Copacabana

Copacabana

Era manhã do dia 30 de dezembro, e o sol já começava a iluminar as areias de Copacabana. Ana havia ido passar as férias no Rio de Janeiro, morava em Recife e era sua primeira vez na cidade, ela acordou cedo naquele dia, o vento calmo invadia seu quarto do hotel, levantou-se, se arrumou e decidiu caminhar pela orla... A praia ainda estava vazia, tirou seu chinelo e começou a caminhar descalça pela praia, sentindo a mistura de calor e frescor entre os grãos de areia e a brisa salgada que balançava seu vestido leve. Ana já sentia que o próximo ano seria o SEU ano, enquanto andava pela praia pensava em tudo que aconteceu naquele ano, parecia uma vida inteira! Algo na vastidão do mar a convidava a molhar os pés. Chegando à beira da água, ela sentiu as ondas quebrarem vigorosamente em torno de seus tornozelos, geladas e sim, ela se sentia viva, fazia muito tempo que não se sentia assim!

Enquanto se perdia em seus pensamentos, algo chamou sua atenção ao longe. Um homem alto, cabelos castanhos cacheados, corria na direção oposta à sua, o ritmo cadenciado e constante. Ele parecia concentrado, mas havia algo nele que a fez parar e observar disfarçadamente por um momento. Quando seus olhares se cruzaram, Ana sentiu o coração bater mais rápido. Ele era lindo, com uma presença que se encaixava perfeitamente com o movimento das ondas que quebravam na areia.

Roberto, paulistano, publicitário, com alma de boêmio, estava em sua terceira virada de ano no Rio. Nas vezes anteriores, sempre cercado de amigos e festas, aproveitava a energia da cidade. Mas dessa vez, queria algo diferente. Precisava de tranquilidade, um tempo só para si. Havia prometido aos amigos que se juntaria a eles na festa da virada, mas decidiu se hospedar sozinho. Queria a liberdade de não ter planos, de seguir apenas os impulsos do momento e aproveitar a cidade de uma forma mais pessoal. A corrida faz parte do seu dia a dia, por isso, naquela manhã como todas as outras, havia decidido correr na praia antes que ela começasse a lotar de turistas querendo aproveitar o verão e pegar uma cor. Ele já estava na marca dos 4km, ele não costumava se distrair quando corria, isso atrapalhava seu controle de respiração. Mas à sua frente via uma moça de vestido olhando pro mar e não conseguiu pensar em mais nada além do que será que passava na cabeça dela, ela parecia hipnotizada pelas ondas e ao mesmo tempo com um semblante calmo e sereno, à medida que foi se aproximando lançou um olhar rápido, mas intenso, para moça, antes de seguir em frente.

Ana se virou para continuar sua caminhada, mas, à medida que seguia em frente, notou que o homem olhava para trás várias vezes, como se algo o tivesse tocado também. Um sorriso involuntário surgiu em seu rosto, e enquanto o sol subia no céu, Ana se pegou pensando mais nele do que gostaria.

O resto do dia passou devagar. Ana voltou para o hotel, tentando se concentrar em outras coisas, mas a lembrança daquele breve encontro na praia não saía de sua cabeça.

Mais tarde, ao ligar para suas amigas em Recife, Ana falou sobre o Rio, tudo que ela conheceu e como o povo carioca é diferente e divertido, e inevitavelmente mencionou o homem que havia visto.

— Eu estava caminhando na praia de manhã, a praia estava vazia e, vi um rapaz correndo na areia. Foi estranho..., mas ao mesmo tempo, me senti conectada a ele de alguma forma.

— Conectada? Com um estranho? — brincou uma das amigas, rindo.

— Pois é, parece loucura — respondeu Ana, rindo também. — Mas sabe aquele tipo de olhar que te faz pensar: "quem é você?" Foi assim. E ele olhou para trás várias vezes...

As amigas riram e mudaram de assunto, mas para Ana, aquele breve momento tinha algo de especial, ela não sabia por que tinha sentido aqui e muito menos havia experimentado sensação parecida antes. Nos últimos meses, ela havia se acostumado à solitude, ao conforto de sua própria companhia. Viajar sozinha para o Rio fazia parte desse processo de redescoberta, um desafio que havia se imposto para explorar mais sua independência. Mas, ao mesmo tempo, não podia negar o quanto aquele encontro matinal havia mexido com ela.

Roberto passou o dia ocupado resolvendo coisas do trabalho, trabalhar com publicidade é estar 100% online no trabalho mesmo no recesso, almoçou na Lapa com os amigos, mas apesar de não ter falado nada sobre a moça da praia para ninguém, vira e mexe a imagem dela surgia em sua mente.

Quando o fim da tarde chegou, Ana decidiu voltar à praia. O sol estava se pondo, o céu estava pintado com tons de laranja e rosa. Dessa vez a praia estava cheia, não tinha muitos lugares para escolher, por isso, estendeu sua canga num pedacinho de areia e ficou ali, tomando o que restava de vitamina D pro dia.

— Com licença... posso me sentar aqui?

Ana virou-se e, para sua surpresa, era ele. O mesmo homem que havia cruzado seu caminho pela manhã. Dessa vez, ele estava sem a roupa de corrida, mas com o mesmo olhar penetrante.

