uma bandeja e assim que entrou no quarto percebeu que ele havia acordado.
Olhando pra ela meio desconfiado, perguntou o que havia acontecido.
respondeu que tinha limpado e costurado seu ferimento, ele pareceu surpreso mais nada disse
o ajudou a se alimentar e assim que terminou
um dos homens entrou no quarto, parecia nervoso e ela se retirou
Passou o dia indo e vindo, mais Albert dormiu a maior parte do tempo, tinha perdido muito sangue
Havia muita conversa entre os empregados, mas sempre disfarçavam quando Violet estava por perto
E juntando uma coisa aqui outra alí, tinha medo que suas suspeitas fossem verdades
Os dias foram passando, Albert ia melhorando bem, já se levantava, vez ou outra alguém vinha vê-lo e nessas horas sempre havia gritos, xingamentos.
Os homens mais uma vez foram embora, e a casa mergulhou na rotina
O tratamento dispensado a ele acabou aproximando os dois e um dia Violet acabou cedendo e amanheceu em sua cama.
Foi a primeira a acordar e de mansinho deixou o quarto
Assim que ele desceu para tomar seu café, ela meio sem graça saiu da sala
Ele nada disse, abriu a porta e saiu
Passou o dia fora e quando chegou a noite ela percebeu que ele havia bebido, sem dizer nada foi para seu quarto.
Levou um susto quando a porta se abriu e ele agarrando-a com força levou para seu quarto.
Ela o seguiu calada, não conseguia resistir, mais pela manhã precisariam conversar, ela não queria ser a amante do patrão
Novamente Violet foi a primeira a acordar, desceu, preparou uma bandeja e voltou
Sentou numa cadeira e esperou
Albert pareceu surpreso ao acordar e vê-la alí e antes que ela dissesse algo, ele começou a falar
Disse que gostava dela, sempre tinha olhado para ela, admirava sua conduta, era grato por ter cuidado dele e que se ela quisesse poderiam ficar juntos
Violet se surpreendeu ou ouvir tudo isso, quis saber se ele não ia se incomodar com o que iam dizer, as pessoas da vila falariam com certeza
Ele foi taxativo, não se importava, ele precisava de uma companheira e alguém que pudesse cuidar da casa, daquele momento em diante ela levaria suas coisas para seu quarto, e assim seria.
Ela achou que tudo estava indo rápido demais, mais era melhor que ser chamada de amante do patrão, sendo assim ela aceitou.
Albert propôs um jantar, onde ele comunicaria a todos sua decisão, meio sem jeito ela concordou e tratou de providenciar tudo.
Envolvida nos acontecimentos ela sequer pensou em falar com Hanna, assim que tudo se ajeitasse ia visitá-la
A semana foi de muito trabalho, ela levou suas coisas para a casa, os outros empregados perceberam a mudança, mais nada
comentaram e começaram os preparativos do jantar.
violet assou um cordeiro com molho de pimenta, batatas, cebola e nabos.
Preparou também uma massa recheada com carne de veado, não sabia quem era os convidados, por isso caprichou na arrumação da mesa
Sentiu o olhar de aprovação de Albert ao vê-la, isso a fez sentir-se segura.
As pessoas foram chegando e uma a uma iam sendo apresentadas a Violet, e assim ela se tornou senhora daquela casa
As pessoas passaram a olhar pra ela diferente quando ia as compras, algumas a cumprimentavam, outras ignoravam, mais com o passar dos dias tudo foi voltando ao normal.
Ela cuidava da casa, dava as ordens na cozinha e a noite tinha Albert.
Ele as vezes ficava dias fora de casa, ela nunca sabia onde ele ia e aproveitando uma dessas saídas foi vê Hanna.
Ia pensando em como contaria a ela e seus pais, mais já havia se passado um tempo e não dava para esconder
Talvez sua mãe não entendesse, mais contava que Hanna fosse apoia-la
Assim que a viu notou o quanto ela estava mudada, mais adulta, tinha se transformado numa linda mulher, os olhos verdes faziam uma combinação exótica com seus cabelos vermelhos.
