Meu amigo Chiquinho

Por Helena Bernardes

Nasci e cresci ouvindo histórias de santos, mas nenhum me tocou tanto quanto São Francisco. Para mim, ele nunca foi apenas uma figura distante nas imagens da igreja, vestido com seu hábito simples e rodeado de animais. Ele era meu amigo. Eu o chamava de Chiquinho, assim, com essa intimidade que só se tem com alguém que nos conhece por dentro, nos guia e nos consola nos momentos mais difíceis.

Foi numa manhã calma, na roça, enquanto regava as flores do jardim, que senti sua presença pela primeira vez. Um vento suave balançou as folhas das árvores, e no canto dos pássaros, parecia haver um sussurro de paz. Lembrei-me de Chiquinho, o santo que sempre pregava o amor à natureza, aos pequenos seres, e aos homens, mesmo em suas imperfeições. Falei em voz alta:

— Chiquinho, se estás aí, ajuda-me a ver a beleza em tudo isso.

Daquele dia em diante, ele se tornou mais que uma figura na minha fé. Era como se caminhasse ao meu lado, me ensinando a enxergar o mundo com mais doçura. Sempre que eu enfrentava dificuldades, como quando as colheitas não iam bem ou quando as dores do passado assombravam meu coração, eu sentia aquela brisa leve de novo, e sabia que Chiquinho estava por perto, me ouvindo.

Em uma tarde, quando a solidão parecia mais pesada, fui para o quintal, sentada no banco de madeira. O céu estava limpo, e o sol já começava a se despedir no horizonte. De repente, vi um pequeno passarinho pousar ao meu lado, sem medo. Olhei para ele e sorri. Lembrei de Chiquinho e disse baixinho:

— Você o enviou, não é, meu amigo?

E no meu coração, senti uma resposta. Não em palavras, mas em uma sensação de calma, de que tudo estava exatamente onde deveria estar. O passarinho cantou e depois voou para a árvore mais próxima, deixando-me com um sorriso no rosto.

Ao longo dos anos, essa amizade com Chiquinho só cresceu. Passei a conversar com ele todos os dias, compartilhando minhas alegrias e tristezas, como fazemos com os amigos mais íntimos. E, muitas vezes, quando as palavras não vinham, bastava olhar para o céu, para uma flor, ou ouvir o som do vento entre as árvores, e eu sabia que ele estava ali, ouvindo cada suspiro da minha alma.

Chiquinho me ensinou a ver beleza até nas dificuldades. A aceitar que, como as folhas que caem no outono, há momentos em que devemos deixar ir o que já não serve. Mas ele também me ensinou que, assim como a primavera sempre volta, a alegria e a paz também sempre retornam para aqueles que cultivam o amor.

E assim, sigo minha vida, com Chiquinho sempre ao meu lado. Não o vejo como um santo distante. Ele é meu amigo, o mais próximo que posso ter. Quando preciso de forças, chamo por ele, e em seu silêncio cheio de amor, ele responde, guiando meus passos de volta ao caminho da fé.

Sim, Chiquinho é íntimo de meus débitos, conhece todas as minhas falhas, mas nunca me julga. Pelo contrário, me acolhe, me incentiva a continuar. Porque, no fundo, ele sabe que é no amor e na simplicidade que encontramos nossa verdadeira essência. E por isso, com carinho e gratidão, sempre que preciso, chamo:

— Chiquinho, meu amigo, vem me guiar mais uma vez.

Vovó Onça Contadora de Histórias
Enviado por Vovó Onça Contadora de Histórias em 04/10/2024
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