Casar? Pra quê?

Ela levantou e começou a se vestir. Ele a olhou sorrindo. Mais uma vez tinha se metido na cama dele depois de prometer mil vezes a si mesma que nunca mais cederia.

—Está rindo de quê?

—Estou bem, feliz.

—Feliz por mais uma vez me levar na conversa?

—Não somos crianças. Aqui ninguém leva ninguém na conversa. Estamos aqui porque queremos, porque nos faz bem.

—O problema é que você só me procura quando me quer na sua cama pra me usar.

—E você só vem porque também me quer. Eu não te uso. Nós nos desfrutamos. É prazer mútuo. Sem essa de dar uma de vitima.

—Precisamos desenrolar. Por que não encontra uma namorada e me deixa em paz?

—Eu posso namorar quem quiser, você pode namorar quem quiser. Mas no final o nosso destino é ficarmos juntos. Isso é amor.

—Amor? Quem ama não desdenha.

—Você já devia me conhecer. Eu sou assim. Não é porque não ligo a toda hora, não mando flores nem fico fazendo declarações melosas que eu não goste de você. O que vivemos nos braços do outro é muito mais importante que essas coisas românticas e ultrapassadas. Você como mulher moderna devia entender isso.

—Mulher moderna também gosta de ser paparicada. Vou embora. Não me procure mais.

Saiu batendo a porta. Já há alguns anos se conheceram e estavam nessa situação. Ele era frio e desligado, mas quando a procurava, ela corria pra seus braços. E naquele dia saiu jurando que não aceitaria nem conversar. Afinal ele sempre a levava na conversa e ela voltava.

Conseguia manter a sua promessa e não atendia suas ligações, evitava encontrá-lo. Mas morria de saudade e de tristeza. A vontade que tinha era de correr e se atirar em seus braços. Ele tentava falar ou encontrar com ela e a cercava como podia. Até que armou para forçar um encontro.

—Até que enfim consigo te encontrar. Pra que esta atitude infantil de fugir de mim e ficar aí morrendo de saudade e vontade?

—E quem disse que estou com saudade ou vontade?

—Não precisa ninguém me dizer, nem mesmo você.

—Você está perdendo seu tempo se pensa que vai me levar na conversa mais uma vez.

—Eu também estou morrendo de saudade e vontade.

—Problema seu.

—Não seja mal criada. Quero conversar sério com você.

—Conheço seu papo sério. Vai me envolvendo e quando vejo já estou na sua cama.

—Você sabe que não sou de rodeios. Vou direto ao ponto. Quer vir viver comigo?

—Como? É mais uma forma de me ganhar?

—É, viver comigo. Dividirmos a casa, as despesas, as tarefas e a cama.

—Está me pedindo em casamento?

—Claro que não. Casamento é coisa ultrapassada.

—Tudo que não cabe em seu mundo é ultrapassado. Pra mim não é.

—Deixa disso. Casar é dar satisfação pra família e sociedade. Somos superiores a isso.

—Eu quero me casar vestida de noiva com toda pompa e circunstância.

—Não me decepcione. Pensei que nem ligasse.

—O que você quer é alguém pra te ajudar nas despesas, nas tarefas e pra levar pra cama sem nem se dar ao trabalho de cantar, não é?

—E isto não é um casamento perfeito? Havendo amor como entre nós, melhor ainda.

—Você é muito cara de pau. E ainda fala de amor.

—Você ainda vai se convencer que o nosso destino é ficarmos juntos e que casamento não tem nada a ver. Casamento não é garantia de nada. Eu prometo ser o melhor dos companheiros, dos amantes, dos amores.

—Você? Nem enquanto quer conquistar dá atenção ou carinho. Imagina depois.

—Depois vamos estar juntos todos os dias. Sem cobranças, sem ficarmos acomodados. Acredito que temos tudo pra dar certo.

—E quando não quiser mais você me dá um pé no traseiro, não é?

—Pra que pensar assim? Pense que vou te querer e te amar todos os dias.

—O melhor é a gente se esquecer, se afastar. Já jurei que não vou cair na sua conversa.

—Mas morre de saudade, não é? Vale a pena?

—Você se acha, não é? Pensa que é o único homem do mundo?

—Pra você eu sou. Como pra mim você é a única mulher do mundo.

—Isto é uma declaração de amor?

—Mesmo você dizendo que sou frio e desligado, sei fazer uma declaração de amor.

Ela ficou balançada, mas se manteve firme. O tempo passava e ela morria de saudade, de vontade de correr e dizer que aceitava o que ele quisesse. Ele a cercava de todas as formas e tentava convencê-la.

Por fim ela disse sim.

Convenceu-se que casamento não é tudo e foi viver um amor moderno com o homem que amava loucamente e por quem perdia a cabeça de tanto amor e vibrantes desejos.

Sem cobranças, mas com confiança.

Compartilhando tudo e somando a vida.

Sem até que a morte os separe…

Enquanto houver amor…

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 08/09/2024
Reeditado em 08/09/2024
Código do texto: T8147109
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.