MAGNÓLIA
Certo dia um homem caminhava tranquilamente por uma estrada. Com sede, parou em frente a uma casa para pedir água. Ainda era um jovem, mas carregava uma sabedoria atípica a muitos jovens de sua idade. Não estava mal vestido. Suas roupas ainda estavam em bom estado e seu corpo não fedia. Não demorou muito abrir a porta uma mulher que aparentava uma certa idade, calejada, mas que, apesar das rugas e linhas de expressão, tinha traços finos e singelos que remetiam ao que um dia fora uma bela e doce jovem.
Apesar de sua difícil situação, o jovem transparecia sublime serenidade e amor em seu simples olhar, que desmanchava qualquer coração duro. Estendeu a mão a ela.
- Prazer, sou Carlo.
- Prazer, Magnólia.
Os dois se detiveram, contemplativos, por um instante, em seus olhares penetrantes. Os olhos flamejantes de Magnólia eram capazes de desnudar a alma de qualquer um. Só não esperava desnudar uma alma já nua.
- Ah, o que eu queria dizer... poderia me dar um pouco de água?
- Claro! Sim! Já volto com sua água. Um minuto...
Magnólia foi pegar a água com a imagem viva de Carlo na mente. Aquela face branca, meio rosada, nariz afilado, nem muito fino nem muito achatado, a boca também, simétrica. Mas o que mais chamou sua atenção foi uma veia em um lado da testa. Esse era o toque final que deixava Carlo realmente magnífico. Enquanto ela não voltava com a água, ele teve a ideia de explicar sua situação, se abrir para ela, já que, mesmo tendo tido só um breve e simples momento e poucas palavras com a mulher, sentia que ela também não tinha amarras, nenhuma máscara ou escudo, ao menos para com ele.
Magnólia convidou-o a entrar, coisa que só fez, obviamente, porque realmente gostou de Carlo. O rapaz acabou por não falar nada sobre sua situação, que nem ele mesmo mais sabia. Às vezes, por um segundo, tinha as palavras certas, mas logo as perdia em meio à simples realidade do momento presente.
Magnólia era uma bela mulher. Ela sentou-se e cruzou as pernas. Tinha ao lado uma garrafa e uma taça de vinho, que havia acabado de abrir, antes de Carlo aparecer. Ofereceu a ele, que aceitou, e começaram a conversar. Seus olhos transbordavam vivacidade e curiosidade um pelo outro.
Mas Carlo não desejava saber nada sobre a vida de Magnólia, do mesmo modo que não queria pensar nem falar da sua própria. Talvez não quisesse correr o risco de se aborrecer ao saber de algum detalhe supérfluo e desagradável. Mas provavelmente nada disso importava àquela altura. Para ele tudo isso não existia, era produto da vaidade e megalomania humana; informações superficiais que dizem pouco ou nada sobre alguém, enquanto a verdade, algo bem mais simples e belo, ninguém queria ver.
Enquanto ela emitia palavras mudas a ele, embalado por uma música que não se sabia de onde vinha, aproximou-se do belo rosto da mulher e entrou no fundo de suas pupilas. Seus lábios se tocaram sem nenhum esforço, da mesma maneira se despiram e se deliciaram um com o outro. Depois, ficaram um tempo deitados e foram tomar um banho.
Carlo sentia uma angústia, algo preso na garganta, uma ânsia, vontade de vomitar, porém era só saliva; engasgou, tossiu, seu rosto ficou vermelho por um momento. Magnólia o abraçou com imenso carinho.
Uma volta no parque, brisa fria e um sol que reforçava o contraste e brilho das flores em todo seu esplendor.