O ÚLTIMO ANIVERSÁRIO
Casaram-se na primavera. As flores enfeitavam a igreja no dia da cerimônia. Depois do casamento, houve uma festa na mansão do marido. Ele, um rico e solitário, havia se casado com uma mulher trinta anos mais jovem. A família dele foi totalmente contra.
Muitos comentavam que aquela jovem só estava interessada nos bens dele, interessada em seu dinheiro. Outros, mais conservadores, viam naquela união um tremendo absurdo, pois ele tinha idade para ser pai dela. Mas apesar de tudo e de todos, eles se casaram e tiveram uma luxuosa lua de mel.
Ele um homem já vivido e embrutecido pelas agruras da vida, sentia nela uma força nova que o parecia invadir, tornando o seu espírito mais jovial e alegre.
A juventude da esposa, suas brincadeiras, seu jeito tão gracioso e, até certo ponto, inocente de ser, o enfeitiçavam como se bebesse uma poção mágica. A esposa, por sua vez, sentia naquele homem maduro, a segurança e a confiança que tanto lhe faltavam.
Passaram-se as estações.
Ele tentava acompanhar a vitalidade da esposa, mas sentia o peso dos anos. Sentia que não suportaria por muito tempo.
A jovem mulher começou a lhe parecer distante, perdida qual uma miragem no deserto.
Mas ela nunca o abandonou; sempre esteve presente ao seu lado, cuidando de seus medicamentos, velando seu sono.
Então, uma doença o fez ficar permanentemente na cama. Não podia mais passear com a esposa, de braços dados, pelos jardins e bosques da mansão. Sentia que o fim se aproximava.
Um dia chamou a esposa. Era primavera. Ela veio o mais rápido que pôde. Pediu que segurasse sua mão e lhe dissesse se fora realmente feliz com ele. Ela disse que sim. E, segurando a mão da esposa, morreu.
Exatamente naquele mesmo dia faziam aniversário de casamento.
2001