O PRESENTE
Era tomada pelo mais profundo vazio, desde que o marido morreu, vítima de um atropelamento. Não queria mais sair de casa. Passava horas intermináveis na cama, revirando os pertences do falecido. Apesar de ser uma pessoa religiosa, começava a questionar se Deus estava sendo justo com ela.
O tempo ia passando. As amigas tentavam fazê-la sair daquele mundo tétrico e começar uma nova vida. A família tentava fazê-la voltar a razão. Mas tudo redundava em fracasso. Ela cada vez mais se fechava, retraía em seu mundo de recordações e lembranças.
Era como uma árvore morta, sem frutos, ressequida pelo tempo.
Pensava em seu marido, tão gentil, honesto e bondoso, seus planos de terem filhos, de construírem uma casa no campo.
Tudo tão distante e tão perdido.
Certa noite, ouviu um barulho na porta. Assustada, foi ver o que era.
Descobriu uma cesta. Abriu-a e descobriu, admirada, que havia um bebê dentro.
Segurou a criança e sentiu o coração pulsar mais forte. Sentia algo novo e brilhante dentro de si.
Olhou para a folhinha e descobriu que era noite de Natal.
Depois disso, mudou completamente de vida: tornou-se alegre e feliz. Adotou aquela criança, dando-lhe todo amor, carinho e atenção.
Foi, sem dúvida, o melhor presente que poderia ter ganhado, pois fez com que mudasse de vida, encontrando uma nova direção para a mesma e atestando, mais uma vez, que para Deus nada está perdido.
2002