O sonho de Braga
No coração do Vale do Paraíba, onde os cafezais se estendiam como um tapete verde e as montanhas abraçavam a cidade de Vassouras, vivia Maria Braga, uma jovem de rara beleza e espírito livre. Filha de um importante fazendeiro, Braga cresceu entre as colinas e o murmúrio dos riachos, desenvolvendo uma profunda conexão com a terra e seus mistérios.
Ela tinha um segredo que guardava com carinho: todas as manhãs, antes do sol nascer, subia até uma colina onde ficava uma pequena capela abandonada. Ali, sentada nos degraus de pedra, lia os poemas de Álvares de Azevedo, sonhando com amores impossíveis e aventuras românticas.
Certo dia, enquanto folheava um livro de poesias, ouviu passos se aproximando. Levantou o olhar e encontrou-se com os olhos de Vicente, um jovem estudante de direito do Rio de Janeiro, que viera passar as férias na fazenda de um tio. Ele, atraído pelo som dos passos suaves e pelo aroma das flores silvestres, subira a colina em busca de inspiração para seus escritos.
Os dois trocaram um olhar que disse mais do que palavras poderiam expressar. Vicente, com seu jeito tímido e sorriso encantador, pediu licença para sentar-se ao lado dela. Conversaram sobre poesia, natureza e seus sonhos, Maria, se sentiu cativada pela sensibilidade do rapaz, e ele, por sua vez, encontrou nela uma musa para seus escritos.
Os encontros na colina tornaram-se um ritual sagrado para ambos. Compartilhavam poemas, segredos e risos, enquanto o sol nascente banhava o vale com luz dourada. No entanto, a realidade logo se impôs: Vicente precisava retornar ao Rio de Janeiro para continuar seus estudos, e Braga sabia que seu pai jamais aprovaria um romance com alguém fora de sua classe social.
Na véspera da partida de Vicente, encontraram-se pela última vez na capela. Em meio a lágrimas e promessas sussurradas, ele entregou a Maria um livro de poesias, com uma dedicatória que dizia: "Para Dona Braga, luz da minha alma, que nossos corações nunca se separem, mesmo que nossos corpos estejam distantes."
Ela guardou o livro como um tesouro, lendo e relendo as palavras de Vicente enquanto os meses se passavam lentamente. Correspondências eram trocadas secretamente, e cada carta trazia um pouco da alma de Vicente para o coração de Braga.
Anos se passaram, e Vicente formou-se em direito, retornando a Vassouras como um homem feito e decidido a lutar pelo amor de Braga. Com a coragem que só o verdadeiro amor pode proporcionar, ele foi até o pai dela e, com eloquência e paixão, pediu sua mão em casamento.
Diante da sinceridade e da força do sentimento de Vicente, o pai de Aurora, um homem duro e pragmático, viu-se comovido. Reconheceu a pureza daquele amor e concedeu sua bênção.
Maria e Vicente casaram-se na pequena capela da colina, testemunhados pelas flores silvestres e pelo sol nascente que havia iluminado seus primeiros encontros. Juntos, construíram uma vida repleta de amor, poesia e sonhos realizados, provando que os amores de Vassouras, como as águas dos riachos que correm eternamente, e podem resistir ao tempo e às adversidades.