Hanna ficou
Feliz em vê-la, lamentou o tempo passado e Violet buscou a melhor maneira de explicar o que tinha acontecido.
Sua mãe foi dura, disse que não era certo e não ia permitir que Hanna fosse viver com ela, seu pai desejou sorte e Hanna pediu apenas que não deixasse de vê-la
De volta pra casa, Violet se sentia triste, estava bem com Albert, ele nunca perguntava pela sua filha, mais ela imaginava que dando tudo certo um dia pudessem ficar todos juntos.
Assim que chegou percebeu que ele havia voltado, parecia cansado e ela não quis aborrece-lo com suas dúvidas
Os dias transcorriam tranquilos, e mais um ano chegava ao fim.
Ela propôs uma coisa simples para o Natal, ele disse que podia convidar seus pais e sua filha, mais ela desconversou dizendo que seus pais não iria, estavam velhos e Hanna não os deixaria sozinhos
Ela os visitaria na manhã seguinte.
Tiveram uma noite agradável, ela preparou o jantar, alguns conhecidos apareceram, comeram, beberam e foram embora satisfeitos
Logo pela manhã Albert a levou até o pátio, queria lhe dar um presente.
Um cavalo estava sendo encilhado e Violet nunca tinha visto um animal tão bonito
Negro como a noite, seu pelo reluzia, ela se aproximou e Albert a abraçou carinhosamente.
Era seu, não havia a necessidade de andar tanto para ir ver sua filha, e também para quando ela quisesse simplesmente galopar
Com os olhos marejados ela agradeceu sorrindo, montou e seguiu em direção a casa da sua mãe.
Ficaram surpresos ao vê-la chegar galopando
Percebeu durante a visita que sua mãe não estava bem, perguntou sobre isso a Hanna, mais ela disse que era apenas uma tosse.
Antes do anoitecer Violet voltou pra casa, garantindo que voltaria logo.
No primeiro dia do ano ela voltou, levava algumas coisas,
Hanna ficou feliz, mais Violet percebeu que ela tinha olheiras e sua mãe continuava tossindo
Disseram que tudo estava bem, mais ela voltou para casa com uma sensação estranha.
Passou um bom tempo sem que ela pudesse ir até lá, Albert estava em casa, e além disso o tempo não andava bom
Ventava e chovia muito, e com isso ela precisava manter a casa aquecida
E foi numa noite dessas que ela descobriu o que acontecia nas noites de tempestades
No meio da noite Albert disse que precisava sair, tinha trabalho a fazer, Violet questionou qual seria o trabalho numa noite como aquela
Ele olhou pra ela, segurou suas mãos firmes e simplesmente disse que havia um barco encalhado e que precisavam salvar algumas coisas
Violet se lembrou da luz que ela sempre via naqueles dias e sem pestanejar perguntou se ele tinha alguma coisa a ver com os naufrágios, de cabeça baixa ele disse que sim
Tudo era tramado, seus homens direcionavam os barcos em direção as rochas e eles roubavam a carga.
Ela ficou estupefata, quis saber sobre a mulher que tinham levado pra casa
Ele contou que ela fora a única sobrevivente do barco e depois de garantir que nunca diria nada, tinha voltado para sua terra
Violet sabia dos piratas, mais nunca imaginou que acabaria morando com um
Ele largou suas
mãos e foi em direção ao pátio, onde os homens o aguardavam
Pela manhã ele retornou estava encharcado e com a aparência cansada, Violet nada disse, ajudou -o a se trocar e preparou algo quente para beber
Lá fora continuava chovendo
Durante vários dias os homens entravam e saiam, ela já não se incomodava mais, Albert fiscalizava tudo e algumas vezes acompanhava os homens, ficando fora de casa
Assim que parou de chover, Violet encilhou seu cavalo e saiu para visitar sua família
Logo que chegou percebeu que alguma coisa não ia bem, ninguém veio recebe-la, tudo estava silencioso.
