Fêmea Fatal,

O fim de semana passou mais rápido que qualquer outro naquele ano. Considerando o tempo como algo relativo à experiência de cada indivíduo, naquele domingo em especial, parecia que Guinevere simplesmente existiu. Ela ficou pensando em como abordar a garota cujo nome nem sabia e se era pior ficar planejando demais. Sentia-se genuinamente insegura, justo quando percebeu que era hora de agir.

Na segunda-feira, o intervalo soou e Guinevere caminhou em direção à sala da garota misteriosa. Na esquina do corredor, viu Arthur, um antigo interesse amoroso. Ele estava com algo entre os dentes, enquanto suas mãos inquietas sacudiam uma pequena caixa de fósforos.

– E aí, Arthur, está fumando erva?

– Não, estou tentando parar – respondeu ele, escondendo a caixa de fósforos no bolso. Guinevere sentou-se ao seu lado e começou a sondar sobre seu amigo, apenas para jogar conversa fora.

– Mas você disse que não era viciado.

– Eu não sou, posso parar a hora que eu quiser. A propósito, você deu uma sumida boa. Sempre achei que fosse má companhia para você, mas acho que você tem me superado – disse Arthur, segurando uma risada.

– Como assim? – ela ainda não entendia.

– O diretor está fazendo um ótimo marketing seu, falou que você foi presa. Todos estão sabendo e estão bem cientes de como devem te evitar.

Guinevere fez uma cara de decepção, enquanto Arthur ainda esperava uma risada genuína.

– Que droga, não queria que fosse assim… – comentou ela baixinho. Arthur quis entender o que havia de errado.

– Tem uma menina da sua sala em quem estou de olho, eu ia me apresentar para ela hoje. Mas parece que o Maurício já cuidou disso por mim.

– Quem?

– Uma baixinha com sardas, que anda com vocês e às vezes com a Emily – explicou Gwen, e Arthur hesitou com um silêncio assustado. Ele se virou para Guinevere e a alertou:

– Gwen, você tem que desistir da Nick agora mesmo. Juro, vai por mim, não é boa ideia se envolver com ela.

Nick seria um apelido para Nicole? Foi a primeira e única coisa em que Guinevere conseguiu pensar.

– Ela é diferente, não é como nós – explicou Arthur, enquanto Guinevere se entretinha com sua nova descoberta. Arthur, que tinha dificuldades para se expressar adequadamente, concluiu:

– Ninguém sabe muito sobre ela, só que é um pouco reservada. Ela tem uma atração massiva, e é difícil lê-la. Pense no amor como objetos celestes. Se você gosta de alguém, é como um planeta orbitando uma estrela. Se envolver com a Nick é comparável a orbitar um buraco negro.

Naquele momento, a própria Nick passou, como se estivesse observando a conversa. Ela olhou diretamente para Guinevere, que, por algum motivo, sentiu um sentimento de assombro semelhante ao medo. A garota tinha baixa estatura, cabelos negros e olhos amendoados, além de um intrigante aspecto infantil em sua expressão. Passou por eles e sumiu em uma direção que somente Guinevere acompanhou com os olhos.

– Você está ferrada, Gwen – Arthur tirou a caixa de fósforos do bolso e acendeu um cigarro.

– Foi mal, Arthur, acho melhor ir lá. Te vejo depois. – Gwen se levantou pronta para ir, mas não sem antes dar um tapa no cigarro do rapaz. – E vê se para com isso, você está ficando com bafo de fumante.