Lágrimas De Pano
Ah! Acordei
Ué, mas está tão escuro
E gelado
Ouço um sussurro
Parece estar vindo do outro lado
É a voz da Ana
Minha dona
Mas onde ela está?
Estou aqui tão sozinha
Presa numa pequena caixinha
Sem ninguém pra brincar
Queria gritar por ela
Chamar o nome dela
Mas.... eu não sei falar
Porque ela me colocou aqui?
Não sei, eu nem vi
Só sei que aqui estou
Sozinha, trancada
Numa caixinha fechada
Será que a Ana me deixou?
Eu não sei de verdade
Mas será que alguém sabe
Me diz por favor
Afinal a gente era tão amiga
Inseparável na vida
Ela sempre me amou
Íamos pra todo lado
Na escola, teatro
Até no museu ela já me levou
Mas acho que eu sei o que aconteceu
O tempo passou e ela me esqueceu
A vida é assim
Tudo tem fim
E o meu já chegou
Naquele instante ela chorou
E ficou espantada
Com o que presenciou
Afinal se uma lágrima seca
Jamais uma boneca
Assim chorou
Seria um total engano?
Um sonho talvez?
Pois foi a primeira vez
Que se viu uma lágrima de pano
E a boneca adormeceu
E nunca mais acordou
A menina cresceu
Mulher se tornou
E a boneca esquecida
Sozinha, sem vida
Por ali ficou
Até que um dia
Enquanto a faxina fazia
Uma moça a encontrou
E quando a caixa, abriu
A moça sorriu
Com o que encontrou
Meu deus é a Teca
Minha antiga boneca
Foi o que ela falou
A moça era Ana
Meu coração não me engana
A boneca acordou
Estava tão alegre
Aos braços entregue
De quem tanto amou
E naquela madrugada
Dormiram abraçadas
Lembrando da infância que já passou
Até hoje a boneca
Está na biblioteca
Ao lado da mesa onde Ana escrevia
E toda noite de tema
Ana escreve poemas
Tendo a sua companhia