A FILHA
Esperou ansiosamente o nascimento da filha. Quando ela nasceu, sentiu-se o homem mais feliz da face da terra. Considerava-se indigno de tamanho tesouro.
A filha era o centro das atenções do pai. Desde cedo, lhe eram reservados os melhores presentes, em detrimento dos demais irmãos que, enciumados, a evitavam nas brincadeiras e nas escolas.
O pai nunca escondeu que a filha era a sua preferida.
Ela ia crescendo e todos o cumprimentavam pela filha tão bonita que possuía, dotada de uma grande inteligência. Sempre tirava as melhores notas de sua classe. Educada, era objeto de admiração de professores e vizinhos.
Quando completou quinze anos, o pai lhe preparou a maior festa que a cidade já vira.
Não mediu esforços, gastou o que tinha e o que não tinha.
No dia da grande festa, ela estava linda, vestindo um belíssimo vestido branco. O pai encantou-se ao vê-la.
Então, ela apareceu com o namorado, da mesma idade. Desejava apresentá-lo ao pai.
Ao vê-lo, o pai sentiu um estranho sentimento, próximo do ciúme.
- Namorado!? – pensou consigo. Nunca disse coisa alguma!
Se sentiu enganado, uma certa tristeza tomou o seu coração.
Quando viu os dois se beijando, quase foi lá para dar uns socos naquele rapaz. Mas se conteve.
Depois de alguns momentos, a filha veio ao seu encontro e beijou-lhe o rosto.
Agradeceu pela festa e por tudo o que ele fizera por ela.
Lágrimas escorreram na face daquele pai. Ela jamais o esqueceria. Tinha certeza, sentia isso em seu íntimo.
Pois se mantermos preso aquilo que mais amamos, ele perde a vida, dia-a-dia, como uma rosa sufocada numa redoma de vidro.
2002