FRONTEIRA TÊNUE

Trabalhava duro. Todos os dias da semana, sem parar. Fazia hora extra. Tudo para satisfazer sua mulher que cada vez exigia mais.

Ele a amava muito. Amava de uma maneira incomensurável. Seu amor por aquela mulher superava todas as possibilidades imagináveis. Sempre estava disposto a lhe dar qualquer coisa, fosse o que fosse, custasse o que custasse. Por isso trabalhava tanto.

Porém, ela, aos poucos, começou a se desinteressar por ele. Sentia-se entediada. Não possuía a mesma vontade de permanecer ao lado dele, quer fosse em casa ou nos acontecimentos sociais.

Sentia o desejo de sair daquela rotina, de conhecer outras pessoas, outros lugares. Ele não a deixava sair de casa sozinha, com medo de perdê-la.

A situação do casal se deteriorava. Ela ameaçava, todo dia, em ir embora.

Ele se jogava aos seus pés, lhe oferecia as joias mais caras. Aquele amor já não era mais o mesmo para ele. Tornara-se uma doença, cuja única cura era a presença dela. Passou a vigiá-la dia e noite, contratou até um detetive particular. Não queria perdê-la. Não podia perdê-la.

Numa tarde, ela conseguiu escapar de sua vigilância. Quando ele chegou e percebeu que ela não estava mais lá, foi tomado pelo ódio e jurou se vingar.

Arrumou uma arma e a perseguiu pela cidade. Encontrou-a na rodoviária, pronta para embarcar. Aproximou-se e disparou vários tiros, diante de várias pessoas.

Foi preso e condenado.

Sem dúvida, o amor é o sentimento mais nobre que o ser humano pode possuir. Quando se torna doentio e possessivo, causa sofrimento, dor, morte. Transmuta-se em ódio.

Uma fronteira frágil, tênue, separa estes dois sentimentos tão antagônicos.

2001

Hélder Sena de Sousa
Enviado por Hélder Sena de Sousa em 22/07/2024
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