Máscaras do Destino

Era uma tarde abafada, daquelas em que o sol parecia querer derreter as máscaras e as vidas. Raquel e Robson, que não se viam há vinte e cinco anos, estavam lado a lado na fila da Caixa Econômica Federal, aguardando o atendimento, cada um mergulhado em seus próprios pensamentos, contas, boletos e talvez o benefício por estarem com uma, determinada, dificuldade que alcançou milhões de brasileiros. Em plena pandemia de 2020, as máscaras ocultavam metade de seus rostos, mas não conseguiam esconder as emoções que transbordavam em seus olhos.

Os olhos de Raquel, por trás da máscara, ainda brilhavam com a mesma vivacidade que Robson lembrava. Ele reconheceu aquele olhar, mesmo após tantos anos, mesmo com as marcas do tempo. Havia algo familiar na forma como ela olhava para o mundo, como se buscasse algo que não encontrava.

Robson, também mascarado, sentiu o coração acelerar. Era como se o tempo tivesse parado por um segundo, e todas as lembranças da adolescência voltassem em um turbilhão. Eles haviam se conhecido quando ainda eram crianças, correndo pelas ruas do bairro, sem se importar com o futuro. Namoraram na adolescência, um amor inocente, mas intenso, daqueles que marcam para sempre.

Após se perderem de vista, a vida tomou rumos diferentes. Raquel casou-se com um homem mais velho, que lhe deu dois filhos e uma vida confortável, mas sem o brilho dos sonhos de juventude. Robson, por outro lado, encontrou uma moça mais jovem, com quem teve um filho e construiu uma família. Mas aquele encontro inesperado, ali, na fila do banco, fez com que ambos se perguntassem o que poderia ter sido, se as escolhas tivessem sido diferentes.

Quando Raquel olhou para cima encontrou os olhos de Robson, houve um instante de reconhecimento, seguido por um sorriso que apenas os olhos poderiam transmitir. Por trás das máscaras, as palavras eram desnecessárias; os olhos falaram tudo. O que restava entre eles não era apenas o passado, mas uma conexão que o tempo e a distância não conseguiram apagar.

No coração de cada um, dizia pelos olhos: eu te amei até o tempo dizer que as nossas vidas se separariam e eu te amei desde outrora. Você é isso: a beleza. Desejo boa sorte e conta comigo no que precisar.

Com um aceno, Robson despediu-se. Foi o tchau mais forte e mais longo que já havia feito até aquele dia. A despedida carregava todo o peso das palavras não ditas, dos sentimentos guardados, e da certeza de que aquele reencontro, mesmo breve, marcaria para sempre. Embora o ar de felicidade tudo iria embora  como água que escapa as mãos.

Barbosa Thiago
Enviado por Barbosa Thiago em 21/08/2024
Reeditado em 21/08/2024
Código do texto: T8133963
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