A DOCE MELODIA
Todos os dias, a caminho do trabalho, ouvia uma voz melodiosa que se erguia pelos ares, igual a uma sinfonia mágica. Uma voz lindíssima que vinha de algum lugar misterioso.
Sempre na mesma rua, sempre na mesma hora, sempre a mesma canção. Tão suave, leve e simples, fazia com que ele esquecesse, por alguns instantes, os problemas do trabalho e em casa.
Com o tempo, foi tomado pelo desejo incontido de descobrir quem era a dona daquela voz.
Tentou descobrir perguntando aos moradores daquela rua, mas nenhum deles foi capaz de responder à sua pergunta. Ninguém ouvira nada, disseram a ele.
Seria louco então!? Só ele era capaz de ouvir aquela melodia?
Passaram-se alguns anos e a música sempre estava presente quando ele ia para o trabalho.
Colocou um anúncio no jornal, pagando para que a dona da voz se identificasse.
Muitos apareceram, porém, não eram donos daquela voz que cantava a doce melodia.
Certo dia, não a ouviu mais. A voz havia se silenciado.
Passou várias vezes na mesma rua e nunca mais ouviu a canção.
Com o tempo, esqueceu-a.
Numa tarde, voltando do trabalho, reencontrou um amigo de infância que há anos não via. Mudou-se para aquela rua havia poucos dias. A “rua da melodia”.
Foram até a casa dele.
A esposa do amigo ainda arrumava a casa, quando eles chegaram. Ele a ajudou a colocar algumas caixas na prateleira.
Depois disso, foram para o alpendre, conversar.
No meio da conversa, ela comentou que naquela casa morava uma família e que a filha do casal sofria uma doença incurável que lhe causava dores horríveis. Tinha apenas dezessete anos. Os médicos nada podiam fazer.
Segundo sua mãe, ela passava os dias cantando. Esta era a sua única diversão, que a fazia esquecer, por alguns momentos, a dor que lhe afligia.
Depois que a filha faleceu, se mudaram para o interior.
- Então era ela – pensou consigo.
E a melodia, tanto tempo esquecida, ressoou em sua mente.
2003