O último adeus à Luiza

(Contos/Romance/Mistério)

 

Naquele momento, havia várias pessoas ao redor de Luiza. Parentes e alguns amigos, e entre eles um murmúrio só. Será que Ele vem? Sim, parece que essa frase rondava o caixão de Luiza. Essa que em vida experimentou várias vezes um adeus daquele que ela dizia amar de verdade e eternamente. E esse era o autor dessa expectativa.

 

Todos estavam vestidos de preto, alguns com lenços, enxugavam as lágrimas, Luiza sempre foi muito querida entre todos eles. Várias coroas de flores estavam ali bem próximas dela, todas com dizeres amáveis. O velório começou às 16h, notadamente o fluxo de pessoas era constante, entravam e saiam do pequeno salão na funerária; quase todos eram seus vizinhos no bairro onde morava. E não era segredo pra ninguém suas desavenças com seu ex-marido, mas sabiam também do quanto ela o amava.

 

Luiza morreu por conta de uma descarga elétrica durante uma tempestade que se abateu na região onde morava, nas constantes idas e vindas da energia, ela pensou em desligar seus aparelhos e foi assim, quando tentou puxar a tomada do ar condicionado, nesse momento um raio seguido de trovoada a jogou para bem longe e ela caiu já sem vida.

 

A tarde se punha como em ressaca, já não chovia mais, porém as nuvens lentas e escuras pareciam seguir um funeral para bem distante, o vento sibilava por entre as arvores como quem anuncia uma partida. Já chegava a noite e nesse instante todos pareciam estar de acordo com um abre alas. Àquele quem tanto esperavam, cadenciadamente se aproximava do caixão. Vestia um terno escuro, olhos fixos, tênue e semblante de quem estava abatido. Óculos escuro em uma das mãos e uma toalhinha trêmula na outra, dava conotação aos seus gestos. Era Lázaro o seu ex-marido.

 

Ele tocou-lhe a testa, estava fria como de todos que se encontra naquela situação. Por um instante se manteve inerte com os olhos que pareciam atravessar as sobrancelhas de Luiza, talvez, quem sabe, buscando ver pela última vez a linda cor dos olhos de sua então ex-mulher, agora já finada. As pessoas o olhavam como quem contempla a cobrança de um pênalti numa partida de futebol. Lázaro dividia as opiniões sobre ele com relação ao seu casamento com Luiza. Para uns era um santo, um marido exemplar, mas para outros um satã, transvestido de homem.

 

Lázaro parecia estar rezando. Mas não, naquele momento nos seus pensamentos estava passando um filme de toda sua vida com Luiza, e vez ou outra se ouvia ele dizer, baixinho... “meu Deus” ... no mesmo instante que sua mão tremulava. Ambos ainda eram novos de meia idade. Ela 48 e ele 51. Porém, Lázaro escapara de um AVC há bem pouco tempo, e algumas sequelas eram percebidas em sua vida. Manquejava um pouco e uma das mãos tremia quando se emocionava.

 

Ele sabia que ela o amava muito, contudo, era muito ciumenta e demais possessiva, o atormentava com tantas desconfianças e por qualquer pretexto, mandava-o embora de casa. Ele ia, expressava um adeus, mas depois voltava, devido aos clamores e prantos de Luiza, que se dizia arrependida. Lembrou-se da última vez que saíra de casa. Naquele dia ele estava disposto a não voltar nunca mais. Luiza ajoelhou-se aos seus pés e aos pés da cama o implorava para que não fosse embora, por algum motivo ela se deu conta que aquela vez era mesmo para sempre. Lembrou-se das palavras que ela dizia em suas súplicas: “eu te amo e não quero mais que você me deixe. Por favor, pelo amor de Deus não se vá”. Mas Lázaro estava mesmo irredutível. Arrumou suas poucas coisas e partiu sem olhar para trás. Também se lembrou do que ela disse, quando Ele já estava saindo de casa. “Eu não vou desistir de você, mesmo que eu morra, vou leva-lo comigo, o que sinto por você é eterno". Naquele instante Lázaro passou a sua mão por sobre a dela, percebeu um leve semblante no rosto de Luiza; sentiu algo fulminante em seu coração e caiu para trás. Debateu-se um pouco, depois morreu.

 

As pessoas ficaram atônitas, O SAMU chegou, levou o corpo, no dia seguinte no mesmo local na mesma hora, havia outro velório. Era de Lázaro. Havia várias pessoas ao seu redor. Parentes e alguns amigos, e entre eles um murmúrio só. Será que ELA vem? Já chegava a noite e nesse instante todos pareciam estar de acordo com um abre alas. Àquela quem tanto esperavam, cadenciadamente se aproximava do caixão. Usava um vestido e na cabeça um véu, ambos de cor preta; olhos fixos, tênue e semblante de quem estava abatida. Era Virgínia a suposta amante de Lázaro., com essa, a história era outra e bem diferente. (...)

 

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Antônio Souza

(Escritor)

 

Música:

https://youtu.be/dw32imw0PbU

Tim Maia – Eu sei que vou te amar

 

*” Contos” é um gênero literário, onde o autor cria ilusões no leitor. Não há compromisso com a verdade. Daí a célebre expressão: - “Qualquer semelhança com fatos e pessoas, são meras coincidências”.