LUA AZUL
Era uma vez uma jovem chamada Clara, que carregava um sorriso no rosto, mas uma tempestade dentro do coração. Desde pequena, ela havia acumulado traumas que a isolavam em um mundo de tristeza. Ninguém ao seu redor parecia compreender a profundidade da sua dor; suas tentativas de desabafar eram frequentemente desacreditadas, rotuladas como "frescuras". Mesmo assim, Clara mantinha vivos os sonhos de um futuro cheio de felicidade: namorar, casar e ter filhos.
Havia um garoto, Lucas, que ocupava seus pensamentos mais doces. Ele era o objeto de sua adoração, mas seu coração já pertencia a outra. Clara sonhava com ele todas as noites, imaginando um mundo onde ele a amava de volta. Com o passar do tempo, a realidade se tornava mais dura; a vida não era um conto de fadas, e as pessoas, muitas vezes, eram indiferentes ao sofrimento alheio.
Em meio a essa solidão, Clara conheceu Gabriel, um rapaz mais velho que começou a se interessar por ela. Gabriel era diferente; ele a ouvia de verdade e parecia compreender suas angústias. A maneira como olhava para ela, com um carinho genuíno, fazia Clara sentir-se vista e especial. Ele a chamava ternamente de "lua azul", enquanto ela o nomeava de "ébano", por causa da sua pele escura e suave. O relacionamento deles floresceu, mas era envolto em segredos. Gabriel era casado, e a família de Clara desaprovava a diferença de idade.
Quando o pai de Clara descobriu o romance, a situação se tornou insustentável. Uma grande surra e ameaças ao jovem foram o fim daquele amor escondido. A pressão da família era implacável, e Clara foi forçada a se afastar de Gabriel, deixando para trás uma parte de si mesma.
Logo depois, uma nova firma se estabeleceu no bairro, trazendo trabalhadores de fora, entre eles, um jovem chamado Rafael. Ele era encantador e, ao contrário de Gabriel, parecia ser a escolha perfeita para os pais de Clara. O namoro avançou rapidamente, e em três anos, Clara se viu mãe de três filhos. Mas enquanto a vida seguia, o vazio deixado por Gabriel nunca desapareceu.
Quando a firma se despediu da cidade, Clara teve uma decepção repentina. Rafael deixou Clara e os filhos, buscando uma nova vida, longe. Para Clara restou as lembranças que a assombravam. Agora, sozinha com suas crianças, Clara refletia sobre o que poderia ter sido. Os olhares que trocava com Gabriel, mesmo à distância, mantinham uma chama acesa, um desejo latente de recomeçar.
Os anos passaram, mas a conexão entre eles nunca se apagou. Em cada sorriso de seus filhos, Clara via um eco do amor que teve, e em cada pensamento, uma pergunta sobre o que poderia ter acontecido se tivessem lutado juntos. O destino os havia separado, mas a esperança de um reencontro continuava viva, como uma pequena luz em meio à escuridão de suas vidas.
E assim, Clara seguiu, entre a dor e a esperança, vivendo com a lembrança de um amor que poderia ter sido, mas que, de alguma forma, ainda ardia em seus corações.