A porta estava aberta e ela foi entrando, encontrou Hanna no quarto com sua mãe.
Ficou espantada ao vê como ela tinha emagrecido, Hanna também estava abatida, e ficou contente com sua chegada.
Sua mãe tentou falar alguma coisa, mais foi impedida pela tosse.
Ficou sabendo que sua mãe tinha piorado muito e não tinham esperança de que ela melhorasse.
Seu pai, abatido, mal conseguia falar.
Tentou tranquilizar a todos
Deixou Hanna descansando e preparou o almoço, cuidou da sua mãe e logo que anoiteceu voltou para casa
Ia com o coração apertado, Hanna ainda era muito jovem para carregar um fardo tão pesado, por outro lado imaginava que se sua mãe morresse todos poderiam viver juntos.
Os dias foram passando e Violet buscava sempre estar com Hanna, sentia sua dificuldade, notava que sua mãe não melhorava e pra piorar seu pai foi se afastando.
Ela sentia que na sua dor ele não sabia como reagir, a situação se complicava.
A primavera chegou trazendo um colorido novo, o sol aparecia mais, e com isso a esperança de dias melhores.
A vida de Violet tinha se tornado agitada, as vezes Albert recebia convidados, e nessas ocasiões ela sempre procurava demonstrar seu desempenho servindo e tratando a todos com elegância.
Findou o ano.
Nos primeiros dias do ano novo, sua mãe falecera.
Aproveitando a ausência de Albert, Violet ia todos os dias visitar Hanna e seu pai.
Sabia que tinha que fazer alguma coisa, não seria mais possível que os dois vivessem sozinhos.
Com esse pensamento ela aguardava ansiosa a volta de Albert, pois achava que poderia leva -los a morar com ela.
Passados alguns dias ele retornou, parecia satisfeito e ela buscava uma maneira de po-lo a par da situação.
Assim que o jantar terminou, ela achou que era a hora, contou que sua mãe havia falecido, que não sabia o que fazer com Hanna e seu pai.
Sempre deixando claro que não esperava nada dele, mas que se preciso fosse ela iria ficar com eles.
Ele ouviu sem demostrar nenhum sentimento, e quando ela terminou apenas disse que eles eram bem vindos a casa.
Violet respirou aliviada, agora precisava convencer seu pai e Hanna.
Durante os dias seguintes ela organizou tudo, preparou um quarto pra cada e fez questão de coloca -los lado a lado, mas em outra parte da casa, para que não vissem ou ouvissem o que acontecia durante as tempestades.
Albert viajou novamente, ele sempre saia com muita carga e acompanhado de alguns homens.
Aproveitando esse tempo, Violet foi até seu pai.
O encontrou cabisbaixo, ela o abraçou, preparou a comida e expôs a situação.
Por um instante ela imaginou que ele não iria, talvez quisesse ficar alí onde sempre vivera e a lembrança da sua mãe era bem vívida.
Más pra sua surpresa ele concordou, viu a empolgação de Hanna e achava que seria bom pra ela.
Intimamente Violet agradeceu, estava satisfeita, depois de anos separadas finalmente mãe e filha ficariam juntas.
Elas começaram a arrumar as coisas, e seu pai pediu dois dias para que ele organizasse seus pertences.
Assim ficou decidido que Violet voltaria para buscá-los.
De volta a vila, tudo estava normal, e ela aproveitou para se recolher mais cedo.
Passado os dias, nas primeiras horas da manhã ela foi até o estábulo, pediu que lhe arrumasse a carroça.
Assim que ficou pronta ela partiu.
Encontrou Hanna esperando ansiosa, seu pai parecia distante, mas ajudou a arrumar as coisas, fizeram um lanche e pegaram a estrada de volta.
Chegando em casa, ela os levou até seus quartos, pediu que descansassem um pouco enquanto ela preparava a refeição.
