O SACRIFÍCIO
O marido havia perdido o emprego. Todas as tentativas de arrumar outra colocação se revelaram infrutíferas. Cansado, exausto, se entregou ao desespero.
O casal começou a passar necessidades.
O homem, jogado no sofá, olhava para a sua mulher. Tão jovem e tão bonita! Aqueles olhos, outrora reluzentes de vida, estavam agora vazios e opacos.
Ao passar dos dias, a situação se deteriorava.
A mulher, um dia, saiu à tarde, com uma amiga. Só retornaram de madrugada.
Assim que chegou em casa, o marido indagou-lhe onde havia estado. Mas ela desconversou e foram dormir.
No outro, quando abriu a geladeira, viu que a mesma estava cheia, repleta de iguarias.
Sua esposa havia ido ao supermercado e comprado os víveres que estavam faltando à mesa.
Uma dúvida cruel surgiu na cabeça daquele sujeito: como sua mulher conseguiu dinheiro?
Passou o dia todo refletindo sobre o assunto, imerso em teorias e hipóteses. Sentia nascer no peito uma desconfiança que logo medrou para uma terrível certeza. Mas tal conclusão lhe encheu do mais puro horror e ele não quis mais pensar. O que as pessoas pensariam dele, se isto fosse verdade. Resolveu permanecer na ilusão.
Contudo, a dúvida lhe assaltava a alma. Ele, então, tomado pelo desejo ardente de desvendar o mistério, seguiu sua esposa.
E descobriu, atônito, que suas dúvidas tinham fundamento: a mulher vendia o seu corpo, tão belo e tão formoso para quem pagasse mais.
Tomado pelo desespero, viu seu mundo desabar naquele instante.
A esposa, ao descobrir que ele já tinha conhecimento, tentou-lhe explicar que fazia aquilo por que o amava muito, por que queria que ficassem juntos, para garantir o pão de cada dia. Era um tremendo sacrifício – ela sabia – mas jurou que ainda o amava de todo coração. O marido nada disse.
No dia seguinte, bem cedo, enquanto a mulher dormia, arrumou suas coisas e a beijou pela última vez.
Depois, saiu sem saber ao certo para onde iria.
2002