A Boneca Celeste

Em um lixão de uma grande cidade, uma menina catadora chamada Magali vasculhava entre montanhas de lixo, buscando algo que pudesse ter algum valor. Em meio aos detritos, encontrou uma boneca suja, descabelada e desbotada, mas com olhos ainda de um azul celestial. Sentiu dó ao vê-la tão abandonada e perguntou:

— Por que jogaram você fora?

Para sua surpresa, a boneca respondeu com uma voz suave e triste:

— Eu fui companheira de uma bondosa garota que sua mãe me comprou e lhe deu de presente. Tivemos uma amizade de 70 anos, vivendo muitos momentos de alegria e de tristeza juntas. Estava com ela na escola enquanto ela aprendia as primeiras letras do alfabeto. Nas noites frias, dormíamos juntinhas, e ela me contava todos os seus segredos. Mandava sua mãe fazer roupas para mim: saias, calças jeans, vestidos rodados e até roupas de banho.

Magali, com os olhos arregalados, continuou ouvindo a boneca.

— Tivemos uma fase difícil quando ela se apaixonou pela primeira vez, aos quinze anos, mas foi comigo que ela desabafou quando a paixão acabou. E jurou nunca mais me abandonar. Quando estava doente, eu estava lá ao seu lado. Quando casou, fez questão de tirar uma linda foto comigo vestida de noiva. Teve duas filhas, e as duas bebês dormiam juntas comigo, mas novas bonecas bem mais moderninhas foram aparecendo, e Júlia e Karine me abandonaram para brincar com as novas bonecas. Tinham vestidos sofisticados, bicicletas e até carros conversíveis. Só a velha amiga dona Paula ainda brincava comigo e cuidava de mim. Que saudade dela...

Magali, com lágrimas nos olhos, perguntou:

— Onde está dona Paula?

— Ela morreu — respondeu a boneca. — Após sua morte, suas filhas me jogaram em uma despensa abandonada e suja no quintal da casa, e lá fiquei por anos. Até que Karine que ainda morava na casa iria se mudar e tudo o que não tinha mais serventia para ela foi jogado fora por Karine. E aqui estou eu. Essa é a morte de uma velha boneca. O sol quente e as noites frias, junto com toda essa sujeira, começarão a me consumir até eu virar pó.

Magali, chorando, disse:

— Nunca tive uma boneca, e como você, sou uma garota só. Qual é o seu nome?

— Celeste, porque meus olhos são bem azuis — respondeu a boneca, com uma faísca de brilho em seus olhos.

— Quer ser minha primeira amiga de verdade, Celeste?

Celeste, sentindo que Magali era um anjo mandado por dona Paula para ampará-la, respondeu:

— Sim, aceito a amizade, porque sinto que você foi enviada por dona Paula para me dar amor, não com luxo ou status, mas com verdadeiro carinho.

A partir daquele momento, Magali e Celeste tornaram-se inseparáveis, compartilhando uma amizade que transcendeu o tempo e as dificuldades, mostrando que o amor e o carinho podem florescer mesmo nos lugares mais improváveis.

Alexandre Tito
Enviado por Alexandre Tito em 13/07/2024
Reeditado em 15/07/2024
Código do texto: T8106244
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