"A Linha da Vida: O Conto de uma Pipa"

A vida é como uma pipa sim... como uma pipa, essas de pedaços de bambu e papel do tipo seda. Eu olho para a minha velhice, penso eu que posso falar pelos velhos de hoje e de outrora, velhos que como eu já tinha visto o andamento das coisas velhacas que se dispõe em aparecer como “grandes acontecimentos”. Velhos, jovens como nós, que não dispensamos quaisquer pensamentos, sobretudo de antigamente e quem tem memória que lembre, mas me vi uma pipa, isso, não hoje, mas a muitos, e que pelo qual sou sobrevivente nas mãos de uma esperança que está para coordenar, isto pois, apesar dessa massa de vento e deste grande templo azul, que preenche os Céus imenso, populoso, ocupado por pombos, andorinhas, raras nuvens do tipo cirrus e com a instigante, enorme força dos raios ultravioletas do sol que se deleitam a testa e que faz-se necessário recobrir com uma das mãos no formato de concha, para diminuir a luz da criação divina, está grande bola de fogo. Porém nada disso me interessa, pois segundo o meu instrutor ou guia, este que me transforma em pássaro alado ele me deu uma vida e então já não enxergava mais nada... só me guiava e dali nada mais lhe importava, hora do almoço, da escola de receber os tios e nada. A primeira responsabilidade de um menino é manter sua pipa no alto, apesar das adversidades. Eu avoei, pois fui cortado das mãos do meu guia e vi no seu rosto o desespero e em nenhum momento este indivíduo quis me dar tchau! Correu com sua lata de ensinamentos, digo linha, esta que me faz estar voando e sem pestanejar e pulou cercas, desvencilhou-se dos carros, bicicletas, pessoas andando distraídas pensando como pagarão determinada conta que fizera, mas não, nunca me perdera de vista. E ele me encontrou num galho de uma mangueira, galho podre, prestes a cair, galho fraco que mal se sustentava, logo pensei que até o meu peso de pipa o derrubaria. Lógico, sou um pássaro tenho vida própria ou poderia ser um morcego, pois depois de um certo tempo adquiri hábitos noturnos. Não! Não mesmo, prefiro eu ser pipa, pois não tenho responsabilidades extras e eu gosto mais é de forçar-me contra o vento e voar longe. A minha mente recordava bem, que depois de amarrar uma pedra na linha o meu guia com muito custo conseguiu me resgatar. Fui cortado não por pássaros, morcegos ou drone, mas por uma pipa igual a mim, esta do tipo carrapeta, com uma maior rabiola, que é uma base de sustentação e beleza da pipa e que tinha umas duas vezes o diâmetro da minha, mas apesar da exuberância a linha dela tinha cerol... espécie de malícia que eu não estava acostumado a lidar, até então. Lembro-me que me segurou, e me levou para a casa e me consertou . Tapou os furos feitos pelos secos ganchinhos da bifurcação do galho podre e refez toda rabiola que foi esmigalhada pela carrapeta e embolada pelo vento, mas nada lhe impediu de fazer uma roupa mais esplendorosa, apesar das emendas de fitas adesivas e de utilizar arroz cozido como cola. Estrategicamente me pôs um pouco de esperteza, digo cerol em partes importantes para aqueles que tentassem me cortar de novo eu tivesse, então, como se defender, mas sempre na minha linha existia uma grande parte pura. Um velho como eu que vi da minha velhice a infância do meu pai. Este que foi um velho na minha juventude que me fez de uma simples pipa um avião, balão ou gavião que não se deixou perder da linha do meu destino. Um dia me vi uma pipa, mas isso camarada é de outros tempos, isso é de velho para velho.

Barbosa Thiago
Enviado por Barbosa Thiago em 09/08/2024
Reeditado em 21/08/2024
Código do texto: T8124821
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