8010-LA VIE EN ROSE PARA KLINGER E SILVIA - Conto verídico nº 8010 - Por Sílvia Araújo Motta/BH/MG/Brasil
8010-LA VIE EN ROSE PARA KLINGER E SILVIA
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Conto verídico nº 8010
-Por Sílvia Araújo Motta/BH/MG/Brasil
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LA VIE EN ROSE PARA KLINGER E SILVIA
Corria o princípio do mês de junho de 2015. Ao abrir a mensagem eletrônica, meus olhos brilharam mais que os raios de sol. Tratava-se de um convite imperdível, de um amigo virtual com quem eu estava trocando algumas mensagens afetivas, há pouquíssimos dias. Um casal que nos conhecia há muitas décadas, fez-nos a convocação para a festa de formatura dos médicos do Hospital BIOCOR, em Belo Horizonte, Minas Gerais. O nosso amigo, paraninfo dos formandos, abordaria o tema Liderança.
Confirmado nosso comparecimento, logo ao chegar, fomos convidados para ocupar as cadeiras da primeira fila dos convidados de honra. Que surpresa! Logo à frente do palco, vi uma foto enorme de meu companheiro Klinge , ocupando uma parede inteira, pois tratava-se do autor da obra publicada [Pelas Trilhas da Liderança] que estava de mãos dadas comigo e, então, comecei a entender tantos motivos que me levaram àquela festa inigualável.
No dia e hora marcada, lá estávamos os dois, pela primeira vez no encontro real, público. Meu coração pulsava rapidamente, mais que o normal. Considerando um outro aspecto, foi ainda uma experiência estimulante e envolvente, porque naquele local avistei os companheiros que ainda não sabiam do inédito enlace intelectual...
Cada pessoa que eu cumprimentava, ruborizava minhas têmporas! Afinal, eu estava com 65 anos, viúva e aproximava o aniversário natalício de 75 anos de meu Kerido K, viúvo também. Entre nós dois, até aquela noite, dezenas de mensagens diárias foram trocadas durante um mês, via computador, ocultas até dos familiares. Tudo transcorria naturalmente, com respostas apaixonadas e poéticas... Todas as mensagens dele mereciam poemas repentistas, inéditos de minha autoria.
Após a homenagem aos médicos formandos, meu Kerido K foi chamado ao palco e, diante da leitura de seu curriculum vitae, recebeu aplausos do proprietário do Hospital, do palestrante, dos formandos, dos amigos e desconhecidos. Auditório lotado.
O autor Klinger recebeu das mãos da esposa do palestrante uma linda boneca que deveria ser entregue à “pessoa amada”. Fui convidada a subir ao palco e, lentamente, fui tentando equilibrar meus passos que dançaram o compasso do fato inusitado. Seria sonho? Quem diria! A seguir, publicamente, ouvi uma declaração de amor, ao som da música [La Vie En Rose] cantada por Édith Piaf. Ao ouvir a dedicatória, ganhei a boneca. O técnico do som, percebendo minha reação, aumentou o volume da música e o público delirou, levantou-se e não parava de nos aplaudir! Viram um casal de idosos dando seus primeiros passos do amor, que irradiava esperança, comprovando a vontade de recomeçar. [Amor não tem idade] é verdade!
A sinfonia inacabada do espaço que havia em meu coração – durante vinte e sete anos viúva, criando três filhos até a idade adulta – trouxe nuances sutis, ao som da inesquecível melodia cantada pela famosa artista francesa. As notas musicais, tão bem colocadas na pauta da clave, afinavam nossos olhares, pensamentos e até nossas cordas vocais, que cantarolavam baixinho, durante o forte abraço, entre lágrimas, publicamente. Meus cílios postiços até soltaram a cola da pálpebra. O fundo musical trouxe luzes apagando, acendendo no palco e no teto inteiro com estrelas dançando, entre quatrocentas pessoas, mostrou-me solfejos raros, perfeitos para o amor que galgava lentamente as escadas da trilha de nossa terceira idade. Seria uma boa colheita? Sei que plantei muitas notas musicais desde a infância, nos saraus familiares, nos corais da igreja, nos casamentos, celebrações de aniversários, festas cívicas, religiosas e escolares.
Ganhei a BONECA VESTIDA DE SOL, com roupinha amarela, babadinhos de renda francesa, laço dourado perfeito, de seda, amarrado à cintura... Que lindo rostinho! Parecia usar batom da cor rosa. Usava um chapéu à moda antiga, cheio de detalhes dourados. Os sapatinhos branquinhos mostravam a alvura de suas pernas, usando meias brancas. As mãozinhas, tão perfeitas, pareciam querer meu abraço e meu colo!
Lágrimas quentes desceram sem autorização, em minha face rosada. A corrente sanguínea calhou e uniu nossa encruzilhada vivencial, tão divergente.
Eu, viúva, professora, pedagoga, extrovertida, festiva, carinhosa, cantora-soprano, violonista-seresteira, escritora trilíngue, artista plástica, poetisa e meu namorado recente, viúvo, um militar veterano, sério, por causa da profissão, líder por onde andou, correto, honesto, bom confidente, escritor, acadêmico, orientador e atual Membro Consultor, entre os Coronéis-Veteranos da Polícia Militar de Minas Gerais. Um grande amor cresceu entre nós, que nos faz aceitar um ao outro.
Naquele momento em que me foi oferecida uma boneca pelo inspirador da palestra, senti o arrepio descer pelo corpo. Eu tenho três rapazes. Tenho também, uma enteada-filha, casada. Só me faltava uma “menina” em casa. Jamais esquecerei daquele presente, expressivo ao meu sonho matrimonial.
Durante um mês, continuamos o namoro de idosos bem-comportados, cada um na sua casa...
Passado o trâmite legal de documentação no Cartório, tratamos o jantar para nossa confraternização familiar. Tudo filmado! Tudo documentado! Minha sogra, lúcida, brindou seus oitenta e cinco anos. Entre irmãos, cunhados, filhos, sobrinhos e netos tivemos uma ótima reunião. Levantamos as taças para o tilintar com cristais da boêmia. Naquele mesmo dia, marcamos a data tão esperada e aproveitamos para justificar o nome da Suzaninha. Klinger, meu Kerido K perdeu a filha {SuzAna} que morreu no acidente de carro. Minha avó chamava-se Ana. Minha Mãe, Ana Catarina. A irmã falecida, Ana Maria. A cunhada Ana, casada com Humberto. Até nossa Madrinha chama-se Adriana, a esposa de Norman, o palestrante. Coincidências? Não creio em destino. Confio nos contatos cósmicos-divinais que nos levam ao livre-arbítrio para a missão terrestre.
A Suzaninha fica em lugar de destaque, na sala da nossa residência. É uma excelente recepcionista! Todos que nos visitam gostam de ouvir sua linda história. Temos, perto dela, um aparelho de som com o CD de Édith Giovanna Gassion, conhecida como Édith Piaf, que foi uma consagrada cantora, compositora e atriz francesa. Ela canta para nós e para ninar nossa “linda menina”. Uma vez que fizemos até o batizado, podemos chamá-la Suzaninha. Ao som da música francesa La Vie En Rose, há uma lógica do subsidiário e do focal que corresponde aqui à relação entre as premissas e às conclusões delas derivadas, de uma relação que mostra ter sentido: nossa vida fica perfumada com as rosas que sempre temos em nossas jarras. Esta música tem um grande valor afetivo para mim e para Klinger, meu Kerido K. Nosso amor deixa a vida cor-de-rosa!
Fim
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https://www.recantodasletras.com.br/contos-de-amor/8144177