Amor de mãe

Na infância, o maior temor de Laurinha era perder sua mãe. Tinha pesadelos e, por vezes, acordava subitamente na madrugada, atormentada com essa possibilidade. Não suportaria viver sem a proteção materna. Ninguém conseguia confortá-la tão bem nem a abraçar com tanta ternura. Quantas vezes, na escuridão da noite, a mãe a acolhia na própria cama, envolta pelo calor do seu peito, para acalmá-la do medo dos fantasmas.

Nas festas de aniversário, o bolo era preparado pela mãe, que se esforçava para fazer o melhor possível, mesmo sem ter habilidades de confeiteira. Laurinha admirava o glacê cor-de-rosa e os confeitos prateados que faziam a alegria das crianças.

Nas apresentações na escola, a emoção dominava a mãe. Orgulhosa da filha amada, com os olhos marejados, murmurava: "É a criança mais linda da escola", sem perceber as outras mães ao redor admirando seus próprios filhos.

No início da adolescência, ela não queria mais ser chamada de Laurinha. Bastava Laura, dizia a garota. Seu estilo de vestir também mudou, com calças largas e rasgadas, como se quisesse esconder o próprio corpo. As espinhas a incomodavam, afetando sua autoestima. "Mimimi de adolescente", retrucava o irmão mais velho.

A mãe observava atentamente. Os conflitos naturais dessa fase, as inseguranças próprias da idade por não ser mais criança nem adulta, eram acolhidos por ela. Observava as mudanças na filha sem deixar de admirá-las. Não fosse seu amor incondicional, essa teria sido uma fase bem mais complicada. Mas passou, e veio a juventude, com suas descobertas e encantos.

O primeiro amor chegou como brasa que queima dentro do peito, e Laura viveu intensamente essa magia, como se fosse o seu único e eterno amor. Mas, naturalmente, assim como chegou, foi embora sem pedir licença. Laura chorou nos braços da mãe, conselheira que parecia ter o dom de prever o futuro. Dizia que se fosse para ser, seria. Vieram outros amores e outras decepções, mas um dia, prometia a mãe, será especial e, quem sabe, para sempre.

O primeiro emprego de Laura também chegou nessa fase, e lá estava a mãe para orientar os primeiros passos. O que vestir, como se portar, o que dizer na hora da entrevista. E o melhor estava por vir: a comemoração em família e a pizza paga com o primeiro salário de Laura.

Havia um motivo a mais que se comemorar. A aprovação da filha na faculdade. Que orgulho para a mãe! Ao lado da cabeceira da cama, estava a convocação para matrícula e a lista de materiais. Não mediria esforços para comprá-los, custasse o que custasse. Se fosse necessário, faria trabalhos extras e economizaria cada centavo, mas ela teria tudo o que precisasse para os estudos. Quando chegou a formatura, a mãe estava na primeira fila, olhos brilhando e peito estufado de orgulho.

Na faculdade, Laura conheceu o pai de seus filhos. O dia do casamento foi mais que especial. Como não tinha contato próximo com o pai, Laura entrou na igreja de um modo pouco convencional, de braços dados com a mãe, ao som da clássica Marcha Nupcial.

Um ano depois, nasceu o pequeno Miguel, prematuro, pesando menos de dois quilos. Momento difícil, mas passageiro. Em poucos dias, pais e bebê puderam ir para casa e aproveitar essa nova fase da família. A avó materna já os aguardava, com uma canja de galinha quentinha e canjica para aumentar o leite, tradição na família. Para o pequenino, tudo havia sido preparado com o maior esmero e amor. O quarto limpo e arejado tinha sido decorado pelos pais, e as peças mais bonitas do enxoval foram confeccionadas pelas mãos habilidosas da avó.

A criança cresceu com os cuidados dos pais e sob a proteção constante da avó, que não media esforços para ajudar a família. Esse apoio permitiu que Laura voltasse a trabalhar após o período de licença maternidade e completar sua pós-graduação, confiante de que a mãe estaria por perto cuidando de seu filho com o mesmo amor. A avó ia às reuniões da escola quando ela não podia ir, levava o neto ao médico e nas aulas de natação, aconselhava-o e repreendia-o se necessário, mas sempre com amor.

O tempo, que às vezes parece tão lento quando se tem pressa de alcançar algo, também é implacável e, num piscar de olhos, se vão os dias de juventude. Laura se deu conta que estava chegando à meia-idade, filho criado e independente, caminhando com os seus próprios pés. Os anos passaram rápidos demais, pensou Laura. Agora, teria mais tempo para cuidar de si mesma, estava madura o suficiente para assumir suas escolhas e mudar o rumo de sua vida se assim desejasse. Mas, no seu íntimo, sabia que a presença da mãe em sua vida era algo essencial. Sua sabedoria, seus conselhos e o calor de seu abraço eram coisas que ela jamais dispensaria.

As tardes de domingo eram dedicadas às visitas na casa da mãe, juntamente com as irmãs. Laura observava que o peso da idade começava a se mostrar nos ombros da matriarca. Seus cabelos brancos e as marcas em seu rosto deixavam claro que dali em diante as mudanças seriam progressivas.

Aos poucos, Laura viu a figura forte da mãe se transformar em aparente fragilidade. Os olhos antes atentos, agora viam quase tudo nublado, a pele enrugada denunciava uma vida difícil, com pouco tempo para vaidades. As mãos, que tanto ajudaram a aliviar o peso e a dor dos outros, estavam frágeis demais para segurar as panelas que, vez ou outra, caíam no chão. As pernas magras e cansadas não aguentavam sustentar o próprio corpo e, em pouco tempo, precisaram do apoio de uma bengala, depois de um andador, até chegar à cadeira de rodas.

Laura assumiu a inversão de papéis, cuidando daquela que lhe deu a vida. O banho diário, as fraldas geriátricas que passaram a fazer parte do vestuário da mãe, os remédios nas horas certas e a comida feita na medida de sua dieta. O desgaste físico de Laura era inegável, mas de uma coisa ela estava certa: jamais, em tempo algum de sua vida, esteve tão perto da mãe. Uma conexão tão íntima fazia com que o amor entre as duas irradiasse por todos os recantos de suas almas.

Houve épocas em que a mãe sentia medo durante a noite, como uma criança assustada com a escuridão, e Laura dormia com ela, segurando carinhosamente suas mãos. "Estou aqui", pensava. Não precisa ter medo!

Foram anos de cuidados paliativos, cumplicidade, momentos de cansaço e desânimo. Construção de memórias que ficariam para sempre na vida de Laura.

Era um dia ensolarado quando a mãe partiu, deixando em Laura a sensação de sua eterna presença. A cada dia que passa, ela se vê mais parecida com a mãe, não tanto fisicamente, mas no jeito, no modo de agir e de se relacionar. Nas dores e alegrias, sente a presença dela. A saudade das tardes de domingo permanece. O aroma do café fresco coado no afago do pano ainda pode ser sentido. A Ave Maria e o Salmo 91 que a mãe rezava todos os dias, pedindo proteção para a família, ecoam por todos os cantos da casa. Não há como preencher esse vazio, mas é possível compreender o tempo das coisas e dos sentimentos, feitos para durar até a eternidade.

Neusa Maria Cesarino Martins
Enviado por Neusa Maria Cesarino Martins em 25/07/2024
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