— Claro — respondeu Ana, um pouco surpresa, mas com um sorriso tímido. — Por acaso, você estava correndo na praia mais cedo?

Roberto riu, envergonhado, e se sentou ao lado dela.

— Sim, era eu. E eu me lembro de ter visto você também. Não pude deixar de notar.

Ana riu, e seu coração começou a bater muito forte, apesar dos seus 27 anos, esse rapaz realmente mexia com ela de uma forma diferente.

— Achei que fosse coisa da minha cabeça — ela disse, rindo suavemente.

A conversa, que começou tímida, aos poucos foi fluindo com naturalidade. Roberto falou sobre sua vida em São Paulo, seu trabalho e sobre como sempre passava seus anos novos no Rio. Ana compartilhou um pouco de sua própria jornada, contando sobre o quanto o ano havia sido desafiador e sobre o processo de redescoberta que estava vivendo.

O tempo passou sem que eles percebessem, e antes que notassem, o sol já havia sumido no horizonte.

— E amanhã? Onde vai passar a virada do ano? — perguntou Roberto, olhando para o céu já começando a escurecer.

Ana deu de ombros, um sorriso leve nos lábios.

— Aqui mesmo, na praia, não é assim que os turistas passam?

— Nem sempre, respondeu Roberto. Tem a galera que não gosta da muvuca da praia, mas esse ano gosto muito do show que vai rolar, talvez eu venha pra cá também. — respondeu ele. — E se eu vier... talvez a gente pudesse passar juntos.

Ana olhou para ele, surpresa e ao mesmo tempo animada com a ideia.

— Não sei, acabei de te conhecer, e se você for um louco sequestrador de turistas? — disse ela rindo.

Roberto olhou bem pros olhos dela, riu de maneira suave, olhou novamente para o horizonte.

— Bom, nesse caso, você teria que se arriscar, mas vê pelo lado bom, estaremos em volta de milhares de pessoas, se você der 10 passos pra longe de mim, já vou te perder... você estará segura.

Dessa vez os dois riram e Ana sabia que mesmo que quisesse, estava ali pra viver coisas novas, não recusaria o convite de Roberto.

— Vamos fazer assim — Disse Roberto — amanhã estarei aqui no mesmo horário e vou te esperar, se você não vier, vai ter que lidar com a sua consciência de ter deixado um Paulista sozinho e triste no meio de Copacabana no réveillon. Baita responsabilidade hein!

— Combinado! — Ana respondeu rindo.

Ambos se despediram, Roberto tinha um churrasco com os amigos e Ana só queria tomar um banho e tirar o sal da pele.

Na noite seguinte, o céu de Copacabana estava cheio de expectativas. Ana e Roberto se encontraram novamente, ambos vestidos de branco, como se o destino realmente os quisesse juntos naquele momento. A praia estava lotada, mas eles pareciam estar em um mundo à parte, conversando sobre tudo e observando a contagem regressiva para o novo ano.

Mesmo sendo tão diferentes, Ana e Roberto sentiam como se tivessem muito em comum, Ana nunca esteve em São Paulo, mas Roberto era apaixonado por Pernambuco, havia passado o carnaval em Olinda 2x, se hospedado em Recife tantas outras e assim como ela, amava o São João. Ana o convidou pra ir pro São João de Caruaru no ano seguinte e ele a chamou pra curtir o carnaval no Anhembi.

Era estranho o quanto os dois já estavam conectados e fazendo planos para o ano seguinte...

Até que um silêncio invadiu os dois... Ana só ouvia seu próprio coração acelerado.

Roberto tentava controlar sua respiração.

— Sabe, estou feliz que nos encontramos de novo — disse Ana, quebrando o silêncio.

— Eu também — respondeu Roberto, seus olhos fixos nos dela.

Os dois são interrompidos pela contagem regressiva que começou. As pessoas ao redor gritavam os números com empolgação.

— Dez, nove, oito... — A multidão contava, e Ana sentiu a adrenalina subir.

No "um", os fogos explodiram no céu, iluminando tudo ao redor. Ana olhava pro céu maravilhada, os fogos estavam lindos!

Roberto se aproximou de Ana, sem hesitar, e ela virou-se para ele, seus olhares se encontrando uma última vez antes que ele a puxasse suavemente para perto. E então, sob o espetáculo de luzes e cores, eles se beijaram pela primeira vez.

Foi um beijo calmo, mas cheio de promessas. Enquanto o céu se enchia de explosões multicoloridas, algo dentro de Ana e Roberto se transformava. Eles sabiam que, a partir daquele momento, suas vidas mudariam para sempre.

O que viria depois? Nenhum dos dois sabia ao certo. Mas naquele instante, sob os fogos de Copacabana, parecia que era tudo que eles precisavam, um ao outro e mais nada.

Ana olhou para Roberto, seus olhos brilhando com a luz das explosões coloridas.

— Feliz Ano Novo, Ana — disse ele, a voz baixa, mas cheia de significado.

Ela sorriu.

— Feliz Ano Novo, Roberto.

Pamella Martini
Enviado por Pamella Martini em 10/10/2024
Código do texto: T8170562
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