OBSESSÃO
Não a deixava sair de casa. Exercia sobre ela o mais completo controle. Se acaso, precisasse de alguma coisa, ele mesmo providencia, prontamente. Não podia deixá-la ir ao mercado, ao banco, à farmácia ou, até mesmo, à igreja. Outro homem poderia tomá-la dele e tal pensamento lhe enchia de pavor.
Apesar dos protestos de amigos e familiares, não mudava o seu comportamento.
Também não desejava ter filhos: não queria dividir o amor dela com mais ninguém; a queria exclusivamente para si.
Trancou-a numa verdadeira gaiola de ouro. De ouro, mas ainda uma gaiola. A mulher definhava, sofria lentamente.
Sua pele era muito alva, vez que, quase não tomava os raios solares. O ar puro e fresco lhe causava certa náusea. Não conhecia os vizinhos.
Contudo, num certo dia, conseguiu escapar da sua prisão doirada.
Correu, sem destino, pelas ruas da cidade. Anelava, ardentemente, conhecer o mundo, as coisas que havia nele.
Parou numa praça. Sentou-se num banco.
Ouvia, maravilhada, o canto dos pássaros, o estardalhaço das pessoas que iam e viam, o barulho das crianças brincando.
Uma brisa atingiu seu rosto. Sentiu-se alegre. Sentiu-se viva.
Mas, o marido descobriu sua fuga. E, em pouco tempo, a localizou.
A levou, novamente, para casa. Redobrou sua vigilância.
Ela ia ficando cada vez mais fraca e combalida. Olhava para suas joias caríssimas, seus vestidos lindíssimos. Nada valiam para ela. Como desejava trocar tudo por apenas um momento de liberdade!
Decidiu que daria um fim àquele sofrimento.
Numa manhã, o marido abriu a porta e a encontrou estendida no chão, inerte. Estava morta. Havia tomado um veneno letal. Não suportou mais viver em cativeiro, aprisionada, sendo objeto da obsessão doentia daquele homem.
2002