Apesar da tristeza em ter perdido sua mãe, ela estava radiante por ter os dois ao seu lado.
Os dias foram passando e tudo corria bem, seu pai pouco saia do quarto, indo algumas vezes até o estábulo vê os animais, Hanna tentava ajudar e fazia muitas perguntas.
Certo dia enquanto
descia as escadas Hanna se deparou com Albert, nunca tinham se visto e ela parou.
Sua respiração acelerou e não sabia o que dizer.
Albert havia chegado em casa durante a manhã, e quando se dirigia ao escritório, a viu descendo as escadas.
Ele parou embevecido,
se Violet era uma mulher bonita, Hanna era excepcional.
Não conseguiu desviar os olhos, os longos cabelos vermelhos, e aqueles olhos verdes era uma combinação maravilhosa.
Atrás dele, Violet percebeu a situação e se adiantando explicou que era sua filha.
Hanna, meio sem jeito, entendeu a mão que ele apenas tocou e se retirou.
Durante o jantar ele conheceu seu pai, não demostrou nenhuma emoção, mas parecia ter simpatizado com ele.
Vez por outra seus olhos cruzavam com os de Hanna causando um certo embaraço.
Depois daquele jantar o comportamento de ambos mudou, Albert parecia frio e distante, enquanto Hanna evitava circular pela casa.
Violet percebeu a situação e atribuia isso ao fato de nunca terem se visto e levaria um tempo até se acostumarem.
Hanna não sabia muito da vida, mas desde que vira Albert, sabia que algo em si mudara.
Pensava nele com frequência e as vezes acordava no meio da noite com a sensação que lhe faltava algo.
Albert por sua vez, vivia um turbilhão de emoção, não conseguia parar de pensar em Hanna, e tinha consciência de que era uma situação delicada.
Violet já não o tinha como antigamente, quando não estava ausente, ficava no escritório até tarde, indo se deitar somente depois que ela adormecia.
Assim, o que era para ser uma convivência harmoniosa , tornou-se difícil.
O tempo passou e as tempestades tornaram frequentes, por várias vezes Violet ouvia o barulho das ondas e o som dos cascos dos animais batendo no pátio abaixo da sua janela.
Nessas horas ela apenas esperava que nem Hanna, nem seu pai percebesse algo.
Numa madrugada em que a tempestade parecia querer dá uma trégua, Violet percebeu que Albert não havia ainda se deitado, imaginando que ele ainda não tivesse retornado ela se levantou e olhou pela janela.
O pátio estava iluminado, viu alguns homens tirando as cargas dos animais.
Resolveu então descer as escadas e vê se Albert precisava de alguma coisa.
Percebeu uma claridade no escritório e sem pensar abriu a porta.
No primeiro momento ela parecia petrificada, seus olhos não queriam acreditar no que viam
Em pé abraçados em frente a janela, Hanna e Albert.
Violet apenas sentiu a lágrima escorrer do seu rosto, Hanna tentou se desvencilhar, mas Albert a segurou e naquele momento Violet sentindo que não havia nenhuma explicação a ser dada se retirou.
Quando amanheceu procuraram Violet por toda a casa e não a encontraram, apenas um bilhete onde se lia;
Renuncio a minha felicidade por uma felicidade maior, adeus.
Passaram se muitos anos e nunca mais se ouviu falar dela, Hanna e Albert casaram, tiveram filhos, o avô falecera, diziam que por saudades de Violet, e apesar dos tempos estarem mudando Albert ainda praticava sua pirataria.
E longos anos depois, numa noite fria, alguém bate a porta, a pequena Flora corre a abrir e se depara com uma senhora suja e maltrapilha.
Violet está olhando pra si mesma, sua neta, filha da sua filha com o homem que um dia ela amou.
Os soluços sacodem seu corpo, a mão tenta uma carícia, e a última coisa que ela vê, é Hanna correndo pra lhe abraçar.