SEGUNDA-FEIRA
Como um dever sagrado, toda segunda-feira, ia à biblioteca para ler o resumo das novelas que vinham no jornal de domingo. O seu hábito era tão antigo que os funcionários da biblioteca já a conheciam de longe e já separavam o caderno de televisão especialmente para ela.
Sentava-se e punha-se a ler com atenção as letras miúdas do jornal: as sinopses dos capítulos da semana. Quem iria morrer? Será que o galã vai se casar com a mocinha no capítulo de quinta? E o vilão? Vai ser feita a justiça?
Demonstrava suas emoções diante dos desdobramentos da trama novelesca: falava sozinha, batia na mesa, presa de raiva ou alegria.
Passava cerca de uma hora em seu mundo particular, onde tudo era perfeito e tudo acabava bem. Sentia-se feliz e ansiava pela próxima segunda-feira para poder, novamente, entrar em seu mundo encantado.
Tinha trinta e cinco anos e era solteira. Morava na periferia em um quarto alugado.
As novelas eram seu único divertimento. Trabalhava como faxineira e, quando chegava em casa, assistia devotamente às novelas. Era a sua paixão. Seu único refúgio para esquecer um pouco da vida sofrida e da solidão.
Numa segunda-feira, ao procurar pelo caderno de televisão, o bibliotecário lhe informou que o suplemento estava sendo lido por uma outra pessoa.
- Mas como!? – pensou ela. Era sempre a primeira a lê-lo!
Indignada foi saber quem era a pessoa.
Descobriu que era um homem de meia idade que também apreciava muito as novelas que passavam na televisão.
Ela sentiu-se desarmada. Toda aquela fúria havia passado.
Ele pediu que ela se sentasse. Leriam, os dois, o jornal, sugeriu ele. Ela aceitou.
Depois, começaram a conversar. Ele contou que mudou-se a pouco tempo para o bairro e que não perdia um capítulo de sua novela preferida.
Da conversa, começou a nascer uma afinidade e, em algum tempo, transformou-se em amor; namoraram e casaram-se.
Uma história inusitada e com um final feliz. Como em uma novela.
2002